
Trabalho fotojornalístico de Beto Carreira é homenageado no JF Foto 15
Relação entre fotografados e locais escolhidos pela artista são a marca de ‘Passagem’, de Jéssica Ribeiro
Impressionismo de artistas como Claude Monet serviu de inspiração para Sérgio Neumann
Anônimos e famosos foram retratados em ensaio fotográfico de Aelson Amaral
A fotografia passou por avanços consideráveis desde os seus primórdios. Da primeira fotografia de Joseph Nicephore Niepce, no século XIX, num processo trabalhoso que levava horas (e utilizava materiais como chapas de ferro e cobre, vidro, iodo, mercúrio), ao instantâneo dos dias atuais (em que um celular pode compartilhar com o mundo o aqui e agora), imortalizar imagens é ofício, diversão, memória e arte produzida por profissionais e amadores. É deste universo de artífices, curiosos e anônimos que se faz a massa criativa do JF Foto 15, que terá sua abertura nesta sexta-feira, no CCBM. Com 16 exposições que poderão ser conferidas até 7 de setembro, a edição deste ano terá como homenageado o fotógrafo Beto Carreira, que trabalhou na Tribuna e morreu em 1986, aos 27 anos. Além das mostras, o evento tem na agenda intervenções, encontros, palestra, oficinas e exposição de artes visuais, esta última em parceria com o Sesc Juiz de Fora.
Em seu quinto ano, o evento adicionou o “JF” ao nome a fim de ligar definitivamente a cidade ao festival para quem não mora em Juiz de Fora. O JF Foto 15 ficou restrito ao CCBM e às intervenções realizadas em espaços públicos, entre outros motivos, pela atual crise financeira e à greve que mantém fechados o Museu de Arte Murilo Mendes (Mamm) e o Pró-Música. “Com isso, a curadoria preferiu concentrar as exposições em apenas um local, para colocar o CCBM como centro de fruição e convergência”, explica o superintendente da Funalfa, Toninho Dutra, destacando ainda o que considera a principal característica do festival de 2015. “A ajuda dos artistas na realização do evento neste momento de crise foi fundamental. A ideia era fazer algo maior, mas pelo menos temos a reafirmação do JF Foto 15 como evento aceito pela sociedade e artistas, que vai se tornando uma tradição, crescendo em respeitabilidade e procura do público”, completa.
Vida breve, arte eterna
Para este ano, a curadoria escolheu como fotógrafo homenageado Beto Carreira. Nascido Carlos Alberto Duarte Carreira em 1959, ele demonstrou interesse pela fotografia ainda na adolescência e logo adquiriu seu equipamento, trabalhando inicialmente com o fotógrafo Flávio Manfrói e, posteriormente, na Tribuna. Além do fotojornalismo, Carreira era conhecido pelos registros de anônimos e cenas rurais. Sua morte, aos 27 anos, abreviou a carreira promissora, mas ficaram com a família mais de três mil imagens, a maioria em preto e branco, das quais foram escolhidas as obras para a exposição. O público poderá conferir fotografias que imortalizaram pessoas anônimas, manifestações políticas, a pobreza urbana, eventos culturais, a revolta punk, momentos bucólicos, entre outros. “Desde o Foto 11, revezamos entre as homenagens em vida e pós-morte, relembrando trabalhos feitos na cidade com personalidade. Carreira é uma pessoa que merece ser conhecida, pois as gerações mais recentes não tiveram contato com essa obra importante para o fotojornalismo”, diz Toninho.
Do local ao nacional
O festival terá ainda outras 15 exposições, sendo oito de artistas locais e mais quatro coletivas. Da produção locais, quatro foram selecionadas para o IV Prêmio Funalfa de Fotografia, reunindo uma pluralidade de estilos, visões e formas de criação. “Anônimos + Famosos”, de Aelson Amaral, concentra-se no portrait (retrato puro e simples) e apresenta 16 fotografias de pessoas conhecidas ou não de Juiz de Fora, partindo para a conversão das imagens para o preto e branco e buscando conceitualizar personagens da vivência cotidiana. A partir de autorretratos feitos com a câmera de seu celular, Carolina Cerqueira foi escolhida por “Dessemelhança construída”, em que ela mescla seu rosto ao de mulheres e homens de várias idades e etnias, criando uma artificialidade intencional que gera diversas reflexões.
Em “Foto fragrante”, o Coletivo C5 busca a sinestesia entre os sentidos do olfato e visão em busca da arte em seu sentido pleno, confrontando o banal e efêmero na fotografia digital diária. A exposições reúne trabalhos de Davyd Azevedo, Nayse Ribeiro, Rodrigo Souza, Janaina Morais e Brenda Marques, captando imagens com percepções distintas. “Passagem”, de Jéssica Ribeiro, fotografou cinco pessoas em pontos diferentes de Juiz de Fora, que, de alguma forma, afetam a artista. Tentando fazer uma relação entre as personalidades dos fotografados e os cenários escolhidos, Jéssica convidou a escritora Analu Pitta a criar crônicas a partir das imagens.
Por fim, Sérgio Neumann trouxe da obra de Claude Monet a inspiração para “Impressione”, tentativa de união das artes plásticas com a fotografia – o que justifica, segundo ele, a escolha de telas de linho para a impressão das fotografias, num trabalho de fusão entre as expressões artísticas. Outras exposições que poderão ser vistas no CCBM são “A primeira vez que entendi do mundo” (Paula Duarte), “#minhajanelaminha” (Ana Rodrigues), “Postal de domingo: Em casa” (O Escambal), “Sopro de vida” (Gal Oliveira), “Mei-Kumren Kayapó” (Alice Kohler) e “Janela do Fabiano” (Fabiano Cafure), além das coletivas “Coletiva Coletivo”, “O retrato fotográfico”, “Escrita sobre o corpo” e “#JFpramim”, que reuniu mais de 900 imagens e textos nas redes sociais para comemorar os 165 anos da cidade e terá parte do material novamente exibido. “O #JFpramim é um projeto aprovado pela Lei Murilo Mendes que participou do Corredor Cultural, em maio, e os organizadores foram convidados a integrar o JF Foto 15”, destaca Toninho Dutra.
Arte em espaço aberto
O JF Foto 15 também vai para os espaços públicos da cidade por meio de intervenções urbanas. Neste sábado, a partir das 10h, o coletivo de fotografia O Escambal, do Rio de Janeiro, estará na praça João Pessoa (em frente ao Cine-Theatro Central) com três intervenções. “Fotografia mais leve que o ar” vai distribuir fotos penduradas em balões, com 120 imagens de artistas de todo o país que enviaram seus materiais para o coletivo. Em “Paisagens alteradas”, o público poderá interferir nas obras expostas, utilizando lápis coloridos ou de cera, guache e pincéis, entre outros materiais, alterando as imagens de acordo com sua idealização dos lugares retratados. Já “O estendal: Água” será um varal de fotografias cujo tema é “água”, com o objetivo de levar “imagens pensantes” a quem passar pelo local. Em caso de chuva, as intervenções serão levadas para o corredor da Biblioteca Municipal Murilo Mendes. Tanto “Paisagem alterada” quanto “O estendal: Água” poderão também ser conferidas neste domingo, às 10h, no Parque da Lajinha.
JF FOTO 15
Abertura nesta sexta-feira, às 20h. Visitação de terça a sexta-feira, das 9h às 21h, sábados e domingos das 10h às 18h. Até 7 de setembro
CCBM
(Avenida Getúlio Vargas 200)
Intervenções do
coletivo O Escambal
Neste sábado, 8, às 10h, em frente ao Central, e domingo, 9, às 10h, no Parque da Lajinha