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Pife Muderno, de Carlos Malta, faz seu 1° show em Juiz de Fora

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Carlos Malta e Pife Élcio Paraíso
Andrea Ernest Dias e Carlos Malta são dois dos integrantes do Pife Muderno, grupo que ajuda a manter viva uma das mais tradicionais expressões musicais do Nordeste. Foto: Érico Paraíso/divulgação
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“Juiz de Fora vai ficar completamente por dentro com o Show do Pife Muderno.” É neste pique e bom humor que o flautista, arranjador e compositor Carlos Malta chama o público para o show da Pife Muderno, que acontece neste sábado (8), às 21h, no Parque Halfeld, dentro do projeto Música nas Praças. A banda, formada há 25 anos, conta com músicos experientes como Andrea Ernest Dias (flauta), Bernardo Aguiar (pandeiro), Durval Pereira (zabumba) e Oscar Bolão (caixa e pratos). O repertório inclui composições da própria banda e também versões instrumentais para “Esperando na janela”, “Qui nem giló”, “Pipoca moderna”, “Asa branca”, “Chiclete com banana” entre outras.

Segundo Carlos Malta, esta será a primeira apresentação do Pife Muderno em Juiz de Fora, e vontade não falta para animar o público. “É um grupo que toca junto há quase 25 anos, com muita bagagem individual e coletiva, que já rodou o mundo. Podem esperar um show de nível internacional, com um repertório que dá orgulho de ser brasileiro, com fontes na música nordestina, no samba, no choro, ainda mais num momento em que estamos tão feridos”, diz ele, vendendo (bem) o seu peixe.

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Ainda falando da apresentação deste sábado, Carlos ressalta o entrosamento existente entre os integrantes do grupo, o que é promessa de uma apresentação única para quem estiver no Parque Halfeld. “Um show do Pife Muderno nunca é igual ao outro. O repertório pode ser o mesmo, mas a maneira de tocar é sempre diferente devido ao nosso entrosamento. Há músicas que fazemos na hora; tocamos uma composição já conhecida, aí vem uma melodia… Em Belo Horizonte, terminamos o show no meio do público com uma música feita ali na hora, com as pessoas cantando conosco. É um momento de comunhão do público com os artistas.”

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“E podemos considerar essa apresentação como um restart para a segunda metade do ano”, continua. “O show será num dia 8, que é um número especial por representar o infinito. Chegaremos com uma energia especial, a fim de propagar o amor, a harmonia e paz que o país precisa.”

Paixão que surgiu em um ‘Expresso’

O Pife Muderno surgiu no início da década de 90 no Rio de Janeiro, reunindo vários artistas dispostos a divulgar a tradição das bandas de pífano tão comuns no Nordeste, tendo realizado inúmeros shows desde então pelo país e no exterior. Além disso, o grupo tem três álbuns gravados, dois em estúdio e um que reproduz a apresentação em uma sala de concertos em Pequim, na China. Toda essa trajetória é fruto de dois eventos que marcaram a vida de Carlos Malta, uma delas remetendo a mais de 40 anos.

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“Em 1972, quando tinha 12 anos, meu irmão chegou em casa com o ‘Expresso 2222’, do Gilberto Gil, aí coloco o disco para tocar, e a primeira faixa era instrumental, executada por uma banda de pífanos. Eu fiquei louco. Estava acostumado com o Gil de ‘Louvação’, e aí ele me aparece com ‘Pipoca moderna’, ‘Chiclete com banana’, ‘O canto da ema’, era um álbum tropicalista, com essas influências todas”, relembra.

“Sempre gostei de música brasileira, bossa nova, Elis Regina, Jair Rodrigues, mas também tocava Jethro Tull, Focus, Pink Floyd (bandas de rock progressivo). Eu já tinha dois pífanos, mas foi com o ‘Expresso 2222’ que passei a entender o instrumento e nasci para a nossa música. Fui pesquisar sobre pífanos na enciclopédia, descobri Mestre Vitalino, Quinteto Violado, a Banda de Pífanos de Caruaru, e fiquei viajando nesse universo.”

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O outro evento foi um revés sofrido pouco depois de sair da banda que acompanha Hermeto Pascoal: ele teve todos os instrumentos de metal furtados, e apenas os pífanos não foram levados. “Foi então que eu pensei em começar tudo de novo, desta vez com uma banda de pífanos, e resolvi criar a Pife Muderno. Este foi o presente que o ladrão me deu: a criação de uma banda, que está aí até hoje e com pessoas que tinham a mesma vontade.

Com o limão que ele deixou, eu fiz uma caipirinha (risos)”, afirma o músico, que ainda teve a sorte de encontrar os instrumentos furtados três meses depois. “Temos que encarar a vida com otimismo. Nesse período, pude refazer meus contatos com o pessoal do meio musical, que foi muito solidário e deixava instrumentos emprestados.”

Levando o pífano para o mundo

Carlos Malta e o Pife já rodaram todo o país e boa parte do mundo, levando a tradição do som Nordestino, incluindo casas de shows famosas em cidades como Paris, Nova York, New Orleans e Pequim, local da gravação do álbum ao vivo. “Tocamos em salas importantíssimas de concertos, praças, clubes de jazz; com e sem sistema de som… Temos a alma brincante do tocador de rua, mas também a sofisticação da sala de concerto, com orquestras sinfônicas. É lindo ver a reação do público como no caso do chinês, que foi se soltando à medida que o show acontecia. O Pife Muderno é um frasco que tem o som do Brasil concentrado.”

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Dessa forma, o Pife Muderno vai ajudando a divulgar e manter viva a tradição das bandas de pífano, que vão se disseminando pelo Brasil afora. “A tradição dessas bandas está cada vez mais forte e se espalhando pelo Brasil. Houve recentemente um encontro de bandas de pífano em Brasília com gente do Nordeste, Sudeste, Sul, e é emocionante ver o Seu Sebastião, da Banda de Pífanos de Caruaru, tocando aos 98 anos como vimos nesse encontro”, relata. “É uma beleza porque cada lugar faz sua leitura da banda de pífano.”

Além da banda, Carlos Malta também ajuda a divulgar as bandas de pífano por meio de outras mídias. Lançado em 2015 e dirigido por Beth Formaggini, o documentário “Xingu Cariri Caruaru Carioca” foi uma ideia que o músico sugeriu à diretora e que resultou numa produção com os mestres de pífanos de diversas partes do país. “Ganhamos vários prêmios em festivais do Brasil e no exterior. É um poema em forma de filme, em que vou até esses lugares, converso com esses músicos e mostro a renovação dessa cultura. É lindo ver que o pífano deu tudo que eles têm hoje, a terra, a mulher, uma vida.”

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