Quando você nos recebeu, trazendo uma nova esperança para minha família, nunca imaginei que criaria raízes profundas aqui. O frio era intenso, e isso fez com que nós procurássemos o calor humano, me lembro que juntávamos eu, meus pais e irmãos numa cama de casal, embolados e abraçados para nos esquentarmos. Essa foi a primeira lição que você me ensinou, que o calor humano, principalmente o que vem de sua família, é de vital importância.
Crescer aqui foi um privilégio, pois a sua natureza é tão latente que basta um passeio na beirada do rio para sentir o cheiro do ar puro.
Foi através de você que tive um envolvimento profundo com as artes, de uma forma geral. Recordo com muitas saudades as peças que assisti no Forum da Cultura.
Um dos momentos mais marcantes em nossa relação foi quando tive que me mudar para a capital. Foi impressionante ver como eu havia me tornado um juiz-forano e como isso era evidente no meu sotaque, na minha ingenuidade maliciosa de um menino que veio do interior tentar a sorte.
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Por 12 anos, fiquei fora, a BR-040 passou a ser o meu caminho de volta para casa, até que o desejo de ficar no meu lugar foi tomando conta de mim. De braços abertos, novamente fui acolhido por você, e, por mais que eu não tenha nascido aqui, você me tornou juiz-forano. Para ti, tenho um sonho em particular. Que como sempre foi vanguardista, continue mantendo essa tradição e acolhendo toda a diversidade que existe nesse mundo afora, sei que aqui há espaço para artistas, intelectuais, estudantes, sonhadores e toda forma diferente de expressão e existência. O acolhimento que nos oferta nos protege e nos alegra. Por isso e por muito mais, obrigado Juiz de Fora.
Cleber Miranda
Policial civil