Quando tinha apenas 12 anos, Lara Morais preparou uma lista de coisas para fazer antes de morrer. Um dos itens era escrever um livro. Aos 23, Lara pôde riscá-lo. Porque a escritora e jornalista lançou o compilado de poesias infanto-juvenis independente “Tudo o que eu sei sobre amar é saudade” (109 páginas). A princípio, o projeto era despretensioso. “Um escritor independente fez um arquivo em PDF com os próprios poemas e soltou na internet. Ele não fez a divulgação, nada. Apenas soltou. Essa era a minha ideia inicialmente”, admite. Lara até fez o mesmo. Encaminhou para a amiga de graduação Thais Pifano, uma leitora assídua, “ela lê de tudo, escreve muito bem”. “Perguntei se fazia sentido ou se estava bobo, se eram poesias idiotas”, revela Lara. Mas estava muito bom. Thais, que editou o título e fez o prefácio, então a convenceu a lançar o material, mas como livro. O que era pequeno ficou grande, diz Lara. O título já soma mais de 400 cópias vendidas na Amazon.
O receio de Lara era a exposição. A forma como escreve é autobiográfica, define ela. Inclusive, conta, às vezes sua terapeuta cita algo, e, depois, quando reflete, percebe que já escreveu sobre aquilo. “Por ser um processo de me conhecer, de como eu lido (com as minhas angústias), vejo que as poesias, de certa maneira, geraram identificação com os leitores. As pessoas perceberam que eu escrevo com o meu coração, o que acho que lhes tocou.” O que fez a escritora perder o medo de se expor foi justamente trabalhar em um processo de autoconhecimento e maturidade para lidar consigo mesma. “Enxerguei que, neste momento, eu já estava mais preparada para colocar para fora o meu lado emotivo. Normalmente sou uma pessoa muito engraçada e extrovertida. Apenas quem me conhece mais intimamente sabe que sou emotiva. Esse lado ficava um pouco mais escondido.” Mas Lara percebeu que não havia mais necessidade de ficar com “essa capa de proteção.”
O isolamento durante a pandemia lhe ajudou no processo de autoconhecimento. “Não tem como, as questões acabam batendo muito mais forte. Nos damos de frente com nós mesmos. Não dá para ignorar.” Foi quando Lara percebeu que precisava fazer algo significativo para si mesma. “Me posicionar desta maneira foi algo muito importante.” O livro traz versos sobre términos, o medo da solidão e o recomeço. Ainda que o título “Tudo o que eu sei sobre amar é saudade” seja sugestivo, as poesias não dizem respeito apenas a relacionamentos amorosos. “Também escrevi para amigos, sobre amizade”, pontua a autora. Há ainda histórias inspiradas naquelas contadas por amigos. “Ou algumas inspiradas em músicas. Às vezes, estava escutando, me imaginava naquela situação e escrevia a partir desta inspiração”, acrescenta.
“Tudo o que eu sei sobre amar é saudade” reúne poesias escritas por Lara desde 2015. Parte é inédita, mas a outra já havia sido divulgada pela escritora no perfil do Instagram “Imperfeito Clichê”, que reúne aproximadamente 2.600 seguidores. “O perfil surgiu como um impulso de mostrar o que escrevia para outras pessoas, porque tinha muito medo. Eu já tinha um caderno com as minhas poesias, e uma amiga então ficou me incentivando a criar o perfil.” Mas Lara não divulgava o perfil para as pessoas que conhecia. Tampouco para os amigos. “Não tinha uma periodicidade de publicações. Não tinha nada organizado. Quando dava na telha, simplesmente ia lá e publicava.” No entanto, as poesias de Lara já repercutiam no perfil. “Comecei a perceber que havia muitos comentários. Um casal, que estava brigado, se marcava. Outros pediam para retomar o relacionamento no próprio perfil. Então percebi que estava dando alguma coisa. Isso fez com que eu acreditasse mais no projeto.”
A obra é dividida em quatro capítulos: “Ausência”, “Vazio”, “Encanto” e “Florescer”, com ilustrações de Carolina Evangelista. “O primeiro, ‘Ausência’, é sobre saudade, término”, explica. “‘Vazio’ é mais sobre o medo de amar, de se entregar ao sentimento, prender-se e ficar entre amarras, máscaras. Já ‘Encanto’ é a paixão. São poesias sobre o momento em que você está encantado por outra pessoa, com borboletas no estômago. E, por fim, ‘Florescer’ é o momento de autoconhecimento. O amor por si mesmo.” Mas Lara até teve dúvidas sobre a organização. “Cheguei a pensar em ordenar em fases como ‘se apaixonar’, ‘ficar triste’ e ‘terminar’. Mas não fazia sentido porque o nome do livro fala justamente sobre saudade. Por isso, comecei por ‘Ausência’.” Entretanto, não há uma ordem cronológica de leitura. Lara observa já no sumário que os leitores podem seguir os capítulos conforme o próprio coração.
A edição de estreia é apenas digital. Ainda não há previsão de lançar uma versão impressa. “É um objetivo. Na verdade, nem vou falar objetivo, mas um sonho. É uma vontade que tenho, mas a burocracia me desanima. Se surgir a oportunidade de lançar impresso, vai ser a realização de um sonho.” Porém, caso não haja a alternativa de produzi-lo em grande escala, Lara já pensa em, ao menos, ter uma cópia para si mesma. “Penso em fazer para mim e para alguns amigos que têm interesse. Uma espécie de edição de colecionador (risos). Uma coisa menor.” Para um novo título, material já tem. “Se as pessoas gostaram, pode ser que elas gostem de um outro livro. Depois que lancei, já escrevi coisas novas. Além disso, tenho outros poemas que não entraram, porque não se encaixavam no perfil infanto-juvenil. São poesias mais pesadas, mais adultas.”