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Rock em vermelho

banda capa

(Foto: Felipe Diniz)

BEACH COMBERS AV CHILE POR FELIPE DINIZ
Paulo Emmey, Lucas Leão e Bernar Gomma (Foto: Felipe Diniz)
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Keith Moon, antes de músico profissional do The Who, era da The Beachcombers, grupo de rock e pop de Edimburgo da década de 1960. Atualmente, seu lugar como baterista do The Who está sendo ocupado por Zak Starkey, seu afilhado, cujo pai é Ringo Starr. No último Rock in Rio, em setembro de 2017, a banda foi uma das principais atrações do line up, e, enquanto Zak descansava no hotel Fasano, um trio de rock instrumental carioca, que tradicionalmente apresenta-se nas ruas, chamou a atenção do músico.

Logo no primeiro tema, de frente à praia de Ipanema, ele apareceu na janela e não hesitou em descer para acompanhar de perto. A banda brasileira, com nome de Beach Combers, formada pelo guitarrista Bernar Gomma, o baixista Paulo Emmery e Lucas Leão, que cedeu sua bateria e trocou jaquetas com Zak, acabava de viver um momento histórico para o trio, tudo isso por entregarem suas músicas à improbabilidade das ruas.

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A centelha elétrica da ignição do Fusca do baterista é literalmente a chave virando para começarmos a viajar nos temas do mais recente trabalho do trio de rock instrumental Beach Combers. Eles se apresentam em Juiz de Fora, às 19h deste domingo (8), no Museu Ferroviário, onde haverá o lançamento do “Beach attack” (2018), distribuído pela Deck Disc, em formato de CD, LP e fitas cassete, estampando o capricho e cuidado da banda, que toca uniformizada com bermudas e tênis vermelhos, bem como as camisas viajantes feitas pelos próprios membros, que costumam aparecer vestindo músicos mundo afora, como Dave Grohl e Josh Homme.

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A capa deste novo disco, registro do Felipe Diniz, é uma fotografia de Emmery, Leão e Gomma (nesta ordem), andando na Avenida Chile, da cidade do Rio, com seus sobrenomes estampados nas costas, como um time, abraçados na cumplicidade musical que une o trio em um som, que, embora bastante viajante nas melodias surf music tropicais cariocas, sobressaem influências de rock anos 1960 e 1970.

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Poucas notas, mais melodia

A bateria de Lucas Leão é precisa, com um bumbo 24 polegadas marcando cada compasso. Ele é quem puxa a maioria das faixas, assim como imagino que, naturalmente, acontece no ao vivo, especialmente por ser uma banda que compõem deixando brechas para criar improvisos e solos diferentes em cada show. Leão, na maioria das vezes, usa um kit ultra simples: caixa, bumbo, prato de condução e ataque, sem surdo ou tom. Suas viradas e o som com bastante harmônico da sua caixa definem a estética orgânica do Beach Combers, fundido aos ruídos urbanos que foram captados e introduzidos no álbum, como em “Rockstar da Lapa“, faixa gravada por Gabriel Guedes (Pata de Elefante), que é introduzida por um som de sirene.

Há momentos precisos de interlúdios destes áudios que trazem um caráter eletroacústico à proposta do trio, além da ignição do Fusca ligando, captaram e introduziram sons do mar, estrada e bares da Praça XIV. Mas são detalhes que cumprem um papel de criar uma ambiência, porque o que sobressai no “Beach attack” são as melodias de guitarra compostas por Bernar Gomma. “Aparece uma guitarra anos 1960, inspirada no George Harrison, com cada nota em seu devido lugar”, diz Bernar.

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Em coesão com o som de guitarra que busca, ele usa instrumentos nacionais de época, uma Gianninni dos anos 1970, branca, com um pedal “Sound” Wah Wah, com bastante efeito de distorção, reverb, e um “Tremolo”, que ajuda a chegar em um som vintage. “É como se eu fosse o vocal do trio, só que cantando pelas melodias de guitarra.”

Paulo Emmery é o nome da nova formação Beach Comber. Há dois anos no trio, ele utiliza um baixo de luthier handmade, é multi-instrumentista (inclusive, guitarrista da banda carioca Aura) e tem todas as notas em sua cabeça. “Ele é bem mais novo que eu, é sobrinho do meu luthier, começou a ir a nossos shows e já sabia tocar todas as músicas”, conta Bernar sobre a entrada de Emmery e o tanto que ele vem contribuindo musicalmente para o trio por sua tamanha distinção enquanto músico.

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O “Beach attak” foi gravado no Estúdio Cantos do Trilho, completamente ao vivo, com áudio captado por Pedro Garcia, também responsável pelas etapas de mixagem e masterização. Bernar até pensou em acrescentar mais camadas de guitarras nas sessões de overdub, mas ao fazer a audição do ao vivo, em estúdio, percebeu que tinham chegado exatamente ao som que queriam, aquele apresentado da mesma forma, dinâmica e intensidade como é feito nas ruas.

“No estúdio tinha à nossa disposição os amplificadores Fender Twin Reverb e um Mesa Boogie Valvulado, fomos testando e acabei decidindo pelo o meu próprio Giannini, o mesmo que uso nos shows que fazemos na rua”, descreve Bernar, relembrando os momentos das gravações, que foram tão fluidos quanto às milhares de apresentações à beira da praia. Recentemente, reforçando a admiração que têm pelo rock britânico do The Who, e também por terem seu som encorpado por uma “cozinha” – bateria e baixo que se destacam -, os Beach Combers gravaram uma versão para “I can see for miles”, que saiu na coletânea “O verão do amor”, organizada pelo blog Cansei do Mainstream.

O restante, apenas a experiência do ao vivo pode continuar a soar com força em nossos ouvidos, certamente um show com três figuras do rock independente brasileiro entregues à performance e à vastidão musical diante do rock instrumental.

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Registro do show de lançamento do  “Beach Attack”  no Circo Voador (RJ)

Beach Combers
Neste domingo (8), às 19h, na Feira de Discos, que acontece das 13h às 21h no Museu Ferroviário (Avenida Brasil 2.001)

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