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A poesia do carioca Lucas Viriato em Juiz de Fora

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Lançamento dos livros “Nepal legal” e “Índia derradeira”, de Lucas Viriato (Foto: Divulgação)
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A mala chegou bem à Kathmandu. O poeta, porém, foi extraviado pela companhia, perdido pelo caminho. Entre a bem-humorada confabulação e uma análise fina e precisa sobre o ir e vir, o poeta carioca Lucas Viriato constrói dois relatos poéticos de viagens, “Nepal legal” e “Índia derradeira” (OrganoGrama Livros), ambos com lançamento nesta sexta-feira, 7, das 16h às 20h, na juiz-forana Bartlebee Pães e Livros. Resultados amadurecidos de viagens do escritor, os livros falam do outro na tentativa de falar de si. Referem-se ao Oriente para retratar, com delicadeza, o Ocidente em suas peculiaridades e contradições. “Acho que o que está em jogo o tempo todo ao longo dos livros é este olhar para o outro, esta percepção da diferença que, no fundo, acaba situando a nós mesmos. Pela potência dos encontros descobrimos que o outro não é tão outro assim, e nem nós somos como pensávamos ser”, pontua Viriato, um dos mais potentes criadores e agitadores culturais do Brasil.

Organizador da importante “Poesia agora”, última exposição a ocupar o Museu da Língua Portuguesa, antes de um incêndio tomar-lhe o funcionamento (e atualmente em cartaz em Fortaleza), Viriato é fundador e editor do jornal literário “Plástico Bolha”, que em 2016 completou uma década de existência. Autor de sete obras, entre poesias e contos, e organizador de duas coletâneas, o poeta é um dos selecionados por Adriana Calcanhotto a ocupar a recente antologia “É agora como nunca”, na qual ela cartografa a poesia contemporânea brasileira. Doutorando em literatura e professor na Puc-Rio, Viriato possui o conhecimento mas não faz de sua escrita um tratado teórico, ainda que proponha caminhos para uma compreensão muito precisa da poesia hoje.

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“Seus relatos espirituais espirituosos,/ que no vício de narrar só se refinam e se apuram/ numa cartografia que tão bem retrata esse mundo querido pirado”, pontua o poeta Chacal, em texto para “Nepal legal”. Dono de uma voz original, Viriato confirma, com as duas obras, sua força para agitar e também agitar-se. Compostos por 108 fragmentos, ambos os livros retratam cenas, descrevem sensações e reforçam a disparidade entre as culturas ocidentais e orientais. “A vaca vagueia/ inverte a mão da estrada/ desrespeita os limites/ da propriedade privada”, anuncia o poema “vaca-lume”, de “Índia derradeira”, finalizando, o autor, com a constatação de que a vaca “se faz de louca para ser livre/ mas no fundo digere o mundo”.

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“Creio que a dicção, o tom, é o grande lance da escrita. Não é o que eu vivi na viagem que importa, nem as coisas fantásticas que vi por lá, e nem os perrengues por que passei, mas sim o “como” tudo isso é contado, como tudo isso é transmutado em linguagem. Após retornar da viagem, no início de 2013, estava decidido a escrever sobre a viagem, mas não encontrava justamente o tom, a dicção. Foi só no início de 2014, um ano após os eventos narrados, que finalmente algo se alinhou e o tom para a narrativa poética se estabeleceu. Então os poemas surgiram fáceis, fragmentos após fragmento, pois quando se acha o tom, a porteira está aberta”, afirma Viriato, figura presente e influente na cena poética de Juiz de Fora, ao publicar autores locais e participar de eventos como o Eco -Performances Poéticas.

Poesia solar

Para a professora do departamento de letras da Puc-Rio Helena Martins, Viriato alcança um Oriente profundo, pautado não na contraposição com o Ocidente, mas em sua trivialidade mais poética. “Todo mundo sabe que não tem como lá deixar de ser aqui. Mas o bom é quando surge alguma promessa de perigar os protocolos do corpo, acender as sensibilidades dormentes da língua-mãe, desafiar hábitos que de tão cegos nem se parecem mais com o que são: hábitos”, escreve a pesquisadora, em posfácio das obras.

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Segundo o escritor, a ideia da viagem, sobretudo num sentido alegórico, é o que transpassa a criação. “A inspiração é a aventura da viagem, a descoberta, o desconhecido. Sair em busca do que ainda pode ser exótico em um mundo cada vez mais padronizado e tentar transformar estas experiências tão pessoais em poemas para os demais. Ao escrever, me sinto recriando a viagem, mas de um modo ainda mais interessante do que a própria viagem em si”, diz, acenando para o sorriso que brota de seus diários poéticos de viagens. “O que importa é que, no final das contas, como diria Oswald, a alegria é a prova dos nove. E a tristeza é só a alegria invertida.”

Nesta sexta-feira, 7, das 16h às 20h, na Bartlebee Pães e Livros – Rua Antônio Altaf, 460 – Cascatinha

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