Ícone do site Tribuna de Minas

‘Quantas’: Julia Ciampi realiza sua primeira exposição individual

quantas julia Ciampi 2
As 17 obras que compõem a série ‘Quantas’, como afirma Júlia, são fruto de sucessivos recortes de um mesmo “erro” (Foto: Julia Ciampi)
PUBLICIDADE

“Quantas imagens cabem dentro de uma mesma imagem?” É com esse questionamento que Julia Ciampi faz sua estreia e inaugura, nesta quinta-feira (7), a exposição “Quantas”, sua primeira individual, que fica disponível para visitação até o dia 21 deste mês, na Galeria Guaçui, no Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Ela apresenta seus trabalhos produzidos ao longo dos últimos três anos, sobretudo fotografias, que são o tema de sua pesquisa. Além disso, reúne uma série inédita de esculturas feitas em parceria com Tiago Lima, que exploram as possibilidades das paisagens. A abertura acontece a partir das 18h. Nos outros dias, as visitas podem acontecer das 10h às 20h.

Apesar de estrear uma exposição, Júlia confessa que ainda está nesse processo de se entender enquanto artista. Esse começo, no caso, dá margem para pensar nas infinidades de coisas que ainda vão acontecer, sobretudo as artes que vão surgir com o tempo, até as próximas exposições. Mas fato é que o interesse pela fotografia surgiu mesmo ao longo da graduação, no IAD. As aulas de fotografia fazem parte da grade curricular, mas ela sempre teve o costume de fotografar com o próprio celular. “Aos poucos fui entendendo como aquela mídia funcionava enquanto imagem e aquilo que eu enxergava como interessante.” Mas o que a atraia mesmo era o analógico, método com o qual ainda trabalha hoje em dia.

PUBLICIDADE

Além dele, Júlia conta que a cianotipia também é uma técnica bastante presente em seu trabalho. Ela consiste em uma técnica feita à mão que revela as imagens de maneira monocromática, ou, como ela chama, “uma fotografia por contato”. A partir desses trabalhos, que constroem, inclusive, uma narrativa, o processo de ter a ideia de fazer uma exposição foi natural. “Primeiro, pelo desejo de expor e, segundo, por enxergar no trabalho desenvolvido ao longo dos últimos três anos um conjunto coerente”. Para viabilizar a exposição, Júlia propôs o projeto no edital Murilão, do Programa Cultural Murilo Mendes e foi contemplada.

PUBLICIDADE

Júlia conta que a série “Quantas”, que deu origem à exposição, surgiu de um exercício, que parte muito da pergunta “quantas imagens cabem dentro de uma mesma imagem?”. “Partindo do princípio que uma foto pode ser definida enquanto enquadramento, ou seja, pelo recorte de uma realidade – costumo dizer que uma foto diz mais pelo o que está fora do quadro do que dentro dele, por essa escolha – então, quantos recortes cabem dentro de um mesmo recorte?”, questiona.

Com essa indagação, se pôs, então, a fazer o exercício. Ela se apropriaria de uma imagem fotográfica do arquivo nacional, mas não iria escolher exatamente a imagem. “Não me interessava o que ela retrata ou a narrativa vinculada ao registro, me interessava a imagem”, justifica. Ela simplesmente pegou a primeira foto que apareceu. “Me encontrei com uma imagem, que na verdade, se trata de um erro: a sobreposição de dois positivos. Um lindo território de trabalho. A partir dela fiz vários recortes, e a cada recorte, uma nova imagem.” O resultado: “As 17 obras que compõem a série ‘Quantas’ são fruto de sucessivos recortes deste mesmo “erro””.

PUBLICIDADE
(Foto: Julia Ciampi)

Trabalho escultório

Com esse trabalho pronto, Júlia realizou uma série de reuniões com outros profissionais para colocar “Quantas” no mundo. Ela enumera: “Entre eles estão as professoras Letícia Bertagna e Edna Rezende, o professor Ricardo Cristofaro, o fotógrafo e impressor Sérgio Neumann, o artista Tiago Lima e o arquiteto Nicolas Crown Guimarães. Tive o enorme prazer também de trabalhar junto ao curador Paulo Gallina, autor do texto expositivo”. As obras já existiam, naquele momento, mas outras coisas foram sendo incorporadas ao projeto expográfico, como as esculturas, que, de acordo com ela, não foram pensadas especificamente para a exposição, mas faziam sentido dentro do conjunto.

A artista conta que essas esculturas são fruto do trabalho desenvolvido com Tiago, com quem divide um ateliê há pelo menos sete anos. Elas partem, sobretudo, de um interesse em comum pela cultura visual da caatinga fluminense e pelos elementos que compõem a paisagem, principalmente nos arredores da cidade de Arraial do Cabo e os 42 quilômetros da costa da Praia Grande. “Buscando uma simplificação formal para aquilo que entendemos desta paisagem. A série inédita apresentada em “Quantas” se dedica ao campo do escultórico a partir de composições de objetos encontrados – sobretudo boias de pesca.”

PUBLICIDADE

A teoria

Mas por trás de todo esse trabalho, existe, além da prática, um estudo que Júlia foi desenvolvendo ao longo dos anos. Uma revisão que é história, ontológica e crítica da fotografia, como ela define. A ela, interessa investigar os limites e as definições dos meios com os quais trabalha, nesse caso, a fotografia. “Afinal, parece banal, mas o que é a fotografia? Até quando é fotografia?”, questiona. Ela se utiliza dos pensamentos do teórico Roland Barthes, quando ele diz: “Seja o que for o que ela dê a ver e qualquer que seja a maneira, uma foto é sempre invisível: não é ela que vemos”. E ela finaliza: “Vemos uma realidade externa a da fotografia, mas não a desta própria. Vemos uma realidade que supostamente o aparato fotográfico é capaz de registrar. Mas o que me interessa é esta invisibilidade, me interessa tornar esta invisibilidade visível. Pois vejamos bem, entre o real e sua imagem reside o abismo. E este abismo me interessa mais”.

Leia mais sobre cultura aqui

Sair da versão mobile