A banda juiz-forana Legrand lançou, na última sexta (4), a primeira parte do seu segundo álbum de estúdio, “1991”, título que já entrega o assunto do volume: o sentimento da geração da década de 1990, que hoje passa pelas complicações que estão nas letras de clara inspiração no emocore (emotional hardcore) que faz a cabeça dos integrantes Cyro Soares (bateria) e Diego Neves (guitarra/voz) e no rock alternativo da banda Smashing Pumpkins. A banda ainda é integrada por Vinícius Fonseca (guitarra/synths), e o álbum foi gravado no estúdio Lado Bê, de Bernardo Merhy, da banda Varanda, com produção assinada pela própria banda e por Luke Mello (Urgent Studio/Querida Faça As Malas).
“1991” é a primeira parte do álbum e mostra a banda mais coesa, madura e consciente, como em recente apresentação no Palco Central, em 2023, quando, ao lado da Varanda, comandaram um desfile de jovens talentos, como Baapz, Alice Santiago e Igor Santos. Os synths do primeiro álbum cederam espaço e protagonismo para as guitarras, o que faz com que o som da banda soe mais coeso e pesado. “Andaraderiva” e “Arritmia” são bons exemplos das experimentações. “Arritmia” ganhou clipe que mostra os integrantes sem saber o que fazer com o tempo ocioso, oprimidos pelas obrigações diárias. “Essas obrigações nos forçam a nos adequar à falta de tempo, então, ainda que a gente queira ficar em casa, aproveitando nosso ócio, a nossa obrigação é trabalhar, é comer o que dá tempo, e nisso a gente negligencia a saúde e vai definhando. Até que a gente já tá extenuado, com olho fundo, semimortos, e entramos em conflito com as obrigações e decidimos fazer o que queremos”, explica o vocalista e guitarrista Diego Neves.
A cozinha, como se chama a dupla de baixo e bateria, mostra que bumbo e cordas graves são mais que o chão que firma o pé dos arranjos. As guitarras de Vinicius e Diego servem paredões distorcidos, modulações e riffs. Na voz, Diego Neves entrega interpretações pungentes, graves, rasgadas. A vida adulta sem perspectiva, as projeções nebulosas do amanhã, a autocrítica, o olhar interessado em enxergar o não óbvio e o abraçar as incongruências da existência são os assuntos do disco. “Falamos das complicações de se viver sendo parte de uma geração que derrapa entre antidepressivos e hiper positividade”, encerra Diego.
Mais lançamentos
“A assembleia extraordinária”, Rod Krieger
Artista gaúcho, hoje radicado no Rio de Janeiro, conhecido por integrar a grande banda de rock Cachorro Grande, Rod Krieger segue sua jornada solo com o lançamento de seu segundo álbum, “A assembleia extraordinária”, no qual faz colagens surrealistas em estilo space rock. Descrito pelo artista como uma obra artesanal, o álbum foi produzido de forma solitária na pequena aldeia de Sobral do Parelhão, no interior de Portugal, onde viveu nos últimos anos, e traz uma narrativa introspectiva e irônica, que também sairá em filme, em parceria com o grande fotógrafo Daryan Dornelles. O álbum tem influências da música portuguesa, de José Cid e Sérgio Godinho a Jorge Palma. Rod toca quase todos os instrumentos do álbum, com exceção do piano e a flauta de “Cai o Sol e sobe a Lua”, por João Nogueira e João Mello, do sitar de “Cabelos longos” e da tampura de “O fluxo das coisas,” ambos por Fabio Kidesh. O filme será revelado no ano que vem, mas já foram divulgados os vídeos de “Cai o Sol e sobe a Lua”, “Este comboio não para em Arroios”, “Cabelos longos” e “Era”. O álbum terá shows de lançamento em Portugal e no Brasil, sendo no Rio de Janeiro, no Audio Rebel em 11 de dezembro, e em São Paulo, no Bar Alto, em 14 de dezembro.
“Harlequin”, Lady Gaga
Lady Gaga lançou álbum surpresa, “Harlequin”, inspirada em Harley Quinn, personagem que interpreta no filme “Coringa: Delírio a Dois” , que estreiou no último dia 3. Este é o primeiro álbum de jazz desde a morte de Tony Bennett, com quem gravou o estilo. Com produção executiva da artista e de Michael Polansky, o trabalho conduz ouvintes por uma jornada que transcende gêneros, ao mesmo tempo em que captura a essência de uma das figuras pop mais icônicas e caóticas. “Harlequin” explora a complexidade emocional e crua de uma mulher que prospera no caos, uma força que não pode ser contida. O disco traz standards clássicos para a era contemporânea. como “World on a string”, “Good morning”, “Get happy”, “Oh, when the saints” , “World on a string” , “If my friends could see me now” e “That’s entertainment” e “The Joker”.
“Sophie”, Sophie
A musicista escocesa Sophie Xeon, conhecida, artisticamente como Sophie, foi uma pioneira em produção musical, conhecida por uma abordagem impetuosa e “hipercinética” da música pop. Ela trabalhou com artista do selo PC Music, incluindo Charli XCX, Madonna e Kim Petras, a última umas das colaboradoras do álbum póstumo de Sophie, autointitulado. O volume ainda tem colaborações com amigos próximos da produtora, como Doss, Hannah Diamond, Bibi Bourelly. Evita Manji, Popstar e Cecile Believe. O álbum foi criado com a colaboração do irmão de Sophie, o produtor Benny Long, e leva os ouvintes em uma jornada pela pura imaginação da artista, com suas texturas e marcas registradas, descritas pelo New York Times como “futurísticas, inovadoras e influentes”. Sophie morreu em janeiro de 2021, após uma queda acidental do telhado de um prédio de três andares em Atenas, Grécia. O álbum foi lançado como um vinil duplo, com cada lado representando uma seção diferente.
“Eu Nunca Fui Embora Parte 2”, Fresno
“O meu amor tem camadas / Cê foi tirando, tirando, até não sobrar nada”, cantam Lucas Fresno, vocalista da banda de emocore gaúcha Fresno, e a dupla Chitãozinho e Xororó em “Camadas”, faixa que encerra a segunda parte de “Eu nunca fui embora”. E não é que o casamento deu mais do que liga? O emocore é mesmo parente da sofrência e do sertanejo, como fica provado. O volume ainda tem mais feats, com a diva maior da voz, a gaúcha Filipe Catto, e outras bandas de hardcore, como Dead Fish e NX Zero. A banda tem um dos melhores shows da atualidade, como comprovaram em passagem pelo Terrazzo, no ano passado. Destaque para as faixas “A gente conhece o fundo do poço” e “Essa vida ainda vai nos matar”, com a Dead Fish, que abordam as vitórias e as derrotas de quem vive pela arte.