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Frederico Heliodoro apresenta seu disco ‘The weight of the news’ no Maquinaria

Frederico Heliodoro photo by Dani Gurgel 2
Multi-instrumentista, Frederico Heliodoro gravou quase todos os instrumentos de seu último disco, e, nos shows, tem se apresentado sozinho (FOTO: Dani Gurgel/ Divulgação)
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Quando o disco “The weight of the news” começa a tocar, a voz de Frederico Heliodoro sozinha, mesmo antes de os instrumentos entrarem, é como se um ânimo tomasse conta do corpo. E quando, segundos depois, aquela junção de instrumentos começa, a confirmação: o sexto disco de Frederico é otimista, dançante; um “ufa” no meio de um tumulto deflagrado no Brasil nos últimos anos.

A comprovação de que, mesmo apesar de tudo, ele, que é carioca de nascença mas foi criado em Belo Horizonte e depois voltou para o Rio de Janeiro, conseguiu encontrar as brechas em um escuro e transformá-las em canção. “Saber que não estamos só”, frase presente na primeira música do álbum, “Interestelar”, é, sim, dita por uma pessoa que, lá no alto, vê que o mundo é mais. Mas é também uma confirmação como um alento: aquele que procura o otimismo para viver mesmo. Aquele mesmo “ufa”. Esse seu otimismo transparece em seu trabalho instrumental e no de canções. “Eu gosto de reagir positivamente ao mundo”, justifica. Apesar de continuar: “Mas o otimismo está mesmo no meu DNA”. Imerso nas experimentações, um músico que toca de tudo e se apresenta sozinho, voz e guitarra, chega a Juiz de Fora, pela primeira vez, apresentando seu disco novo, lançado neste ano, no Maquinaria, nesta sexta-feira (6), a partir das 21h. Alice Santiago e Renato da Lapa abrem a noite.

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É interessante que, traduzindo o nome do disco, tem-se: “O peso das notícias”. Mas como, com um nome desse, Frederico consegue dizer coisas tão animadoras, ao mesmo tempo? Claro que é uma questão que envolve as individualidades e a forma como cada coisa chega à pessoa. Mas há uma justificativa: em seu disco, Frederico prefere falar dos comportamentos percebidos, até nele mesmo, a partir de 2016, período em que as canções do disco novo começaram a ser idealizadas.

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“As notícias são sempre pesadas”, diz a mesma pessoa que escreve “Quem viveu de sonhar/ É incapaz de sofrer/ Uma dor nunca é mais forte que ver nascer/ Nesse mar de tempestade e medo/ A certeza/ Que todo dia eu posso renascer”, em “Renascer”. Existe, então, uma dualidade que habita nas próprias questões do ser. Porque essa mesma época foi marcada por uma série de episódios que fizeram com que Frederico sentisse uma pressa de viver.

Foi em 2016 que ele passou a acompanhar o guitarrista estadunidense Kurt Rosenwinkel, importante nome do jazz americano. Foi um processo de abertura de portas para Frederico. “E eu tive pressa mesmo. Vi que precisava andar. E fui andar. Fui ver o que tinha que fazer, onde tinha que ir, o que tinha que doer. E como eu ia colocar essas coisas na música. Porque a música tem um peso. E eu sentia que precisava, também, mostrar a dor. Porque todo mundo sofre e todo mundo se sente bem. A gente não conhece o doce o tempo todo. Então, eu sentia falta dessa acidez.”

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E cada música traz um passo dele. Como a frase que é quase um mantra: “A vida que vem/ não suporta o que ficou para trás”, em “A vida que vem”. “O músico apresenta o que está dentro. E tem que ter tristeza, alegria, otimismo”. Em 2022, ele passou a tocar na banda de Milton Nascimento, em sua turnê de despedida. E, depois, com a Simone.

Tudo isso, no álbum, é como um retrato dessa caminhada por esses anos, até 2022, e dessa descoberta feita em si mesmo, traduzidas em 11 faixas, depois de tanta coisa. Mas que não para por aí. Porque Frederico é músico que compõe, se deixar, o tempo inteiro: basta ter um violão ou uma guitarra e as coisas transparecem. É um trabalho de suor: de malhar as mãos incansavelmente, praticamente. Afinal, se sabe: ser músico não é somente inspiração. É suor, na maioria do tempo.

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Um método interessante a ele, inclusive, é um exagero controlado: “Não um exagero irresponsável. Mas quando vou compor eu gosto de exagerar para filtrar. E esse filtro já está na minha cabeça. Na hora eu identifico como filtrar as coisas de uma maneira simples. Aliás, nem sempre simples, porque às vezes não é. Mas de uma maneira que consigo mostrar o que eu quero dizer.” São experimentações desse processo contínuo de compor e criar.

E nisso de experimentar cada vez mais, veio a ideia de gravar grande parte dos instrumentos presentes nas músicas de “The weight of the news”. “Eu queria descobrir as coisas do som”, conta, movido pela curiosidade de conhecer cada vez mais a música. Só não gravou bateria. Para o disco, chamou nomes como Louis Cole, Kurt Rosenwinkel, Aaron Parks, Olivia Trummer, Chris Fishman, David Binney, Seamus Blake, Pedro Martins, Antonio Loureiro, Felipe Continentino, Thiago “Big” Rabello, Fred Selva e Genevieve Artadi (que participa apenas da versão japonesa do disco).

E, até a bateria que, até então, ele não tinha tanta afinidade ou confiança para gravar, agora é como se tivesse “desbloqueado” um portal e, no dia anterior à entrevista, ele chegou a gravar o instrumento para um outro projeto. Música, para ele, é compromisso. E, por isso, é necessário tocar, sim, o tempo todo. “Porque, dessa forma, a musculatura cola. Coisa de uso mesmo. Membro e uso.” Imparável.

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Frederico Heliodoro (FOTO: Dani Gurgel/ Divulgação)

“Algo singelo”

Fruto do jazz, olhar a discografia de Frederico é caminhar pelo seu próprio caminho, porque dá para ver que ele se descobre um tanto no processo: de escolhas estéticas às ambiências dos arranjos e as próprias letras. Em “The weight of the news” tem um jazz, um tanto americano e um tanto abrasileirado, que passeia pelas canções. Mas tem mais outras coisas que até firmam esse seu compromisso com a música brasileira mesmo. Mas sem forçar. Muito dessa escolha de explorar outros gêneros vem de uma necessidade de tentar se comunicar melhor com as pessoas.
“Tem uma beleza do jazz que é cativar as pessoas com algo singelo. E eu ainda faço isso. Mas usando também de uma outra estética musical que eu gosto. Porque eu quero também comunicar com pessoas de fora da arte. E tenho essa vontade de fazer com que as pessoas se inspirem naquilo que eu faço. É o que eu espero”, afirma.

“The weight of the news” foi lançado pelo selo Minaret Records, de Los Angeles, na Califórnia. Fazer esse tipo de música, no Brasil, é ainda difícil. E, rodando com Kurt, ele passou a ter mais abertura fora do país, onde, inclusive, começou a tocar com sua turnê. Mas, como é otimista, segue dizendo: “Mas acho que as coisas vão melhorar. Está tendo uma democratização, parece. As coisas vão ser mais organizadas e vão melhorar”. E rodar com Kurt foi importante por isso, essa abertura. “E tocar com o Milton foi a cereja do bolo.” Frederico conta que até já sabia tocar o repertório inteiro do músico brasileiro, porque sempre foi o que ele sempre ouviu e treinou mesmo, esse exercício de musculatura. “Foi mais coisa de ver o arranjo”, conta.

Agora, ele tem focado em seu trabalho solo. Em processo de abrir uma produtora-gravadora-selo-editora. Um caminho de muitas possibilidades em cima do que ele sempre fez. E rodar com seu trabalho solo tem sido uma viagem. “Uma viagem doida”, brinca. Sozinho mesmo, no palco, ele estuda, exercita, se fortalece, porque tem que se garantir ali para conquistar a plateia. Ele, em seus shows, tem tocado as músicas do trabalho mais recente e outras que mais novas. Mas sempre observando a plateia. “Observar, sempre.”

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