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Dias plurais

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Numa casa noturna, uma travesti morta é preparada para o enterro por suas amigas. Entre paetês e globos espelhados, elas maquiam a companheira para entregá-la à família. Chegando à casa onde foi criada, a travesti tem os cabelos cortados e um terno vestido. É Aristeu, sem pulsação e sem desejos. Enquanto isso, as travestis amigas caminham para o velório, com o intuito de calçar-lhes sapatos de salto. Premiado Brasil afora e vencedor nas categorias de melhor filme, direção e atriz, no Festival Primeiro Plano de 2008, o curta-metragem do alagoano René Guerra retorna a Juiz de Fora. Dando força ao debate sobre as mutilações diárias às quais estão sujeitas a comunidade LGBT, o filme integra a programação da “Mostra da diversidade sem paredes”, promovida pelo Cineclube Bordel Sem Paredes, que acontece até quinta-feira, às 19h, no CCBM.

Ao lado de clássicos da cinematografia LGBT, como “Paris is burning”, de Jennie Livingston, está “Quem tem medo de Cris Negão?”, documentário em curta-metragem também assinado por René Guerra, que versa sobre a personalidade de Cristiane Jordan, conhecida como Cris Negão, travesti e cafetina do centro de São Paulo de métodos bastante violentos. Sem meios tons e sem silenciamentos, a mostra que inicia o 18° Rainbown Fest retrata de maneira nua e crua uma realidade ainda encoberta pelo conservadorismo dos dias que correm. “Para o movimento, é importante desconstruir estereótipos. A heteronormatividade dentro do universo gay é muito opressora. Precisamos escancarar o que acontece nas ruas e nas casas”, pontua Daiverson Machado, responsável pelo cineclube.

Realizada em parceria com o Movimento Gay de Minas (MGM) e com o Coletivo Duas Cabeças, que promove debates após cada sessão, a mostra busca a conscientização pelas vias do sensível. “Trazer produções artísticas para o movimento é uma ferramenta muito eficiente e profunda de criar a discussão mais séria. A arte é uma forma de militância e tem o poder de trazer consciência. Precisamos tocar as pessoas para nossas dores”, comenta Daiverson. “Os filmes mostram a homofobia explícita e implícita em nossa sociedade. Eles expõem a crueza de nossa realidade, dos padrões estabelecidos no meio às vivências das travestis de pista. O cinema ao unir palavra e imagem ajuda no debate para que todos percebam com clareza nosso dia a dia”, completa o presidente do MGM Marco Trajano.

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Academia aberta às cores

Quando se fala de vidas, não basta só o subjetivo. É urgente ser direto e reto. A partir desta terça, o Centro Universitário Estácio Juiz de Fora também reforça o debate promovendo uma série de palestras e discussões no ciclo intitulado “Diversidade em pauta – Quebrando tabus”, que segue até quinta-feira, a partir das 19h. De acordo com a professora Tâmara Lis, responsável pelo evento, os encontros se voltam para as áreas de design, publicidade e jornalismo. “Ainda há um despreparo muito grande no mercado profissional em relação às diversidades e a academia precisa se atentar para isso e munir melhor os futuros profissionais. É muito importante pensar que aceitar o diferente independe de questões pessoais”, pontua.

“Os comunicadores precisam lidar com informações muito diversas de suas vivências, por isso, temos a obrigação de oferecer esse diálogo aos alunos, a diversidade precisa estar na pauta da formação”, reforça Tâmara, acrescentando que “não se trata de um evento restrito, mas voltado para a comunidade acadêmica, de produção de conteúdo científico e de conhecimento”. Para Marco Trajano, a série de palestras e as sessões cinematográficas apontam para o futuro do movimento em Juiz de Fora, já que 2015 marca a despedida da Parada Gay, que acontece no domingo na Avenida Getúlio Vargas, enquanto os eventos artísticos, a partir de sexta-feira, serão realizados na Praça Antônio Carlos. “A parada já cumpriu seu papel. A ideia é transformar o Rainbow Fest no maior evento de cultura LGBT do país. O Mister Gay Pride Brasil (neste sábado), o Miss Brasil Gay Plus Size (neste domingo), o MGM Show (neste sábado) e essas atividades de reflexão são o pontapé nessa história.”

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