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‘Perambule’, um ensaio de reflexões sobre a metrópole da cantora mineira Clara Castro

Foto destaque Dayanna Andrade Clara Castro
(Foto: Dayanna Andrade)
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Mineira de Barbacena, Clara Castro, 29 anos, morou em Juiz de Fora por mais de cinco anos e, frequentando o Encontro de Compositores, conheceu grande parte dos parceiros que a acompanham até hoje e aparecem em “Perambule“, seu segundo álbum de estúdio, que conta a sua chegada a São Paulo com o desenvolvimento de temas urbanos, como as caminhadas pela cidade e a observação da vida urbana. O álbum tem produção de seu parceiro de vida, o talentoso músico juiz-forano Nathan Itaborahy, que é filho de Paulo Roberto, autor do livro “Família Itaborahy da Música”. Muitas faixas do trabalho foram compostas em Juiz de Fora, entre 2020 e 2021, como “Fé na Fé”, “Fome de Gritar”, registrada com participação da MC e poeta Laura Conceição, “Canções Perdidas na Calçada”, “Hora de Acordar” e “A Torre”, gravada com participação do clarinetista Caetano Brasil. Entre os parceiros musicais, muitos nomes também são da cidade, como Nathan Itaborahy (“Fé na fé”), Laura Jannuzzi (“A Torre”), Tata Rocha (“Hora de Acordar”), Renato da Lapa (“Canções Perdidas na Calçada”) e Douglas Poerner (“Astronauta”). A capa é de outro juiz-forano, Renan Torres.

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O álbum registra as percepções da artista desde sua chegada à capital paulista, com um registro documental e atmosférico. “Perambule” vem do ato de vaguear, andar sem um destino certo, e foi dessa maneira que o novo disco foi embalado. Clara mergulha em seus próprios arquivos e memórias pessoais, desde que se mudou de Juiz de Fora para a capital paulista. A obra tem um desdobramento visual assinado por Anas Obaid e mescla regravações com canções inéditas, das quais se destaca a faixa-título, “Perambule”, uma representação da sonoridade e temática do projeto completo. “O álbum nasceu num ambiente despretensioso, com a interação da nossa casa, que abriga o home studio, Estúdio Torto, com a cidade. Como registro desse atrito, eu e Nathan unimos o meu desejo de imprimir maior teatralidade na minha música, com a pesquisa dele sobre o som das coisas”, resume Clara.

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O casal de artistas passou a abraçar a tal “poluição sonora” de buzinas e construções que persistem em São Paulo como instrumentos na música. Toda esta narrativa desaguou na parte visual com o uso de câmeras de vigilância, semáforos, portas e cadeiras, para dar luz aos elementos que compõem o cotidiano. “O trabalho tem um fio documental e poético, que captura o cinema da vida real, cotidiana, mais especificamente da cidade de São Paulo, onde damos luz a cenas e objetos e detalhes pelos quais passamos todos os dias sem nos dar conta”, afirma Anas. Entre 2022 e 2023, Nathan trouxe bases e samples que ganharam novas camadas, arranjadas coletivamente por ele na bateria, Lucas Gonçalves nas guitarras e Douglas Poerner no baixo. As gravações passaram ainda pelo LadoBê, em Juiz de Fora, e a edição de vozes é de DropAllien.

Mais lançamentos

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“Construção”, Ti Doido

Construção” é o álbum de estreia do rapper Ti Doido, 26 anos, menino bom, nascido no bairro Santa Rita, Zona Leste, que aparece nos clipes do volume, com a moçada andando de moto pelos morros que mostram a cidade, lá do alto, em “Boteco”. “Antes de ser bandido é pai, antes de ser do corre é filho, todo dia me levanto mais cedo, pois eu larguei o gatilho”, filosofa, em “Construção”, a faixa que dá título ao disco, referência à profissão de seus pai e avôs. “O álbum também fala sobre criar para nós mesmos aproveitarmos, e não só trabalhar em prol do conforto de outros. Quantas vezes vimos nossos familiares limpar casa que não podemos ter, construir escolas que nossos filhos não vão poder estudar, já basta, que toda mão de obra possa aproveitar de sua criação”, reivindica. Ao lado de Arashi Sam, que participa na faixa “Turma do bairro”, ele integra o Na Régua Records, que produz beats para muita gente, há cinco anos, e é personagem atuante na cena local, no Espaço Hip Hop, na Batalha dos Bandeirantes e nos slams. O álbum fala sobre a construção de um jovem artista independente periférico, entre os altos e baixos da vida adulta. Todas as músicas foram produzidas no Na Régua Records por Ti Doido e Arashi Sam, com uma boa mistura de boom bap, funk, drum´n´bass, MPB e house. Bem bom.

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“Do Nilo”, Lílian Rocha

Com raízes familiares na mineira e vizinha Cotegipe, Lilian Rocha vive em São Paulo e acaba de lançar o belo álbum “Do Nilo”, com 13 faixas, um trabalho que reflete a interseção entre diversas culturas brasileiras e africanas, celebrando a cultura afro-diaspórica com co-direção musical do moçambicano Otis Selimane. A convite do coletivo Damata Cultural, ela esteve na cidade, divulgando o trabalho. A artista conecta influências das musicalidades do Oeste Africano, da região do Vale do Rio Zambeze, a sotaques musicais afro brasileiros. Entre as participações, estão grandes nomes, como a baiana Josyara em “Cumbuca”, Jota.Pê em “Lua Nova”, Bia Doxum na maravilhosa “O perfume do caju”, uma das canções mais lindas deste ano, Ballet Koteban em “Brinco de princesa de Mali”, Lenna Bahule em “Amefricana” e Júlia Tizumba e Amauri Falabella em “Ventre Minas” . Um disco bom do início ao fim. “Esse trabalho transmite uma mensagem de reconhecimento histórico da cultura brasileira em sua dimensão afro-diaspórica e dos diálogos interculturais entre a América e a África”, comenta Lílian. “O perfume do caju” já é uma das canções mais belas do ano.

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“Sopro”, Sopro

Os paraenses Arthur Nogueira, Mateus Estrela e Leonardo Chaves acabam de lançar o EP de estreia do trio Sopro, homônimo. O trabalho convida a uma reflexão sobre o quanto de vida e de relações temos deixado para a palma da mão, no celular, em uma timeline infinita de textos, fotos e vídeos que nos fazem sentir hiperconectados com todos e tudo que acontece à nossa volta. Mas o que acontece quando desligamos o celular? Segundo o trio, começa a vida de verdade. Os artistas paraenses trabalharam juntos previamente na produção do álbum “Só” (2020), de Adriana Calcanhotto, e agora se reúnem para refletir sobre o fluxo de informações e a necessidade de desacelerar para construir das relações, tudo isso imerso em sonoridade única, que mescla de forma singular elementos eletrônicos à canção. Entre as principais influências, estão AIR, The xx, Fred again… e Warpaint. O EP é lançamento do selo dobra discos, e “Luz azul” já chegou com pinta de hit.

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“Estopim”, Chico Chico

“Estopim” é o quinto álbum de Chico Chico, resultado de um trabalho que ele desenvolve, desde 2023, com Pedro Fonseca, produtor e tecladista. “Toada” tem uma levada roqueira e referências de bumba meu boi, do Maranhão. “Terra a Vista” é quase um dance, uma house, ao mesmo tempo em que flerta com o carimbó. O álbum mostra os vários mundos de Chico, do bucólico, do regionalismo, do folk e ao mesmo tempo do urbano, do dançante, do noturno. As cantoras Juliana Linhares e Julia Vargas participam do delicioso samba de roda “Altiva”. A gravação contou com um time excelente de músicos: Chico Chico (voz e violão), Guto Wirtti (contrabaixo), Thiaguinho Silva (bateria), Pedro Fonseca (teclados e arranjos), Walter Villaça (guitarra e violão de aço), Thiago da Serrinha (percussão) e Jorge Continentino (sax barítono, flauta e pife). Além dos luxuosos arranjos de sopro feito pelo mestre Marlon Sette para as múscas “Vai”, “Jogo de Chapéu” e “Terra à Vista”, nas quais ele também toca trombone.

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