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Outras Ideias com Pedro Carlos Peters

pedro quer criar um espaco de convivencia em seu empreendimento marcelo ribeiro

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Pedro quer criar um espaço de convivência em seu empreendimento (Marcelo Ribeiro)
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Pedro quer criar um espaço de convivência em seu empreendimento (Marcelo Ribeiro)

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Das décadas finais do século XIX, restaram maquinários, objetos e papéis que comprovassem, ali, na casa de Pedro Carlos Peters, a existência daquela que foi a primeira cervejaria de Minas Gerais. Restou, também, a receita da bebida feita por seu tataravô, Sebastian Kunz. “Tive acesso a ela. Porém, na época, a cerveja que ele fazia era produzida com milho e arroz. Ele não conseguia importar malte, lúpulo, porque não chegavam a Juiz de Fora. Então, não devia ser muito boa a cerveja dele”, diz, aos risos. Ainda que a receita não tenha sobrevivido, o tataraneto resolveu, há sete anos, resgatar não apenas a artesania, mas também o clima do lugar que, criado em 1861, se fortaleceu pela cidade por reunir imigrantes alemães, que, na época, trabalhavam para a concretização da Estrada União e Indústria.

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“Era Cervejaria São Pedro, mas pegou o apelido ‘Barbante’, porque as garrafas eram fechadas com rolhas de cortiça amarradas por um barbante para não estourarem com a fermentação”, conta Pedro, que em seus 33 anos de vida, teve a Alemanha como cotidiano de casa. “Cresci nesse sítio, morei aqui. Desde sempre, ouvia histórias da cervejaria do meu tataravô. Quando fui morar em Portugal, em 2005, comecei a trabalhar em um restaurante. Nesse período, fui lendo sobre cerveja artesanal, encontrando pessoas que me ensinaram a fazer e, ao voltar a Juiz de Fora, a passeio, fiz algumas festas nesse lugar, e começou a dar certo. Fazia cerveja, as pessoas iam tomando, comecei a cobrar a entrada, um amigo criou um cardápio, e ressurgiu o ‘Barbante’ de maneira despretensiosa”, diz, referindo-se à antiga casa no Bairro São Pedro.

E a igreja?

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Antes de Kunz morrer, em 1888, levando à extinção o negócio pioneiro, a área de terra que lhe pertencia, ao lado de muitos de seus conterrâneos alemães, servia às confraternizações. “Todos os imigrantes moravam aqui, e a cerveja era feita para os amigos, que bebiam nos finais de semana. Naquela época, cervejaria não tinha essa conotação de bar e restaurante, mas era um lugar que servia de ponto de encontro desses colonos. Enquanto as mulheres cozinhavam, os homens faziam as cervejas e tinham muitos jogos”, pontua Pedro. “Nessa época, veio um pastor do Rio de Janeiro visitar a colônia. Chegando aqui, disse: ‘Casa para o culto de Deus, não vi por aqui, mas, para homenagear o diabo, já existe uma’. Foi, então, que meu tataravô doou a área, onde foi construído o cemitério e a igreja do bairro”, conta ele, que não carrega o sobrenome do tataravô, perdido de geração em geração. Para resgatar a essência de sua cultura, o administrador por formação e cervejeiro por encantamento inaugurou, esse ano, no mesmo terreno, um espaço chamado Biergarten, exclusivamente de comida alemã, e espera abrir, nos próximos meses, o Maria Fumaça, com outro tipo de culinária. Para reviver o histórico de convivência daquela colônia, também planeja criar, na parte de trás do restaurante, um ambiente que sirva para shows de porte médio, como fez com o recente “Tributo a Raul Seixas”, que levou cerca de 700 pessoas à casa.

Sem a língua e sem a vista

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Em tempos de Festa Alemã, evento que segue até o próximo dia 13, no Bairro Borboleta, Pedro Peters é um dos tantos descendentes a se orgulhar de suas raízes, ainda que o exercício de valorização da história exija esforço superlativo. “De uns dez anos para cá, a cultura alemã se perdeu muito. Quando era moleque, no bairro tinha muita produção de pão alemão, farinha, torrada, tudo muito tradicional. Minha mãe sempre fez pães, biscoitos”, conta. A língua, infelizmente, diz, não aprendeu. O lugar, também não conheceu. “Já fui a Luxemburgo, Bruxelas, Amsterdã, rodei em volta, mas nunca cheguei à Alemanha. Tenho muita vontade ainda.”

Sozinho e em rede

Apesar de ter como base o álbum de família, Pedro não fez da empreitada um projeto familiar. “A coisa foi crescendo, e comecei a produzir mil litros de cerveja por mês. Hoje produzimos oito mil litros, já temos o registro no Ministério da Agricultura e Pecuária e comercializamos em dez casas de Juiz de Fora e também vendemos para Ibitipoca, Rio e Espírito Santo”, se envaidece. “Fiz cerveja em paneleiro de alumínio de 2007 até 2012”, completa, mostrando equipamentos que já revelam sua atenção à tecnologia. E fazer cerveja é uma tarefa complexa?, pergunto. “Fazer cerveja ruim qualquer um faz, mas afinar é que é difícil. O legal da cerveja artesanal é que ela se adapta ao gosto dos clientes. Minhas receitas sempre tiveram os palpites de quem estava aqui para consumir. Se fosse para fazer do jeito que eu gostaria que fosse, seria mais forte, mais encorpada. Porém, não é nada comercial. Hoje acho que cheguei a um ponto de equilíbrio”, comenta um dos primeiros em Juiz de Fora a apostar na artesania da bebida, que hoje já conta com uma rede para compra de insumos. Eles dividem o frete, mas não compartilham segredos. “Os produtos que compro, todos compram. No Brasil, a matéria-prima é a mesma. O ‘terroir’ (conjunto de fatores ambientais que caracterizam um vinhedo) da cerveja está na mão do cervejeiro”, diz. O ‘terroir’ da cerveja, esqueceu-se de dizer, no seu caso, que está na mão e, também, no sangue.

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