Nesta terça-feira (6), a organização do Miss Brasil Gay 2023 e a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) se reuniram para anunciar mudanças no concurso e novidades para o público. O evento mantém a previsão de movimentar até 7,5 milhões no município, assim como no ano de 2022, e o setor de turismo também espera que a reabertura total do Museu Mariano Procópio seja um incentivo a mais para que os visitantes aproveitem as atividades que a cidade tem a oferecer. Além disso, na edição deste ano, as cinco candidatas finalistas vão ser avaliadas quanto à capacidade de oratória, tendo que responder questionamentos sobre o mundo atual e questões relevantes para se tornarem vencedoras. A grande atração da 41ª edição do evento, que acontece no dia 19 de agosto, é a cantora Lexa. Os ingressos já estão disponíveis para a venda.
Esse é um evento que acontece desde 1977 na cidade de Juiz de Fora, tendo sido idealizado pelo cabeleireiro Francisco Mota, conhecido como ‘Chiquinho’. A relevância é tamanha que, em 2007, se tornou um patrimônio imaterial da cidade. Michel Brucce, atual organizador do evento, destaca também a importância de, no final de 2022, o Miss Brasil Gay ter se tornado uma associação cultural sem fins lucrativos. “O nosso projeto é que o Miss Brasil Gay seja, no futuro, um evento autossustentável, mas ainda não é. Por isso, contamos sempre com o apoio da prefeitura e de Brasília para que perdure, independentemente de quem estiver à frente do evento”, diz. Em sua visão, o concurso nacional forma uma verdadeira rede de comunicação entre todo o país, fazendo com que toda a cultura do transformismo seja preservada. “Isso só é possível graças a esse concurso”, afirma.
Ainda de acordo com ele, o evento demanda uma alta arrecadação para acontecer, sendo necessário cerca de R$ 500 mil para cobrir todos os gastos envolvidos com a realização. No entanto, como explica, traz para a cidade, de acordo com pesquisas realizadas no ano anterior, em torno de R$ 7,5 milhões. Isso faz com que seja responsável por alavancar o turismo e movimentar a economia durante os dias em que acontece. No mesmo sentido, de acordo com Marcelo do Carmo, Secretário de Turismo da cidade, com a reabertura do museu, essa circulação de pessoas pode ser potencializada. “Com a reinauguração completa do Museu, os turistas podem ter acesso a algumas ações para conhecer nossos novos atrativos turísticos”, diz.
Ainda há, como explicita Michel, outras formas de aumentar essa arrecadação, como através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais, com a participação de empresas contribuintes do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS). Essas empresas que incentivam a execução de projetos artístico-culturais, com redução do tributo, podem contribuir com o evento. Até o momento, como destaca, não há nenhuma empresa que se enquadre nesse critério apoiando o evento. “Estamos sem nenhum patrocinador que possa ter descontado esse imposto do estado. Fomos contemplados com uma carta de 250 mil reais para que a gente consiga colocar o evento na rua”, diz.
Mudanças nos critérios avaliativos
O concurso também passou por mudanças nos critérios avaliativos para se atualizar, assim como outros concursos de Miss em nível nacional e internacional passaram. Como explica André Pavam, coordenador nacional e diretor artístico do evento, durante a maior parte da história de concursos assim, era eleita a candidata mais possível, e hoje são vários os critérios analisados. “Precisamos de mais representatividade, e por isso foi feita uma mudança de conceito e que impacta diretamente no regulamento”, destaca. Por isso, em 2023, o regulamento passou por alterações, sendo a principal delas a valorização de uma boa oratória entre as candidatas. “Agora, são 27 candidatas, sendo 10 semifinalistas e, destas dez, são cinco finalistas, e para elas terá a pergunta final para cada uma, para saber o conteúdo, a oratória e o que ela tem a dizer. Não basta ser a mais bonita”, afirma.
Ele também aponta que, entre os organizadores, foi percebido que há uma necessidade de uma passarela mais solta e com personalidade, saindo dos padrões típicos de concursos de beleza dos anos 70/80. Por isso, no regulamento também é valorizada a forma com que a candidata desempenha cada uma de suas apresentações. “No regulamento, a palavra que mais aparece é a desenvoltura, que serve, por exemplo, para o desenvolvimento que a Miss traz para cada traje que usa”, diz. Além disso, ele ressalta que há toda uma história que vem com a Miss, e tem o acompanhamento desde o nível estadual para saber da trajetória. Outra novidade é que as candidatas vão ser confinadas antes, na quinta-feira antes do concurso, quando chegam a Juiz de Fora.
Participações especiais
No dia 19 de agosto, quando acontece a coroação da Miss, o público e as candidatas contam com a presença de artistas nacionais e locais. A principal apresentação da noite fica com a cantora Lexa, que traz a turnê “Magnéticah!”. Como apresentador, este ano, Ikaro Kadoshi retorna ao evento que já participou anos atrás, agora sendo também conhecido por “Caravana das Drags” e “Drag Me As Queen”. Da mesma forma, a Miss Brasil Gay de 2013, Sheila Veríssimo, também apresenta o evento junto com ele. Outra presença confirmada é a de Hellena Borgys, drag queen vencedora da “Caravana das Drags”.
No nível local, o evento conta com a apresentação da drag queen Titiago. Também conta apresentações de ballroom, que celebra a diversidade de gênero, sexualidade e raça. Essa dança rememora disputas que aconteciam em 1950, sendo, como explica Pavam, uma expressão cultural que tem força e que pode ser adaptada para eventos assim. “Nós vamos fazer um formato para palco, porque essa disputa às vezes é muito longa. Queremos apresentar o que acontece na cultura gay nas comunidades. É importante trazer para o palco também”, diz.
Miss Letícia Valentinni deixa coroa em breve
A Miss Letícia Valentinni, representante do Rio de Janeiro que ganhou o Miss Brasil Gay 2022, esteve presente no evento de divulgação. Ela já está nos últimos meses com a coroa, e celebra o legado de ter sido, em 2022, a primeira pessoa negra a ganhar o concurso em 20 anos. “Me sinto honrada em representar essa comunidade, que infelizmente, a sociedade ainda insiste em tentar calar. (…) Isso é muito importante para mim, e também para as outras transformistas que estão entrando no concurso e estão buscando uma representatividade. Não é só uma coroa, é levar nossa comunidade para todos os cantos do Brasil”, diz.