Por onde andam os espetáculos juvenis? Enquanto há produção intensa voltada para crianças e adultos, poucos espetáculos são dedicados especificamente aos adolescentes, em especial aqueles que têm entre 14 e 17 anos. Professor de teatro da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e diretor do Grupo Teatral Encena, de Belo Horizonte, Wilson Oliveira alerta que jovens nesta faixa etária também tendem a frequentar menos o teatro. Parece que as peças infantis ficam bobas demais, e as adultas, sérias demais para eles. Dados revelam que há mais frequentadores de teatro nas outras faixas etárias, o que demonstra um vácuo no que se refere à produção e ao incentivo a formação de público neste segmento.
Entretanto, Wilson ressalta que os jovens não pararam de fazer teatro: Pelo contrário. Eles fazem muito, mas ainda assistem pouco. Como a maioria dos grupos, amadores ou não, faz remontagens de clássicos, nem sempre agrada os adolescentes, que muitas vezes querem algo novo ou adaptado às vivências, explica a diretora artística do Tablado, no Rio de Janeiro, e professora de teatro para adolescentes, Cacá Mourthé. A coordenadora do núcleo de teatro e TV para crianças e adolescentes da Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), Alice Reis, também do Rio, concorda em relação à carência de textos e peças voltados para os jovens e destaca que, por isso, pode parecer que eles vão menos ao teatro. Ela observa que quando há boas montagens, os jovens se tornam espectadores fiéis e engajados.
Cacá acredita que a falta de dramaturgia para essa faixa etária pode ser um dos fatores responsáveis pela escassez de espetáculos. Cacá e Alice lembram que Carlos Wilson da Silveira, o Damião, foi um dos artistas que inauguraram o teatro jovem na década de 1980. Ele foi genial, porque conseguiu fazer um tipo de teatro muito aceito e assistido pela juventude. Mas morreu cedo, e, com ele, boa parte dessa ideia se foi, lamenta Cacá. Entre as peças jovens montadas por Carlos Wilson, ela cita Os 12 trabalhos de Hércules e Hoje é dia de rock.
Já na década de 1990, o auge do teatro juvenil foi atingido com o espetáculo Confissões de adolescente, de Maria Mariana. A história das quatro irmãs adolescentes conquistou plateias por todo o país e foi transformada em série de TV. De lá para cá, nenhum outro nome ou produção teatral despontou com tamanho sucesso no setor. Nem mesmo nos festivais as peças juvenis têm ancorado.
Conforme o diretor e produtor teatral Pádua Teixeira, que também coordena a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança em Belo Horizonte, sempre houve carência de espetáculo juvenil. Nas duas últimas edições da campanha, havia montagens que foram vistas por muitos adolescentes, mas que não foram escritas diretamente para eles, como O diabo também faz milagre e Match da improvisação.
Cacá defende que não é apenas a falta de produção que afasta os jovens, já que muitos espetáculos enchem as plateias de adolescentes. Para ela, o teatro sem qualidade também contribui com o desestímulo. Se você assiste a uma peça e agrada, tem grande chance de voltar e buscar outras, mas se acontece o contrário, é provável que fique um longo tempo sem voltar ao teatro.
Ela lembra da adaptação de O despertar da primavera, de Frank Weddking, realizada há cerca de 20 anos. Foi uma montagem leve, feita com uma galera bem jovem. O elenco contou com a Cláudia Abreu, que na época fazia aula de teatro no Tablado e tinha uns 14 anos. A peça foi um sucesso, e o que era para ser espetáculo de fim de curso acabou ficando em cartaz. Segundo Cacá, a experiência citada é exemplo de que quando os adolescentes gostam, respondem bem.
Realidade local
Em Juiz de Fora, algumas ações duradouras trabalham ou já trabalharam com jovens e para jovens. Dois exemplos são as atividades desenvolvidas pelos projetos teatrais do colégio Academia e pelo Grupo Divulgação, vinculado à UFJF. Apesar de não ter como perfil a produção específica para os adolescentes, os dois projetos carregam no currículo espetáculos que conseguiram angariar o segmento.
Diretora da Cia de Atores da Academia e coordenadora da Escola de Teatro da mesma instituição, Nilza James ressalta que Marca de uma lágrima e A droga da obediência, adaptadas da obra de Pedro Bandeira, foram peças que cumpriram a missão de dizer algo à juventude. Pelo fato de estar inserida dentro de uma escola e ter muitos adolescentes no elenco, a companhia, mesmo que não produza para este nicho específico, consegue atingi-lo. Poderíamos fazer mais espetáculos especialmente para os jovens, mas a carência de textos para eles também dificulta. Uma alternativa que encontramos para nos comunicar com os adolescentes foi fazer espetáculos baseados em textos e livros cobrados no vestibular, como ‘Viagem’, inspirado na obra de Fernando Pessoa, e ‘Retratos’, na de Drummond.
No Centro de Estudos Teatrais (CET) do Grupo Divulgação, o diretor José Luiz Ribeiro tenta suprir parte da carência de textos com produções autorais, como foi o caso das recentes montagens Esses moços e O pulo do gato, que contaram com elenco do núcleo de adolescentes. Além da iniciativa, o projeto Escola do espectador, do CET, também atua na formação de público, atraindo estudantes das escolas públicas da cidade para assistirem os espetáculos gratuitamente.