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Monólogo adaptado de conto de Simone de Beauvoir em cartaz no Teatro Paschoal

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Tatiana Henrique leva para o palco a realidade da mulher negra brasileira a partir do sofrimento da personagem de Simone de Beauvoir (Foto: Divulgação)
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Primeiro grande evento a ser realizado no recém-inaugurado Teatro Paschoal Carlos Magno, o I Encontro Sala de Giz de Teatro e Poéticas do Corpo tem início nesta sexta-feira (6) e prossegue até o próximo dia 15, com um total de 12 apresentações de peças locais e de outros estados, que também vão ocupar o palco do Museu Ferroviário. Para a noite de estreia, estão programados dois espetáculos: um deles é “Não-vão-além”, de Juiz de Fora, da Cia. Pisa Ligeiro, que será apresentado às 19h; pouco depois, às 21h, será a vez de “Ela se vinga com um monólogo”, da Cia. Okearô, inédito na cidade. O mesmo grupo terá a encenação da peça “Gineceu”, no dia 14, também no Paschoal Carlos Magno, igualmente tratando do universo feminino.

Com direção de Marília Gurgel e trazendo apenas a atriz Tatiana Henrique no palco, o espetáculo solo é adaptação do conto “Monólogo”, presente no livro “A mulher desiludida”, de Simone de Beauvoir, publicado há exatos 50 anos. No original, Murielle é uma mulher que se encontra sozinha na véspera da virada do ano e reflete sobre suas relações familiares, com o mundo e consigo mesma. Na versão teatral, encenada pela primeira vez em 2013, esse contexto foi adaptado para a realidade da mulher negra no Brasil.

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“O conto foi escrito numa época específica, e nossa questão era chegar aos dias atuais, nessa transição do século XX para o XXI, encenado por uma mulher negra. Não é apenas uma questão de tempo, mas também de corpos”, pontua Tatiana Henrique, para quem toda nova temporada da peça resulta ainda em um olhar diferente a respeito dos últimos acontecimentos relativos às mulheres, tanto nos avanços quanto no que regrediu.

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“A partir dessa perspectiva, tentamos entender essas diferenças, que são visíveis. O texto da Simone, a despeito de ser um ícone feminista, mostra uma mulher em extrema solidão, abandono, mas é uma mulher branca europeia, de classe média. Quando vai para o corpo de uma mulher negra, ele passa a dialogar com a solidão e a saúde mental da mulheres negras, que são as que mais enlouquecem no Brasil, e mesmo assim são as mais invisíveis, seja no emocional, psicológico, físico”, analisa.

“Ainda se tem a visão escravista de que somos fortes, de que aguentamos tudo”, continua. “Nos deparamos com essas frases de 1968, ‘somos de natureza forte’, ‘não vão nos vencer’, e hoje em dia ainda temos mulheres em luta, abandonadas, se pensarmos em todas as questões feministas. E há diferenças também: enquanto as mulheres não negras lutam para poder trabalhar fora, a mulher negra já enfrenta uma carga de trabalho, luta para ter tempo para ficar com seus filhos, ter seus maridos. São as mulheres que menos se casam, trabalham muito e são pouco amadas.”

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Com todos esses contextos envolvidos, Tatiana destaca que “Ela se vinga com um monólogo” se torna um desafio multifacetado. Um dos pontos que ela salienta é o do diálogo não só com a fala verbal, mas também com a corporalidade negra. “O maior desafio é poder fazer isso (interpretar essa personagem) diante do público, fazer com que ele mergulhe na história dessa mulher sem que isso se torne melodramático, piegas. Que possa ter empatia pelas dores dessas mulheres, que são reais e muitas vezes não têm como expressar suas existências e angústias.”

Tatiana Henrique conta que, ao ser convidada pela diretora Marília Gurgel, planejava fazer um espetáculo sobre a loucura de mulheres que eram internadas em manicômios. A proposta, confessa, foi uma forma de “unir o útil ao agradável”. “Vi que seria interessante o diálogo entre o corpo da Simone de Beauvoir, o meu e o da Murielle. Quando ela propôs o texto já veio com o conhecimento do meu trabalho, que costuma falar sobre mulheres, que são a base de minha pesquisa”, afirma a atriz, para quem até mesmo a personagem apresentada pela escritora e feminista francesa continua por aí.

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“Essa mulher existe, e existe muito. São mulheres reais, que não são ou foram abraçadas pelas pautas do feminismo e que lutam por coisas mínimas mas igualmente importantes, como ser amada, se entender com suas mães, filhas, os homens, que atravessam gerações”, analisa. “As convenções sociais esmagam a gente a tal ponto que não conseguimos suportar, nos estilhaçamos. A Murielle é essa mulher estilhaçada, que tentou resistir e não conseguiu. Costumamos dizer que existe essa diferença entre a resistência e a resiliência, que não é preciso somente resistir, mas também entender nossa capacidade de resiliência.”

Ela se vinga com um monólogo
Nesta sexta-feira, às 21h, no Teatro Paschoal Carlos Magno (Rua Gilberto de Alencar s/n).
Abertura com a peça “Não-vão-além”, às 19h

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