O Ara Ketu quando toca deixa todo mundo pulando que nem pipoca. O refrão de uma das músicas mais famosas da banda baiana fez sentido em 1997, quando foi lançada no álbum “Pra lá de bom”. No carnaval de 1998, quando Salvador inaugurava o monumento em honra de Dodô e Osmar e Luma de Oliveira surpreendia a Sapucaí usando uma coleira com o nome de seu então marido Eike, “Pipoca” estava plena em sentido. E todos cantavam. Em 2020 a música permanece. “Eu vejo o povo cantar, eu vejo o povo dançar, na melodia da canção”, canta o atual vocalista da banda, Dan Miranda, mostrando a potência de um grupo criado há exatos 40 anos, no subúrbio Periperi, como bloco que debutou na folia do ano seguinte, homenageando Oxóssi. As raízes africanas estavam nos temas e também nos fundadores, a professora de história Vera Lacerda e o primo, o babalorixá Augusto César.
“É muito bonito ver que o povo se entrega ao nosso som 40 anos depois”, pontua Dan, afirmando ver ainda uma estreita relação do Ara Ketu com sua trajetória inicial. A banda faz show em Juiz de Fora neste sábado (7), na festa Sambar & Love, que ainda reúne Monobloco, Samba de Colher, Glicose, DJ Barney e Fernandinho DJ no Terrazzo. “A essência do Ara Ketu é a mesma desde a sua fundação. Mas destaco o respeito e o carinho do povo”, diz ele, que passou a integrar a banda em 2018, após a segunda saída de Tatau, vocalista que liderou o grupo no auge dos anos 1990, quando o axé dominou as paradas de sucesso. Para Dan, o gênero chega forte aos anos 2020. “Micaretas novas estão surgindo, outras estão querendo retornar. Acho que vamos ter um ano bom para o axé music”, aposta ele, que se tornou nacionalmente conhecido como intérprete do hit “Ziriguidum”, de 2014, da banda Filhos de Jorge, da qual era vocalista.
Não é mesmo possível discordar de Dan. Na segunda década do século XXI o axé ganhou novos contornos, o carnaval de Salvador mostrou-se mais profissional e cantores e cantoras tornaram-se grandes estrelas, arrastando multidões pela capital baiana. Este ano, a festa reuniu público recorde, de 16,5 milhões de pessoas desde o pré-carnaval, para ouvir mais de 2.600 horas de música em 1016 apresentações, envolvendo mais de 12.700 artistas. E nem só de Bahia se faz a folia dos trios. O próprio Ara Ketu confirma. Segundo Dan, 2020 foi marcante. “Foram dez shows em sete dias de festa, mais de 20 shows em fevereiro, cinco edições do nosso ensaio de verão em Salvador entre dezembro e janeiro e turnê na Europa. Foi um carnaval intenso, de shows lotados e de muita satisfação. Passamos pela Bahia, por Minas, São Paulo, Maranhão e Alagoas”, vibra o cantor.
Outras sonoridades
De “Ara Ketu é bom demais” – cantando “Não dá pra esconder, o que eu sinto por você Ara” -, primeiro single de grande repercussão da banda, de 1994, ao recente “Amor de qualidade”, o grupo baiano perseguiu diferentes sonoridades. Fez músicas mais rápidas e outras mais lentas. Não deixou, no entanto, de falar de amor. “Você, é ouro por dentro e por fora. Não dá pra tirar da memória. Você é amor de qualidade”, canta Dan Miranda na faixa mais nova. “Existe uma busca muito legal de novos sons, do que está rolando e que pode ser incorporado ao nosso repertório sem deixar a essência do Ara Ketu de lado. ‘Amor de qualidade’ e ‘Praça da paixão’ são bons exemplos”, comenta o cantor, para em seguida revelar: “Já estamos preparando novas músicas e, em breve, a galera vai curtir.”
Um dos mais antigos grupos de axé baiano, criado na mesma forja do Ilê Aiyê e do Olodum, o Ara Ketu traz consigo o DNA de um ritmo que conquistou todo o país e até os que não se fizeram amantes do axé. “Mal acostumado” – “Mal acostumado você me deixou, mal acostumado com o seu amor. Então volta traz de volta meu sorriso, sem você não posso ser feliz” – hit de 1998, foi regravado pelas duplas sertanejas Simone e Simaria e Jorge e Mateus, pelos românticos Elymar Santos e Simone, pelo cool Silva e até por Julio Iglesias com sua versão “Mal acostumbrado”. “O Ara Ketu representa para mim o som da Bahia”, elogia o vocalista Dan, que em Juiz de Fora canta os sucessos do grupo ao longo das décadas. “O Ara me arrepia, é uma das histórias mais bonitas do Brasil. Sou muito feliz de representar a banda.”
ARA KETU
Sambar & Love, com Monobloco, Samba de Colher, Glicose, DJ Barney e Fernandinho DJ. Neste sábado (7), às 15h, no Terrazzo (Avenida Deusdedit Salgado 5.050 – Salvaterra)