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Dubladora de JF é indicada ao ‘Oscar da Voz’

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Andressa foi indicada na categoria “Melhor dublagem para TV ou cinema em língua portuguesa” por seu trabalho com a personagem Derin, na novela turca “Iludida”, que está disponível na íntegra na plataforma de streaming HBO Max (Foto: Divulgação)
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Andressa Mello, dubladora juiz-forana, foi indicada ao prêmio Society of Voice Arts and Sciences (Sovas). A premiação, que acontece neste domingo (10), em Los Angeles, na Califórnia, é conhecida como “Oscar da voz”. Ela reúne os principais atuadores da voz de todo o mundo, e, dentre as indicações, estão nomes como Meryl Streep, Jack Chan e Maya Rudolph. Andressa foi indicada na categoria “Melhor dublagem para TV ou cinema em língua portuguesa” por seu trabalho com a personagem Derin, na novela turca “Iludida”, que está disponível na íntegra na plataforma de streaming HBO Max.

Aos oito anos, Andressa começou a fazer teatro em Juiz de Fora, muito influenciada pela efervescência de companhias que pulsava na cidade. “Ter tido eventos como a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança anualmente me incentivou muito a seguir fazendo esse trabalho”, reflete. Na época de cursar uma faculdade, decidiu, então, arriscar e tentar Artes Cênicas na Universidade de São Paulo (USP). Ela se mudou em 2013. “E eu fui estudando outras áreas e já comecei a fazer alguns cursos de dublagem. Mas foi um processo lento.”

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Com a oportunidade de fazer um intercâmbio na Argentina, se deparou com um mercado de dublagem com muita possibilidade para brasileiros, tanto em Buenos Aires quanto em Miami. Ela conta que a estrutura para a produção audiovisual nesses lugares foi um convite ao aprofundamento e facilitou esse seu processo que, como reforça, foi aos poucos. “Até que culminou na profissional que sou hoje, com muitos trabalhos, inclusive em todas as plataformas de streaming.”

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De volta ao Brasil, seguiu na área. Por causa da pandemia, cresceu esse movimento de montar estúdios em casa, que possibilitaram pegar trabalhos do mundo todo, sem sair, necessariamente, de casa. “O nicho de dublagem brasileira ficava concentrado muito entre o Rio de Janeiro e São Paulo. Hoje, muitos dubladores trabalham de casa, e eu consigo trabalhar para diversos estúdios da minha casa. Isso torna possível que a gente trabalhe de maneira descentralizada. Hoje, é possível. É algo novo, mas já está consolidado no meio. E isso é uma consequência natural da globalização.”

Quando entra em seu estúdio, Andressa deixa suas características para trás e se concentra em dar vida a outras pessoas: tudo a partir de sua voz. “Eu acho o processo de dublagem muito divertido. Porque, diferente do teatro, que a gente tem uma relação duradoura e profunda com o personagem. Na dublagem, ela é rápida e superficial. Isso permite que a gente faça muitos personagens. Acaba que a dublagem me permitiu viver uma quantidade absurda de vida e de personagens”. Para ela, a parte mais divertida é ir construindo as características do personagem com o tempo, conhecendo mais aquela pessoa, ir criando intimidade e, então, poder “brincar”, a partir da voz, com o trabalho que tem à sua frente.

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Para Andressa, a dublagem é, ao mesmo tempo, artística e técnica: “O lado artístico é quando você tem esse poder de criação artística, das intenções da fala, de brincar com os personagem. Mas tem o lado técnico, que é você observar quando a boca abre, quando a boca fecha, tentando coordenar sua fala em cima de uma pronta, ou as técnicas vocais que você vai usar. É um equilíbrio que eu adoro fazer”. E é também um desafio, porque a realidade é interpretar, no mesmo dia, diferentes personagens. “Porque a realidade da profissão é essa: estar ao mesmo tempo em diversos projetos. Tem vez que eu sento no estúdio, eu faço uma coelhinha de um desenho, logo depois eu faço um filme de terror em que vou ser assassinada, e logo depois eu faço uma novela que é um romance, e no outro é uma assassina que vai perseguir alguém. É a realidade da profissão: a gente fica passando por diversas emoções, diversas personalidades durante o dia.”

Essencial é, inclusive, o teatro, na visão de Andressa, para o processo da dublagem: ” Por isso que precisa ser ator: não é simplesmente chegar ao microfone e falar. Você precisa realmente se colocar naquela emoção”. Mas existem algumas diferenças que precisam ser colocadas em jogo. “Eu, como atriz, no palco tenho minha mão, tenho meu rosto, tenho muitas coisas para criar um pacote de informação. E na dublagem eu só tenho a voz e o material. Mas a minha ferramenta é a minha voz. Se eu for usar minha mão, por exemplo, eu tenho que usá-la como ferramenta para minha voz chegar a algum lugar. Porque minha mão não vai aparecer no produto final”. Atualmente, inclusive, para ser dublador profissional é preciso ter o Registro Profissional de Ator, como lembra Andressa.

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Aos oito anos, Andressa começou a fazer teatro em Juiz de Fora e, atualmente, por meio da dublagem, ela consegue viver uma variedade de vidas e de personagens (Foto: Divulgação)

Construção de Derin

No caso da personagem Derin, com a qual concorre ao Sovas, Andressa conta que foi interessante esse processo porque, por se tratar de uma novela longa, foi possível ir criando intimidade. “Você descobre as coisas ao longo da novela. Em um projeto mais curto, visita o personagem e ele acaba. Agora, série ou novela você visita constantemente”. Nesse caso, ainda, para a dubladora foi ainda mais especial, pelos desafios que enfrentou. “Porque Derin tem muitas cenas intensas. Foi difícil, porque ela passou por uma alteração em seu estado emocional e, quando isso acontece, não tem pausa. As respirações são intensas. É sempre um sentimento muito grandioso. Foi muito difícil de gravar. Foi um dos grandes desafios que tive na carreira, mas eu gostei do resultado.” Por causa da intimidade, ela escolheu enviar uma das últimas cenas que dublou, quando a personagem já estava inteira para ela.

E exatamente porque gostou do resultado que ela decidiu se inscrever no Sovas. “É um orgulho mesmo. Eu gostei da forma como eu fiz e eu quis compartilhar com outros profissionais do meio. Ser indicada já é o melhor prêmio que eu poderia ter. É uma confirmação do meu trabalho que começou há 20 anos”. Agora, praticamente um mês depois da indicação e nas vésperas de viajar, Andressa reconhece que merece estar entre os nomes que vão concorrer ao prêmio. “Foi um processo de cair a ficha que eu fui indicada para o prêmio. Eu estou feliz, ansiosa e nervosa”, ri. E continua: “Mas eu estou tranquila porque eu fui entendendo que não aconteceu do nada e que eu estou me preparando para esse momento há muitos anos e que se ele chegou é porque eu estou preparada para ele”.

Inspiração

Para o futuro, Andressa planeja passar a dar cursos de dublagens e outras áreas que conseguiu se aprofundar nesse tempo. Ainda mais agora, morando em Barbacena. “Eu percebo como eu tive acesso a conhecimentos que não estão disponíveis na cidade, atualmente. Eu me vejo em um outro lugar, como uma pessoa que pode inspirar jovens que hoje estão em um lugar onde eu estava há 15 anos. É a forma como eu posso contribuir, devolver, para uma cidade que me deu muito durante minha vida toda”, finaliza.

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