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GTMG/Cia Tralha celebra 25 anos no palco

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Peça, ambientada no Recife dos anos 1920, é considerada uma das mais expressivas e críticas propostas do grupo a retratar o processo de formação do país (Fotos: Divulgação)
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Gilberto Freyre, sociólogo pernambucano responsável por uma das mais incisivas radiografias do Brasil, o livro “Casa-grande e senzala”, encontra-se com o escritor alemão Goethe, que criou Fausto, protagonista da lendária história na qual um homem vende sua alma para o demônio. Escrita em 1929 por Freyre, a crônica “Um barão perseguido pelo diabo” é a base da inusitada reunião para a qual a Companhia do Latão dá o nome de “O nome do sujeito”, peça escrita por Sérgio de Carvalho e Márcio Marciano após exercícios do grupo paulista, considerado um dos principais do teatro contemporâneo brasileiro. A trama carrega a mesma premissa do poema trágico de Goethe. O demônio persegue um barão para cobrar-lhe por um antigo pacto. Em cena, nada do barão, e sim as pessoas que o cercam. É ele quem liga todos os personagens.

“Quer conhecer o poder, então, dê poder ao homem. Na peça, todos os personagens se apropriam de algum poder”, conta Alexandre Gutierrez, diretor do espetáculo e do GTMG/Cia Tralha, que estreia nesta quinta (5), uma curta temporada da montagem no Espaço Compartilha. “É um texto extremamente atual. Basicamente ele fala das relações de poder do homem em suas várias formas”, sintetiza ele, que dá vida a Carneiro, comerciante português que tem uma loja já há algum tempo no país e tenta ensinar para o funcionário imigrante o jeitinho brasileiro. “Não vais nunca te aclimatar ao Brasil com este sentimentalismo vago. Assim vais te tornar um nada, uma vala, uma ausência, um buraco sem fundo no meio da noite”, diz o personagem em certa passagem.

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A loja de Carneiro vende de perfumes a cadeiras. As cadeiras, dispostas no cenário durante a cena dele, passam a móvel de outra casa. A escada que serve ao comerciante passa a viela em outra cena. Num mesmo tempo, mas em lugares distintos, “O nome do sujeito” opta por um único plano cenográfico. “Venho tentando fazer um exercício pessoal de quantidade cenográfica. Vivemos em outros tempos, e isso facilita nossos deslocamentos. Mas assumo que sou muito cenográfico como diretor”, reconhece o Gutierrez, que em “A casa de Bernarda Alba”, de 2004, e “Alice”, de 2011, lançou mão de grandes e detalhadas estruturas. “Dessa vez conseguimos ser mais compactos.” O poder de síntese sob os holofotes não reflete, no entanto, a complexidade e a profundidade da narrativa proposta pela Companhia do Latão em 1998.

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Ecos distantes e enigmáticos
Considerada uma das mais expressivas e críticas propostas do grupo a retratar o processo de formação do país, a peça é ambientada no Recife dos anos 1920. Para o escritor e dramaturgo Alexandre Dal Farra, em artigo para a Revista Ars da USP, as músicas presentes no espetáculo “são como que ecos, um pouco distantes e por vezes enigmáticos, de vozes que não são escutadas, de palavras que não são publicadas, notas suprimidas pela história”. Conhecendo o texto há dez anos, Alexandre Gutierrez guardou a ideia para uma boa e festiva oportunidade. Há alguns anos quase montou. E em 2019 o projeto saiu do desejo e ganhou a prática, celebrando um quarto de século do GTMG/Cia Tralha.

“Tenho muita admiração pela Companhia do Latão. A dramaturgia deles é muito interessante. O que acho mais valioso é que venho fazendo teatro na cidade e vejo uma diminuição muito grande do teatro de grupo, e o Latão traz essa resistência do teatro de grupo. Atores que jogam junto têm condições de fazer mais e melhor”, aponta Gutierrez, coordenador do curso de produção cênica da Faculdade Machado Sobrinho, que em uma de suas disciplinas exalta a importância do grupo paulista na escrita da cena contemporânea. De acordo com ator e diretor juiz-forano, a prática coletiva no palco pode ser uma solução para os desafios enfrentados por quem se aventura pelo teatro no interior do país.

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“O texto nos mostra que pouca coisa mudou no nosso país desde a colonização. Passamos pela década de 1980 e hoje ainda vemos a luta pelo poder. Isso é muito forte em nossa sociedade”, destaca o diretor, certo de que também permanecem a resistência e a relevância do artista. “Fazer teatro foi um grande prazer que tive nesses 25 anos. Profissionalmente me sinto realizado. Nesses anos todos ficamos initerruptamente fazendo espetáculos. E o maior legado disso fica para a cidade, na formação de um repertório, de atores para outras companhias”, pontua, citando um ex-ator do GTMG/Cia Tralha que hoje integra elencos na Broadway, depois de ter passado alguns anos atuando em musicais em São Paulo. “Não só esse, mas também temos os que estão em outros grupos ou dando aulas em comunidades e escolas. Esse efeito multiplicador faz valer a pena. Espero ter fôlego para mais 25 anos.”

O NOME DO SUJEITO
Nesta quinta (5) e sexta (6), às 20h. Sábado (7) e domingo (8), às 19h30, no Espaço Compartilha (Rua Barão de Santa Helena 229 – Granbery). Classificação: 12 anos

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