A indicação e a recusa, por três vezes, para a integração de Mário Quintana à Academia Brasileira de Letras só aguçaram o humor e o sarcasmo do poeta. Inspirado nos episódios, o gaúcho fez "Poeminha do contra", no qual condena a obra de muitos dos imortais ao esquecimento. "Todos estes que aí estão/Atravancando o meu caminho,/Eles passarão./Eu passarinho!". Apesar de não ingressar na Academia, é considerado pela crítica e pelo público um dos mais importantes poetas brasileiros, recebendo da própria instituição, entre outras homenagens, o prêmio "Machado de Assis", em 1980, pelo conjunto de sua obra.
Para tratar das coisas simples da vida que, quando poetizadas, ganham nova dimensão e, de repente, se apresentam como o que realmente vale a pena ser vivido, chega a Juiz de Fora a performance poética teatral "Mário Quintana – O poeta das coisas simples". O projeto, que acontece no Espaço Cultural Correios nesta quarta, quinta e sexta-feira, às 20h, é patrocinado pelos Correios e já passou por São Paulo, Pernambuco e Rio Grande do Sul. No dia 6, a apresentação contará com uma intérprete de libras.
Composto por diversas linguagens artísticas, o trabalho leva ao palco quatro atores para cantar e interpretar a vida e a obra de Mário Quintana. "Tudo acontece de uma forma bastante informal. Não há uma construção de personagens. Os atores se revezam para interpretar os poemas, ora como eles mesmos, ora como Mário Quintana", explica o roteirista, produtor e ator da performance Sérgio Miguel Braga.
Os elementos que possibilitaram uma construção cênica inspirada na simplicidade, marca do poeta, foram dados pelo próprio artista, segundo Braga. "Em sua poesia, Mário fala de tudo o que faz parte do cotidiano com muita maestria. Fala da criança, do amor, do envelhecimento, da morte." A apresentação, adaptada do espetáculo com mesmo nome, traz ainda ao público dois áudios históricos. Em um deles, o próprio poeta recita seu "Poeminha do contra", enquanto outro apresenta Bruna Lombardi declamando outro poema, escrito especialmente para ela pelo poeta.
Além de Sérgio Miguel Braga, que recentemente participou da novela "A vida da gente", da TV Globo, fazem parte da performance Selma Lopes, atriz de grandes musicais a exemplo de "Gota d’água" e dubladora de nomes como Whoopi Goldberg e Margie Simpson, Isis Koschdoski, também dubladora, com participação em novelas como "Cabocla", e Vivian Duarte, que integrou o elenco da novela "Aquele beijo".
A direção é do professor de teatro, diretor e crítico de cinema Rubens Lima Júnior, que mescla diversas linguagens para transmitir a beleza e a sensibilidade poética do "príncipe dos poetas brasileiros", falecido em 1994, aos 87 anos. "Idades só há duas: ou se está vivo ou morto. Neste último caso é idade demais, pois foi-nos prometida a eternidade", disse o poeta, dez anos antes, à revista "IstoÉ".
A diretora musical Fáthima Rodrigues escolheu o acordeom, tocado por Grasi Muller, para musicar dois dos poemas apresentados – "Canção da primavera" e "Canção do outono" – e pontuar outros momentos. "Apesar de não ter sido inventado no Rio Grande do Sul, o instrumento é muito representativo no estado. Seu som é bonito, amplo, rebuscado e interessante quando buscamos trabalhar com outras formas de linguagem em uma performance contemporânea", finaliza Braga.
MÁRIO QUINTANA – O POETA DAS COISAS SIMPLES
Dias 5, 6 e 7 de dezembro, às 20h
Espaço Cultural Correios
(Rua Marechal Deodoro 470 – Centro)