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Caetano Brasil se apresenta ao lado de Ney Souza, nesta quinta, no Autoria

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Caetano Brasil diz que quanto mais assume sua autenticidade, como ser um artista preto e LGBTQIA+, mais isso atravessa a sua comunicação e traz mais gente para sua música (FOTO: Divulgação)
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Encontrar os caminhos para fazer com que, cada vez mais, a música chegue a outras pessoas. Caetano Brasil segue isso como missão. Porque a ele não interessa manter a impressão de que música instrumental é coisa somente de “gente refinada, de classe”. “Eu preciso que a minha música chegue às pessoas. Então, vamos entender quais são os caminhos para fazer isso acontecer”, afirma o clarinetista, saxofonista e compositor juiz-forano.

Ao mesmo tempo que está à frente de seu quarteto, com o qual já lançou três discos (dois autorais e um, o mais recente, de interpretações de canções de Pixinguinha), desde 2021 passou a rodar com o Caetano Brasil e o Choro Livre: um trio, composto por Bia Nascimento (violão) e Chico Cabral (pandeiro e percussão), que deu a ele novas possibilidades de ocupação e de trabalhar a música. E, além deles, tem participado de outros projetos como solista, como músico convidado. São várias vertentes que mostram que o interesse é a música, e rodar com ela, deixando sempre exposta sua personalidade, que é também fruto do choro, mas inclui outros diversos gêneros musicais com os quais ele flerta, do mundo todo. Nesta quinta-feira (5), Caetano Brasil se apresenta, ao lado do violonista Ney Souza, na Autoria Casa de Cultura, a partir das 19h30. E já na sexta (6), seu trabalho com o Choro Livre ganha as plataformas digitais com o lançamento do single “Surpreendente”, que antecede um EP, com mais duas músicas, previsto para ser lançado ainda neste mês.

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Primeiro, o show. Caetano e Ney Souza, que é violonista, se conheceram, como quis o destino, em uma roda de choro. De primeira, perceberam que tinham muitas coisas em comum, principalmente referências. “E não só dos cânones do choro, mas de outros músicos que influenciam a gente”, conta Caetano. A partir desse contato inicial, uma parceria foi sendo criada, por causa das afinidades que atingem os dois, para além da música, inclusive. Tanto que, em 2020, eles lançaram um podcast, o “Compasso binário”, que fala de música, claro, sobre choro, sobre a profissão, inclusive, na segunda temporada, entrevistando outros músicos que somaram nessa percepção do que é fazer música no Brasil.

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Ney Souza conheceu Caetano Brasil em uma roda de choro, quando perceberam que tinham muitas referências em comum (FOTO: Divulgação)

Entre os papos, eles encontravam brechas para tocar no próprio podcast. E são essas músicas, várias autorais, outras das referências em comum dos dois, que eles vão apresentar nesta quinta. “É um concerto de duo, que é sempre uma loucura de tocar, porque é muito íntimo, mas com uma pessoa que eu me sinto muito à vontade e estou muito ansioso para rever”, confessa. Os ingressos podem ser adquiridos no Instagram da Autoria.

No repertório, vai ter, inclusive, músicas que Caetano compôs pensando no Choro Livre. Já como forma de antecipar o lançamento, que é na sexta. Foi, inclusive, na Autoria, o último lugar que ele, Bia e Chico tocaram em Juiz de Fora, em março deste ano. Já as gravações do EP foram acontecer em junho. Isso tudo é fruto de uma relação que começou no final da pandemia, principalmente, quando o trio fez uma temporada no Gema, no final de 2021. “De forma despretensiosa, a gente começou a tocar junto e viu que dava liga”. Eles passaram a levar o Caetano Brasil e o Choro Livre para outros espaços.

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Também as salas de concerto, mas não ficando limitados a esses lugares. Os ensaios semanais fizeram surgir uma relação que também ultrapassa a música, cheia de piadas internas e brincadeiras entre um café e outro no meio das passadas em cada partitura. Daí, surgiram algumas versões que não necessariamente são um choro em essência, como “Beijo partido”, de Toninho Horta, cantada por Milton Nascimento e que ganha cara nova na versão instrumental do trio.

Caetano Brasil e Choro Livre (FOTO: Igor Tibiriçá)

O choro é livre

Surgiram também canções autorais. Algumas que Caetano já até tinha feito e que o trio passou a tocar, como “Surpreendente”. O nome do trio virou música também, que Caetano fez para Bia e Chico, que também vai estar no EP. “Beijo partido” quase entrou no EP, mas “Brava”, canção que Caetano fez para a violonista Letícia Marram, do Pará, que o compositor define como uma “afro-valsa”. Escolher “Surpreendente” como a música que é o abre-alas digital do trio, de acordo com Caetano, tem a ver, inclusive, com o todo do EP.

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Além de ter sido a primeira música que eles tocaram juntos, para o artista, ela resume bem o que é Caetano, Bia e Chico juntos. “Apesar de ser um choro, é um choro que brinca muito com as fórmulas de compasso, com as quadraturas da música, surpreende o ouvido de quem está acostumado com o choro, surpreende muito quem está tocando, porque não tem uma condução muito linear. E os meninos trouxeram uma atitude rock and roll para a música. É chegar chegando”, define.

Como os ensaios e os encontros sempre foram regados à música e a “memes”, eles deram jeito de incluir isso tanto na divulgação dos trabalhos quanto na própria música. “Surpreendente” começa com Bia falando: “Alô, mundão! Boa tarde. Chegamos”, porque era o que ela fazia toda vez que chegava a uma cidade para tocar com o Choro Livre: gritava isso, da janela de um hotel, e Caetano sempre gravava – o que rendeu bons risos. “É um jeito de contar essa história com uma música que a gente já estava sentindo muito à vontade de tocar apesar dessas novidades que ela propõe. A gente já estava improvisando muito e a gente estava muito soltos. Eu achei que ela é uma boa antecipação da verve do EP.”

Inclusive, o próprio nome Choro Livre vem de um meme, também, aquele: “O choro é livre”. Mas tem um pé forte na música, no choro. Porque, para Caetano, o choro é realmente livre para flertar o que se quer. “Chico e Bia flertam com outras coisas e eles imprimem isso nas músicas. Eles trazem outras nuances que deixam a execução com a nossa cara, que é uma coisa que eu acho que a gente conseguiu refletir bem no single e no EP. A gente gravou tocando juntos no estúdio. Quase que a gente levou para o estúdio o que a gente faz no palco. Eu fiquei muito feliz com o resultado porque conseguimos preservar essa infantilidade que a gente tem na nossa convivência”.

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Uma marca, mas autêntica

Caetano, nesses anos todos dedicados à música, entendeu que seu nome é, sim, uma marca. E foi isso que o fez ter a possibilidade de diversificar seu leque de opções, os produtos dessa marca. “Porque tem que dançar conforme a música, então eu tenho conseguido isso, de circular com o meu nome, me consolidar como artista solista no cenário da música instrumental, mas abrindo leque. Então, eu preciso olhar com carinho, com responsabilidade, e, sobretudo, de uma maneira estratégica, projetando novos lugares, para que eu atinja outras pessoas, toque em lugares que ainda não esteja tocando e que ainda quero tocar”. Caetano busca fazer isso, mas sem abrir mão do que é, realmente, autêntico para ele. “Quanto mais eu assumo essa autenticidade, assumo as várias coisas que fazem parte de mim, como ser um artista preto, LGBTQIA+, quanto mais isso atravessa a comunicação, mais gente eu trago para minha música.”

E, ao contrário do que muitos pensam, ele entende que música e mercado não são um conflito: “Se a gente entra em um discurso da arte pela arte, no meu lugar de artista independente, isso só vai inflar o meu eco e esvaziar minha dispensa”. E segue: “Eu preciso pensar em estratégias que me façam ocupar as brechas que o mercado oferece, mas sem perder essa autenticidade”. Isso, por vezes, faz ter a sensação de que ele não para. Só pelas redes sociais se tem esse contexto, e ele ainda assumiu o título de professor da Bituca Universidade de Música. “Não paro, mas estou construindo. E eu sou essa pessoa que gosta de encontrar gente, viajar, conhecer coisas diferentes, porque eu acho que alimenta também o meu processo artístico”, finaliza.

 

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