Ajustes de contas, conflitos familiares, a relação de poder e a dependência humana do outro são os temas principais dos espetáculos desta sexta-feira no 8º Festival Nacional de Teatro, que terá a apresentação de duas companhias da cidade paulista de São José do Rio Preto. A primeira peça, que será apresentada no Diversão & Arte, é o drama familiar “Longos anos”, da Cia. Hecatombe; mais tarde, no CCBM, será a vez da tragicomédia “Mundomudo”, da Companhia Azul Celeste, em que o diálogo dá vez à interpretação sem palavras.
O conflito entre duas irmãs gêmeas é a força motriz de “Longos anos”, peça idealizada, escrita e dirigida por Homero Ferreira, da Cia. Hecatombe, com a orientação de atores e diretores amigos. Com apenas uma poltrona servindo de cenário, a história gira em torno do reencontro de Bete e Joana após a morte da avó de criação das duas.
Separadas na adolescência, Bete ficou responsável por cuidar da idosa enquanto Joana sumiu no mundo. Ao se reencontrarem, elas fazem o que o diretor chama de “lavagem de roupa suja”. Segundo o artista, dois foram os elementos de inspiração para a montagem: o clássico filme dos anos 50 “O que terá acontecido a Baby Jane?”, com Bette Davis e Joan Crawford, além da presença marcante de mulheres fortes no seu núcleo familiar. “Comecei a trabalhar no texto em 2011, mas era algo que não queria que ficasse preso a um prazo, ao contrário do que faço para outras companhias. Era para ser livre de pressões, a fim de exercitar o meu lado dramaturgo. Um dos objetivos dessa peça é discutir o papel da dramaturgia contemporânea, como ela se estabelece, como temos muitas opções para criar”, explica Homero.
Uma particularidade do drama é o fato de que cada apresentação conta com um ator ou atriz diferente. Homero sempre convida um artista da cidade onde vai se apresentar para fazer o papel de Joana. Em Juiz de Fora, a incumbência fica por conta de José Eduardo Arcuri. “Esse é um espetáculo que acontece pela palavra, e a presença de um ator convidado faz com que ela nunca seja a mesma”, diz o ator e diretor.
Esta é a quarta peça da Cia. Hecatombe, criada em 2005, e a terceira dirigida por Homero. A montagem estreou em São José do Rio Preto em fevereiro deste ano, tendo rodado por outras cidades do interior paulista, sendo este o primeiro festival em que “Longos anos” é apresentada.
Contar uma história sem palavras é o objetivo da Companhia Azul Celeste em “Mundomudo”. O ator Jorge Vermelho interpreta, com Henrique Nerys, a relação silenciosa de dois palhaços abandonados em um picadeiro a partir do roteiro de Cíntia Alves, inspirado no texto “Fim de jogo”, de Beckett, e dirigido por Georgette Fadel. “É um roteiro dramático, de ações, não há uma fala em toda a peça, apenas uma trilha sonora gravada e os dois palhaços tocando ao vivo. Acreditamos que não é preciso texto para existir teatro, o que é necessário é existir uma ação. Sem ela não, existe teatro”, pontuou Jorge, ressaltando que há espaço na tragicomédia para improvisação da dupla.
Para o ator, “Mundomudo” tem como eixo principal a dependência do humano um com o outro, “essa relação de opressor e oprimido que se estabelece entre nós.” Para isso, o cenário da montagem foi imaginado como um picadeiro metafórico. “Não existe um picadeiro de circo com tratamento realista, apenas alguns elementos que o compõem.”
Jorge Vermelho diz ainda que a peça foi desenvolvida em pouco mais de um ano, com a participação efetiva de todos os envolvidos, e encenada pela primeira vez em julho, em São José do Rio Preto, indo em seguida para o Festival Nacional de Teatro de Limeira. A terceira cidade a receber a apresentação é justamente Juiz de Fora.
FESTIVAL NACIONAL DE TEATRO
“LONGOS ANOS”
Nesta sexta-feira, às 19h
Diversão & Arte (Rua Halfeld 1.322)
“MUNDOMUDO”
Nesta sexta-feira, às 21h
CCBM (Avenida Getúlio Vargas 200)