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Andrelândia investe em ‘turismo de experiência’ com história mineira e produção artesanal

Andrelândia
Em Mirante do Cristo, centro urbano e turístico de Andrelândia se desenha cercado de montanhas (Foto: Bruno Figueiredo)
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Localizada no Sul de Minas Gerais, a menos de 150 km de Juiz de Fora, a cidade de Andrelândia carrega em seu mapa muita história e um território favorável para a produção artesanal de diversas iguarias — como queijo, vinho, cachaça, macadâmia, azeite, mel e cafés especiais. São 1.010 km² de área total e uma população de mais de 12 mil habitantes, que viu de perto as transformações pelas quais o estado passou, quando as linhas ferroviárias, que tiveram um papel fundamental no desenvolvimento da região, na Serra da Mantiqueira, tiveram a sua desativação quase total e a pausa de funcionamento para passageiros entre 1990 e 2000. Foi assim que o isolamento começou, o comércio perdeu força e a economia local passou a depender mais das estradas e do transporte rodoviário. Esse processo, no entanto, levou a cidade ao estágio que se encontra atualmente: investindo no turismo de experiência e acreditando em suas belezas naturais, focando em turismo rural. 

A cidade conta com o Parque Arqueológico Serra de Santo Antônio, que todo ano atrai turistas de diferentes localidades do Brasil e até do mundo para visitação. Mas a gestão municipal de Andrelândia vem descobrindo outros tesouros: “As pessoas querem viver experiências verdadeiras. A gente percebe que estão cansadas da cidade grande e da rotina, e aqui podem realmente conhecer os processos, como do queijo, do vinho e do mel”, conta Fernanda Campos, Secretária de Cultura e Turismo da cidade. Ainda que o investimento no setor seja recente, ela entende que o município tem muito o que explorar nesse sentido, já que pode oferecer visitações diretas aos locais de produção, além da vivência interiorana cheia de história.  Na segunda matéria da série “Caminhos da Mantiqueira”, a Tribuna foi até o local convidada pelo Governo de Minas Gerais, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult-MG) e da Companhia de Desenvolvimento de Minas Gerais (Codemge), para uma press trip com 30 jornalistas e influenciadores de todas as regiões do país.

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Arquitetura histórica é atrativo e faz parte da memória da população, de acordo com entrevistados (Foto: Bruno Figueiredo)

Exemplo disso é o centro da cidade, onde nasceu a antiga Vila Bela do Turvo, em 1868, nomeada assim pelo rio que passa bem em seu centro. Lá, é possível ver um pouco da história que tem como personagens o fundador do povoado que mais tarde seria homenageado com seu nome, André da Silveira, e também o Barão de Arantes, responsável por levantar os recursos para a construção do prédio da Câmara e da cadeia da cidade. Na região, é possível ver o formato de barca em que a pequena zona urbana da cidade foi construída, assim como Cine-Theatro Glória, datado de 1886, que tem 328 lugares e recebe apresentações de teatro, e que neste momento está passando por reformas e recebendo investimentos para voltar a ser o único cinema da cidade. Para os boêmios, há ainda o Bananas Bar, ao lado da Igreja da Matriz, que ganhou fama na região por se intitular o bar em funcionamento mais antigo do Brasil. 

A busca por conservar o que é típico de Andrelândia ocorre não apenas pelo turismo, mas também pela vontade de preservar o que é da memória da população. Essa importância é defendida também pelo professor da rede municipal e integrante do Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Cultural (Comppac), Washington Roberto. “Nessa estação tinha gente esperando os parentes chegarem, vendo as pessoas indo embora, e tinha gente paquerando. Quando perdeu sua funcionalidade, ficou abandonada. Mas é um lugar de memória para nós”, diz. Atualmente, uma dessas estações é preservada e conta com um parque ao lado, com uma biblioteca e ainda serviços do INSS. 

 

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Solo favorável para produção de vinho e macadâmia

Vinícola ABN já teve 25 mil pés de uva e produziu até 7 mil garrafas de vinho por ano (Foto:Bruno Figueiredo)

Quando o húngaro Istvan Karoly Kasznar veio para o Brasil, em 1999, ele fez um estudo para determinar onde o solo e as condições climáticas mais se pareceriam com o da França, para que pudesse, assim, começar a sua vinícola. O lugar escolhido foi justamente Andrelândia. É o que explica Niclodênio da Silva, encarregado pela gestão da vinícola: “Estamos em uma área alta e arejada, que tem as características para produzir um bom vinho o ano inteiro”, diz, e ressalta ainda que a menor acidez do solo traz vinhos de aspectos mais doces. O espaço onde funciona a Vinícola ABN, junto com a fazenda que recebe hóspedes e eventos, já chegou a ter 25 mil pés de uva e produzir até 7 mil garrafas de vinho por ano. 

Como uma chuva de granizo atingiu o local em 2016 destruiu grande parte do parreiral, no entanto, a produção diminuiu, mas vem se recuperando desde então, e para isso aposta na variedade. Além dos vinhos tradicionais de cabernet sauvignon, syrat e merlot, que têm preços variando entre R$40 e R$400 de acordo com a safra e o tempo de reserva, o local também conta com um cardápio diferenciado: é o caso do vinho de jabuticaba e até do “Assombroso”, que mistura as uvas com cachaça, mel, raízes e folhas. Outro diferencial é a produção de macadâmias, que ocorre em pelo menos outras duas fazendas de Andrelândia, além da ABN, e que se aproveita das mesmas características do solo — e funciona como uma noz bastante diferenciada em Minas, que é produtora de 25% das nozes do Brasil (sendo, no total, 250 produtores em todo o Brasil, de acordo com informações da Associação Brasileira da Macadâmia)

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Café local e meliponário 

Toda experiência começa ao entender o que é o próprio diferencial e valorizá-lo. É pra isso que Ricelli Martins pensou em abrir, ao lado da esposa, um café que funcionasse como ponto cultural da cidade, e que reunisse o que há de melhor da produção andrelandense em um só local: o Doce com Amor. No começo, ele conta que era difícil justificar para a população por que um café lá custava mais que podia ser encontrado em uma padaria, mas foi com “conversa e sabor” que ele foi convencendo as pessoas de que o local tinha um diferencial. “Tentamos trazer o que a gente vive através dos produtos. O cliente chega e eu recomendo, por exemplo, um café especial, produzido aqui pertinho, que vai ter um sabor diferenciado, ou então um capuccino artesanal feito com ele”, explica. No cardápio, há toda uma seleção de premiados, que inclui também a cachaça Me Leva e os Laticínios Fazenda Generosa.

Meliponário existe há 5 anos e fica em uma das regiões mais biodiversas para abelhas sem ferrão (Foto:Bruno Figueiredo)

O meliponário Mel Mágico, por sua vez, é uma atração à parte: são 36 espécies de abelhas nativas e sem ferrão, incluindo as subterrâneas e as aquáticas. Além de venderem o mel puro, a fazenda faz o hidromel, a bebida antiga dos vikings, que tem registros de sua primeira produção no mundo há mais de 8 mil anos. “Estamos em uma das regiões mais abençoadas para as abelhas. É uma das regiões mais biodiversas para as abelhas sem ferrão do Brasil”, conta Robson Neto, de 14 anos, que é apaixonado por abelhas e atua como guia do local. Para ele, um dos diferenciais desse meliponário é ter cada caixa de colmeias pintada, deixando o espaço ainda mais bonito, e ser cercado por uma vegetação rica. Os visitantes podem conhecer de perto a menor abelha do mundo (a lambe-olhos) e a que dizem ter o mel mais saboroso e raro (a mombucão), além de ver, na hora, a retirada do mel das colmeias, experimentar as variedades e conhecer mais do processo de produção, vivendo intensamente cada uma de suas etapas.

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