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Variação total

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Antônio Carlos Duarte
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Igreja da Glória

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Para se mostrar democrático no gosto musical diz: “Eu sou eclético”. Para usar-se de um eufemismo ao criticar alguém que a cada dia está com um estilo diferente de se vestir diz: “Fulano é eclético”. Para fins de imprecisão, eclético pode ser o termo mais exato. Para a paisagem de Juiz de Fora, contudo, é caráter. Ainda que frequentemente pejorativa, a palavra é a que melhor define a arquitetura da cidade. “O termo tem um sentido de variedade, diversidade. Num momento histórico tem inspiração historicista, baseada na arquitetura antiga. O olhar voltado para o passado é uma característica do ecletismo. São formas passadistas, enquanto o art déco olha para o futuro”, destaca o arquiteto e pesquisador Antônio Carlos Duarte sobre seu “Arquitetura eclética – Juiz de Fora” (Funalfa Edições, 200 páginas), título que lança no próximo dia 8, sábado, às 11h, num dos mais representativos prédios ecléticos da cidade, o Cine-Theatro Central.

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“Nesta cidade, como tem sido sempre relatado, o estilo nasce de forma especial, com a firma Pantaleone Arcuri, que edifica uma cidade eclética personalíssima. Seus telhados de ardósia, seus ornatos de ferro, seus para-raios desenhados, seus acrotérios, seus ladrilhos hidráulicos, seus lambrequins feitos com serra tico-tico, são executados com material fabricado pela própria empresa”, ressalta, em prefácio do livro, a memorialista Rachel Jardim, apontando para uma história escrita, em grande parte, pela pena de Rafael Arcuri.

Segundo Duarte, Arcuri traduziu o espírito de uma época. “Não tem sentido, hoje, um arquiteto produzir um prédio em estilo eclético. O Rafael era coerente com aquele momento e fez a transição para o decó. Ele agiu de acordo com a contemporaneidade dele. Não há dúvida de que é um dos indivíduos mais marcantes de seu tempo”, comenta o pesquisador, que saiu às ruas e realizou mais de 10.500 fotografias em seus trajetos. “Foi algo muito gostoso, porque redescobri a cidade”, pontua.

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Iniciado em meados do século XIX e findado na década de 1920, o estilo rendeu casas icônicas pela área central, como o Centro Cultural Bernardo Mascarenhas, a Escola Normal, dentre muitos outros cartões-postais. “Talvez seja um dos mais significativos estilos em Juiz de Fora. São edificações que marcaram a paisagem e o imaginário das pessoas”, completa Duarte, chamando atenção para um elo na cena aparentemente dispersa. “A permanência desses imóveis (em sua maioria tombados) se deve à qualidade da arquitetura, ao valor simbólico e ao sentido deles para o cidadão. A fábrica, quantos milhares de pessoas conseguiram seu pão de cada dia nesse lugar? o museu nem se fala: conta todo o desenvolvimento da cidade, que sempre teve vocação para o pioneirismo.”

Ornamentos de ouro

Erguido em 1889, o Banco de Crédito Real de Minas Gerais passava a existir para a cidade justamente quando o luxo de seus detalhes dialogavam com o estilo das ruas. Do café às indústrias, tudo se escancarava efervescente. “Era um período de grande vitalidade econômica e comercial. A chegada da União & Indústria, depois da Maria Fumaça, formatou um momento importante para a cidade que se tornou destaque nacional. Nessa fase, surgem prédios que marcaram as ruas”, pontua Antônio Carlos Duarte, citando, ainda, a Associação Comercial, na Praça da Estação, com seus vitrais, esculturas e afrescos de Angelo Bigi, além de suntuosos lustres.

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“Num único prédio pode haver diversas características e desenhos. Num mesmo momento histórico, o edifício pode ser em estilo gótico e/ou em estilo românico, mourisco. O Museu Mariano Procópio (do qual Duarte foi diretor de 1997 a 2004) tem seu prédio em estilo eclético e seu acervo também, já que abrange uma diversidade de coleções”, explica o pesquisador, acrescentando o potencial dos colégios (como Academia de Comércio e Santa Catarina) e das igrejas (como a da Glória e a Capela da Santa Casa).

Com acabamento primoroso, o livro que reúne fotografias e curtos textos, de acordo com Duarte propõe uma revalorização da história arquitetônica local. “Não há pretensão acadêmica. Muitas pessoas ainda passam despercebidas diante desses monumentos, e um livro faz despertar a atenção do cidadão, e, por consequência, amar e zelar pela cidade, além de interagir. O indivíduo precisa conhecer e se sentir bem onde mora”, relata Duarte, lamentando a atual deterioração da região central, onde se concentra o maior número de representantes do estilo.

“O Centro precisa manter sua vitalidade para obter a segurança e o conforto. É imprescindível que existam políticas públicas para que uma renovação do uso aconteça. A preservação desses monumentos enriquece a cidade culturalmente e qualitativamente”, propõe o estudioso, que além de recuperar detalhes como os coruchéus, capitéis, parquets e ladrilhos, resgata imagens pretéritas de uma cidade muito mais una. O eclético, sim, já foi muito mais harmônico na paisagem.

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“ARQUITETURA ECLÉTICA –

JUIZ DE FORA”

Lançamento de livro neste sábado,

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dia 8, às 11h

Cine-Theatro Central

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