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Artistas de circo há mais de 40 anos, casal de acrobatas conta como é a vida entre a estrada e o picadeiro

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De sexta a domingo, Valéria e Joseph entram no picadeiro e apresentam juntos seu número de acrobacias. Há mais de 40 anos, o casal se dedica a essa arte (Foto: Leonardo Costa)
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Por onde passa, o circo chama atenção. O encanto provocado pelas mais diversas apresentações ecoa na memória da plateia que, muitas vezes, fica curiosa para saber como é o dia a dia daqueles que fazem o show acontecer. A vida no picadeiro é marcada por horas de treino, dias na estrada, novas pessoas, novos lugares e muitas outras situações que se distanciam da rotina usual. Aproveitando a passagem do Circo Portugal por Juiz de Fora, a Tribuna foi até a lona e conversou com a família Farfan Portugal sobre os desafios e as alegrias da arte itinerante.

Era quase 11h de uma sexta-feira, quando a equipe da Tribuna foi recebida por Valéria Farfan e José Roberto Portugal no espaço em que a tenda e os trailers do Circo Portugal estão posicionados no Salvaterra, Zona Sul da cidade. Hoje, mais de 50 artistas e pessoas que trabalham nos bastidores do espetáculo vivem ali. De dia, é possível ver tudo aquilo que as atrações da noite não mostram, roupas penduradas no varal, cachorros pelo “quintal” dos trailers, e outros detalhes que se aproximam de uma rotina comum. De sexta a domingo, Valéria e Joseph – nome artístico de José Roberto – entram no picadeiro e apresentam juntos seu número de acrobacias. Há mais de 40 anos, os dois se dedicam a essa arte. Ambos são de família circense e já nasceram nesse ambiente, ela em Brasília e ele em Campos, Rio de Janeiro.

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“Minha família veio do Chile para o Brasil. Meu bisavô era circense, eu já sou a quarta geração que segue na arte e tenho passado esse legado para as minhas filhas. Minha família é tradicional de trapezistas e tudo que eu aprendi foi com meus pais”, comenta Valéria. Também da quarta geração da família Portugal, Joseph foi criado no picadeiro na época em que ainda não havia trailer e os circenses moravam em barracas. Ele já fez um pouco de tudo no circo, trabalhou como acrobata, motociclista no globo da morte e foi até domador de urso, quando era permitido animais. “Meu pai era palhaço, eu fui criado nesse meio. Minha mãe era da cidade, veio para o circo, casou com meu pai e eles viajam até hoje trabalhando no picadeiro.”

Em 1996, os dois se conheceram no Circo Portugal e, mais tarde, decidiram comemorar a união com um casamento dentro do picadeiro. “Um padre veio aqui e fez a celebração em cima do palco. Foi muito especial. Eu já tinha esse sonho de casar no circo desde pequena e ele me disse que também era um sonho dele. Na época, estávamos passando uma temporada em Maringá, no Paraná, e isso já faz 19 anos.” Hoje, a caminhada não é só dos dois, suas filhas, Nicole, de 16 anos, e Melissa, de 8 anos, já demonstram a vontade de seguir na vida circense. “O ônibus é a nossa casa. Nós crescemos vendo os espetáculos sendo montados e sendo ensinadas também a fazer essa arte”, diz Nicole, que tem se aventurado nos números de acrobacia aérea com faixas, ensinados por sua mãe. A pequena Melissa ainda não faz nenhuma apresentação, mas já está treinando contorcionismo e tem nos pais e na irmã uma referência. “É difícil e fácil. Depois que aprende fica fácil”, ela brinca e concorda quando seu pai fala: “o circo é nossa vida. É o que a gente ama fazer”.

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O casal de acrobatas e as filhas Nicole, de 16 anos, e Melissa, de 8, que já demonstram a vontade de seguir na vida circense (Foto: Leonardo Costa)

Desafios do picadeiro

Para quem olha de fora, a vida no circo é rodeada por liberdade e fantasia, e de fato é. Mas, há também desafios que tornam a rotina itinerante mais difícil. Quando as luzes da lona se apagam e a plateia vai embora, o casal, muitas vezes, permanece ali, ensaiando os passos que não saíram como o planejado. As dores e os hematomas são alguns sintomas do esforço que essa arte exige, mas a paixão pelo picadeiro é o que move os dois. “Nós não podemos perder essa vontade de estar no palco. Então, você pode estar com dor, com problemas, mas quando abre a cortina você esquece tudo e foca no momento”, diz Valéria, e Joseph complementa: “quando a apresentação acaba e você volta para a parte de trás das cortinas, ai você lembra que está com dor, mas aqui dentro você tem que dar o seu melhor.”

Para eles, a constante mudança de cidade ao mesmo tempo em que tem seu lado bom de conhecer novas culturas, também traz obstáculos. Nem Valéria nem Joseph sabem dizer por quantas cidades já passaram. “Rodamos o Brasil todo.” Em todo lugar que vão, a família faz novas amizades e a despedida é sempre a parte mais difícil. “A gente sente saudades das amizades e não temos noção de quando vamos poder rever elas novamente”, afirma Valéria. Além disso, suas filhas precisam ser matriculadas em uma escola nova em cada cidade. “O tempo em que ficamos em cada lugar depende do tamanho da cidade e da movimentação do circo. Nas cidades ficamos mais de um mês, mas tem lugares em que ficamos duas semanas, por exemplo”, relata Joseph.

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