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Grupo local leva história real ao palco

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Marisa Loures (à frente) e Táscia Souza interpretam duas desconhecidas que se tornam confidentes e desenvolvem uma longa amizade. (Foto: divulgação)
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Joana vive o drama da doença de seu marido e precisa de alguém para desabafar. A oportunidade surge de forma inesperada quando Roberta, telefonista de uma instituição de assistência a pessoas necessitadas, liga para Joana a fim de pedir uma contribuição, e esta aproveita para contar a difícil fase por que passa. As confidências feitas a uma desconhecida acabam por resultar em uma amizade que ultrapassa os anos por meio de diálogos telefônicos em que as duas se tornam confidentes uma da outra. Esta é a trama, inspirada em um fato real, de “Educandário São Bernardo”, peça do projeto Hupokhondría que estreia nesta sexta-feira (4), às 20h35, no Espaço Compartilha, no Granbery, onde fica em cartaz até o próximo dia 27 com sessões aos sábados e domingos, no mesmo horário.

A peça tem Marcos Araújo na direção, em sua estreia no ofício, com as duas únicas personagens interpretadas por Táscia Souza (Roberta) e Marisa Loures (Joana). O texto é de Gustavo Burla e foi escrito a partir de uma história que aconteceu com sua sogra, mãe de Táscia. “Meu padrasto morreu há alguns anos devido a um câncer. Minha mãe já estava no cemitério para o velório, e passei em casa para almoçar, pois havia resolvido as questões burocráticas a respeito da morte dele. Foi quando atendi à ligação de uma mulher pedindo para falar com minha mãe. Expliquei que ela estava no velório, e essa moça ficou consternada. Quando cheguei ao cemitério, comentei com minha mãe.

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Ela disse que não a conhecia pessoalmente, mas que as duas começaram a conversar meses antes quando ela havia ligado solicitando uma doação para o Educandário Carlos Chagas”, conta Táscia. “Minha mãe disse que precisava conversar com o marido antes e caiu no choro, contou os problemas de saúde dele. Desde então, essa moça passou a ligar perguntando sobre seu estado de saúde. Esse episódio inspirou meu marido, o Gustavo, a escrever a peça meses depois.”

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À espera do momento certo

Segundo Táscia, o texto ficou engavetado por alguns anos devido à forte carga emocional para os dois. “A gente não sabia como lidar com isso, só no final do ano passado é que decidi encenar a peça, mas o Gustavo disse que não tinha condições de dirigir.” Foi então que eles procuraram Marcos e Marisa, com quem trabalharam inúmeras vezes nos últimos 15 anos, para participarem da peça. “No início da leitura, a gente não sabia quem faria qual personagem”, relembra Marisa Loures. “Fizemos várias leituras, e a Táscia sempre se emocionava, tanto que quando fomos decidir a personagem de cada uma, ela preferiu fazer a Roberta, pois não conseguiria interpretar a mãe.”

“Essa peça é muito verossímil, é uma situação que pode acontecer com qualquer um. Se não aconteceu contigo pode ter acontecido com uma pessoa próxima, a perda de um familiar, um ente querido”, acrescenta Marcos Araújo. “Ela aborda a situação de perda e, ao mesmo tempo, fala de uma amizade que nasce da tentativa de superação de uma perda, a Joana encontra na Roberta um alento para superar essa perda. ‘Educandário…’ é muito atual por tratar da importância das relações pessoais, pois vivemos num momento em que as relações estão muito superficiais, pautadas no plano virtual. Ao mesmo tempo em que são estabelecidas, elas acabam desfeitas com muita facilidade. Queremos mostrar o outro lado disso, a importância de um laço sendo construído”, pontua o diretor estreante. “É uma função que já pensava em assumir há algum tempo, e quando eles fizeram o convite acabei aceitando. Acredito que era a hora certa.”

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Processo de interpretação

Telefonista interpretada por Táscia Souza se torna confidente e amiga de Joana. (Foto: divulgação)

As duas atrizes comentam, ainda, sobre o processo de encontrar o tom de cada personagem. Marisa Loures lembra que Gustavo Burla fez questão de não assistir aos primeiros ensaios para não opinar sobre o processo de composição das personagens e da história. Cabia a cada uma se encontrar no palco a partir do texto, das propostas do diretor e de como cada uma enxergava sua personagem. “A dificuldade da Joana está nas nuances”, afirma Marisa. “Ela começa o espetáculo muito triste, mas com a ajuda da Roberta ela melhora, dá a volta por cima, porém daqui a pouco cai de novo… Você sai de cena chorando e volta rindo. É uma personagem densa, com muitas nuances. No caso da Roberta, chegamos à conclusão de que ela era supermisteriosa, criamos histórias para elas na nossa cabeça.”

“Para minha composição da Roberta, precisei imaginar como era a vida dela antes da ligação, porque o texto não dá muita informação sobre ela, há muito mais detalhes sobre a Joana”, observa Táscia Souza. E foi com essas concepções que Gustavo enfim assistiu a um ensaio, no início de julho. “Procuramos decorar todo o texto, mostramos as personagens para ele. No final do ensaio ele chegou e disse: ‘não eram essas as personagens que imaginei’ (risos)”, conta Marisa. “Mas ele ficou feliz por encontrar outra Roberta e outra Joana.”

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