
A Editora Nova Fronteira acaba de lançar uma edição comemorativa da peça “Auto da compadecida”, de Ariano Suassuna, em homenagem aos 70 anos de publicação. A obra virou um clássico da literatura brasileira e tem grande influência na cultura popular, já tendo sido adaptada para o cinema e, recentemente, ganhado uma continuação nas telas. O autor, que é um dos idealizadores do movimento armorial, é conhecido por criar arte erudita tendo como base a cultura brasileira (e principalmente nordestina) junto com tradições populares. Além da obra, também foi lançado um box com a poesia completa do escritor paraibano, “Pasto incendiado”, que contou com organização de Carlos Newton Júnior, pesquisador que foi aluno e amigo do autor.
Apesar da obra “Auto da compadecida” ser muito conhecida pelo público, a poesia do autor ainda é menos celebrada do
Desde 1990 pesquisando este trabalho, Carlos Newton Júnior, professor de Literatura na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), é uma grande referência quando se fala em Suassuna. Por isso, a Tribuna o entrevistou para conhecer mais sobre a organização da obra e entender a relevância do autor, que segue sendo relido e lido por novas gerações.
Leia entrevista completa com organizador do novo livro de Suassuna:
Tribuna: O que motivou a reedição dos livros de Ariano Suassuna? Podem nos contar um pouco sobre como foram feitas essas edições comemorativas?
Carlos Newton Júnior: O motivo maior foi o fato de a poesia de Suassuna, a “fonte profunda” de tudo o que ele escrevia, segundo o próprio autor, ter sido pouco publicada em livro, permanecendo, durante décadas, esquecida nas páginas de revistas e jornais em que os poemas foram publicados de forma esparsa. A organização foi feita ao longo do tempo. Em 1999, consegui que a editora da UFPE publicasse uma antologia de poemas de Ariano, por mim organizada. Para organizar a poesia completa, parti daquela edição, há muito esgotada. Reestruturei o livro inteiro, incluindo os muitos poemas que não haviam sido publicados anteriormente.
Também será lançado um livro inédito de poesias. Como foi feita a reunião desses poemas? Como eles não tinham chegado ao público ainda?
A reunião foi feita a partir dos originais e da antologia por mim organizada em 1999. No caso de alguns originais em manuscrito, tive ainda que fixar os textos, uma vez que Ariano os deixou com muitas alterações que foram sendo incorporadas ao longo do tempo. Não tinham chegado a público por vários motivos. Essas questões de edição são muito complexas, e abarcam desde o interesse dos editores às propostas que são feitas aos autores.
O que podemos esperar dessa obra inédita? O autor mantém o seu estilo também na poesia?
Sim, a poesia de Ariano dialoga com o seu teatro e o seu romance. Trata-se de um só universo mítico e poético, que o autor explora nos diversos gêneros literários aos quais se dedicou.
Qual a importância de ler Ariano Suassuna em 2025? Quais foram as principais contribuições do autor para a literatura brasileira, que ficam evidentes nessas obras?
Ler um grande autor é sempre importante, em qualquer época. As grandes obras literárias são imunes à passagem do tempo, pois tratam de questões supratemporais. A partir do mergulho que deu no universo do romanceiro popular nordestino, e com o seu excepcional talento de escritor erudito, Ariano criou uma obra única, original e universal.