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Fred Fonseca lança seu primeiro trabalho autoral, ‘Mar de morros’

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Fred Fonseca navega pelo “Mar de morros” (Foto: Divulgação)
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Morador de Ibitipoca há sete anos, Fred Fonseca é inspirado pelo clima das montanhas em seus diversos trabalhos no mundo da música. Em seu primeiro álbum autoral, lançado neste sábado (5) nas plataformas digitais, há três partes distintas marcadas por sonoridades bastante diferentes. Para fazer isso, o artista usou das ferramentas on-line para trazer colaboradores de diversas partes do mundo, desde a Bahia até Nova York. Muitos deles, o músico nunca encontrou ao vivo – mas confiou completamente para essa proposta. A ideia foi justamente de ousadia, aproveitar as circunstâncias para trazer dinâmicas de passagem, bem humoradas e com influência do universo fantástico.

“Mar de morros” conta com 11 músicas de Fred Fonseca. Ele afirma que o título do álbum vem mesmo é de uma concepção relacionada a essa paisagem: “olhar para as dinâmicas da vida como altos e baixos, que acontecem no mundo e nas nossas vidas”.

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Esses mares também representam, para o músico, a ideia de uma “história periódica, não cíclica; o tempo sempre passa”. Não à toa, portanto, muitas das músicas, que foram compostas em 2019, acabaram sendo mais atuais ainda. Um claro exemplo disso é “Canção para cantar em caso de uma guerra nuclear”. Fred diz que, ao escrever a música, a realidade era muito diferente, e que chega a dar medo pensar nas coincidências do momento de lançamento.

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Para ele, no entanto, não é totalmente obra do acaso: “na arte, política, vida, tudo pode virar de ponta a cabeça de um momento pro outro”. Mas mesmo assim, tenta trazer esses temas para a música com uma certa leveza. “Por mal ou por bem, são coisas que estamos vivendo agora. Tento jogar um pouco de humor nestes tempos complexos e difíceis, refletir sobre esses erros do homem, trazer reflexões internas”, diz.

Mas ele ressalta que, para além das concepções e reflexões, o álbum é um protesto dedicado ao Parque de Conceição do Ibitipoca. A ideia de privatização dessa natureza o incomoda, principalmente por acreditar no livre trânsito e na abertura de espaços e pessoas, algo que também busca fazer na música. “Para todo mundo poder navegar livremente, as montanhas têm que ser como as águas são. Não precisam de visto. Temos que ter territórios livres para o público transitar. O que é natural deve estar na mão do povo, protegido.”

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Um álbum, três partes

A primeira parte do álbum “Mar de morros” conta com uma banda forte e o reforço de metais. Já na segunda, é possível ver um tom mais experimental e orgânico, enquanto a terceira tem sambas capitaneados pelo sambista e produtor Roger Resende. A proposta é que funcionem como três capítulos, diversos entre si. “Sempre acabei transitando em vários territórios, e a ideia é justamente que as partes não se complementem bem. Quero que criem três atmosferas mesmo, se complementando na diferença”, diz.

Ele brinca que as seis primeiras músicas fizeram parte do seu “TCC Trabalho de Conclusão de Curso da Terapia”. Essas músicas foram inspiradas por sessões de análise e foram escritas em 2019, durante quatro horas, em sua casa: só com Fred e seu violão. “Foi um momento de catarse mesmo”, diz.

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As músicas mais experimentais, por sua vez, contam com uma dinâmica mais social. E por isso pensam em temas de desigualdade, ambientais e econômicos. As últimas, do samba, ele admite que são cheias de sarcasmo e de questões mais rotineiras

A obra se completa com os videoclipes, que estão sendo lançados aos poucos antes do lançamento oficial do álbum. “Vou te trocar” e “Paleoloop” já estão disponíveis no YouTube, e são feitos em parceria com sua esposa, a artista visual, fotógrafa, documentarista e produtora audiovisual Celine Billard. “A nossa parceria funciona muito no audiovisual, ela consegue traduzir em imagens e compor o desdobramento de todo esse visual que eu componho”.

Capa do álbum “Mar de morros”, projeto autoral de Fred Fonseca. (Foto: studio de silk e design do artista gráfico Ulisses Carvalho)

 

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Colaborações

Fred conta que sempre gostou muito de estar com as pessoas e do movimento de união que há na música. Na pandemia, isso não foi possível como era antes, mas ele encontrou como alternativa fazer reuniões on-line e lives. Chegou a fazer uma live por dia, durante cem dias. Mas um dos grandes achados desse processo foi acabar se encontrando com artistas que nunca tinha visto ao vivo antes, como Rodrigo Piccoli . As músicas foram feitas, portanto, através de trocas em “muitos processos de uploads e downloads”.

A internet também o permitiu ser bem ousado nessas parcerias, chegando a locais que não imaginava antes através desses contatos. Foi o que aconteceu, por exemplo, com Baby Lixo, que teve sua participação totalmente livre. Fred conta que entregou o que já tinha feito para a banda, e disse: “façam o que vocês quiserem e eu acatarei”. O trabalho acabou sendo mixado em Nova York (EUA) por Rodrigo Piccoli e masterizado em Adelaide (Austrália) por Yago Franco.

“Nunca houve um ensaio de ninguém. Geralmente em disco as pessoas ensaiam, se encontram, repetem. Todo mundo foi colocando as camadas meio às cegas”, ele lembra. Mas ressalta que para que o álbum tomasse forma e fosse agradável, teve o auxílio de Robert Anthony, que produz junto com ele, e de Roger Resende, sambista e também produtor.

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Uma história da trajetória

Fred já está no mercado da música há mais de 20 anos. Na necessidade de se adequar e ficar ativo, já foi músico instrumentista, fez captação audiovisual, produção musical, trilha curta e teatro, espetáculos, jingle, locução, arranjo. “A música nunca falhou comigo porque eu nunca falhei com ela”, diz.

A possibilidade de lançar o álbum foi trazida pela Lei de Auxílio Emergencial Aldir Blanc, viabilizada pela Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais. Mas todas essas participações e a chance de explorar várias possibilidades influenciaram muito na formação do álbum, inclusive na vontade de “historizar” as músicas. “É uma história da minha obra, que é muito dinâmica”, conclui.

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