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Skank em clima de despedida e celebração

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Após 31 anos de estrada, Skank realiza turnê de despedida, que pode ser um “até qualquer dia” (foto: Weber Pádua/Divulgação)
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Entendendo que a vida é paradoxal, com motivos para ser feliz e triste ao mesmo tempo, o Skank anunciou a turnê de despedida. É, na verdade, um até logo. Ou um tempo para que os quatro integrantes, Samuel Rosa (guitarra e voz), Henrique Portugal (teclados), Lelo Zaneti (baixo) e Haroldo Ferretti (bateria), respirem separados e, depois disso, unam ainda mais o fôlego para, quem sabe, mais 30 anos de estrada. O anúncio da turnê veio quase junto com a pandemia, e as coisas precisaram ficar maturando. Até que o dia chegou. Foi necessário repassar tudo o que aconteceu até então e selecionar os principais pontos para shows de, no máximo, duas horas de duração. Para Samuel, reviver essa história foi deleite. Foi como ilustrar um móvel precioso que fica guardado em um canto especial. “O passado é nosso grande patrimônio”, ele afirma. Juiz de Fora foi cidade importante na história da banda. Voltar aqui era necessário para finalizar mais um ciclo. E assim vai ser neste sábado, às 18h, no Terrazzo, com show de abertura do Biquini Cavadão. Na entrevista que deu à Tribuna, Samuel Rosa repassou a história do Skank e do rock no Brasil que, para ele, nunca vai ter fim.

Tribuna – Vocês tocam em Juiz de Fora desde o início da carreira, quando ainda estavam formando público. Queria que comentasse a relação da banda com a cidade.
Samuel Rosa – Juiz de Fora tem uma importância considerável na carreira do Skank. No começo da carreira, o Skank estava fazendo uma espécie de “cruzada” pelo interior de Minas para divulgar nosso trabalho. E, naturalmente, Juiz de Fora, pela proximidade, importância e relevância dentro do estado, é uma cidade que sempre teve por parte do Skank um tratamento especial. Curiosamente, eu me lembro de Juiz de Fora, das últimas vezes que a gente foi, e a maioria delas foi em festivais. E esses têm minguado pelo Brasil. A gente tinha grandes festivais com frequência, em que a gente encontrava com várias outras bandas. E isso minguou, assim como os shows, por conta desse período terrível de pandemia que a gente está atravessando. Mas essa noite, em específico, vai ser para relembrar a trajetória da banda, vamos tocar as músicas mais relevantes da trajetória de 30 anos.

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Fato é que a música de vocês perpassa gerações. O que você acha disso?
Eu acho que o Skank é uma banda que soube, de certa forma, envelhecer. Não é para todo mundo isso, ainda mais conseguir conversar com gerações mais jovens. Isso não é uma equação. A gente vai na intuição. Uma delas foi de não ter tido cerimônia de meter a mão no som. O Skank foi, ao longo dos anos, modificando uma estética sem abandonar uma assinatura, porque, afinal de contas, somos os mesmos quatro, mas, ao longo dos anos, a gente flertou com várias frente, sem sair tanto do pop/rock, mas a gente foi flertando. Eu não tenho uma receita. A música não é desse jeito, e ainda bem. O Skank se dá o luxo de fazer uma parada, por tempo indeterminado, com shows lotados. Quem imaginaria isso, em 1991, quando a gente começou, que depois de 30 anos a gente estaria finalizando esse ciclo de três décadas sendo ainda relevante para muita gente, com shows cheios?

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A gente poderia falar que a música de vocês é dos anos 90. Mas ela é, também, dos anos 2000, de 2010, e não para. Como foi possível ser transgeracional? Isso tem a ver com o ouvido atento à atualidade?
O Skank é noventista porque nasceu nos anos 90, regidos por um estética, com determinados signos e tratados estéticos. É natural. Mas a gente não está preso a ela. E tudo que uma banda não quer é ficar engessada em um conceito. A gente quer liberdade, poder flertar e, ao fazer algo novo, não causar espanto nas pessoas ou ser condenado por trair algum estilo. Uma banda precisa se reinventar. O novo é vital. A mudança é vital. Estar estagnado é um pacto com o comodismo. Aí, sim, você está à beira de um abismo. As pessoas pensam que é a mudança que é arriscada. Ela é. Mas ficar parado, engessado em um formato, talvez seja mais. Uma razão dessa parada é essa: cada um se ver e se desafiar como artista, como criador separadamente. Até essa parada vai de encontro a essa premissa que sempre foi da banda, de reinvenção, contra a mesmice e a repetição na medida do possível.

Samuel, Henrique, Lelo e Haroldo devem se dedicar a projetos pessoais nos próximos anos (foto: Weber Pádua/Divulgação)

O rock hoje já não é mais o mesmo dos anos 90, quando atingiu o auge. O que foi acontecendo com ele?
Sendo uma banda de rock brasileiro, como não flertar com outros gêneros? Como o rock feito do Brasil poderia abdicar ou não namorar com outros gêneros interessantíssimos que a gente tem no Brasil? Como não incorporar o forró, o baião, o samba? É inevitável. Para quem tem uma antena aberta, exposta, e gosta de música, não quer ficar fadado a um gênero só. Ser brasileiro, ao fazer rock, implica assimilar muitas coisas. Somos um país diferente, de várias etnias, de um pluralismo incrível, musical inclusive. Seria um desperdício renunciar. A gente não desperdiçou. Muito pelo contrário: incorporou. A formação é de rock, mas nas nossas circunstâncias, eu credito essa diversidade do som ao fato do Skank ainda respirar sem aparelhos.

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O rock tem fim?
Condenar o rock à morte eu escuto isso desde a década de 70. O rock não morre, ele se transforma. Em alguns momentos ele retoma os aspectos dele original, em outros ele está se misturando. Ele é amálgama para outras coisas. Fonte de renovação para outros gêneros. O rock, para mim, é um braço da música popular, da música pop. O rock, se eu fosse colocar em uma prateleira, o que é chato porque conceito paralisa, é uma vertente da música pop. E a música pop ora flerta mais com o rock, ora menos. Nos anos 90, de onde o Skank saiu, a música pop era muito mais rock que hoje. E hoje a música pop, ou música jovem, consumida pela molecada hoje está muito distante do rock. Mas isso não significa que ele acabou. Pelo contrário: ele está mais em um gueto. Mas não deixa de ter coisas brilhantes.

Agora, o que virá? Como seguir as carreiras individuais?
Cada um tem seu caminho. Eu prefiro pensar que, ao longo dos anos, a gente veio trabalhando para esse momento: momento de desgrudar, de desdar as mãos, de tentar novos caminhos. Dá um frio na barriga, porque não tenho guarda-chuva. Estamos nus. É um belo desafio, e me considero privilegiado por ter um aparato construído para agora sentir capaz de trilhar algo longe do Skank. Mas as mudanças são necessárias. Vai ser um teste e o Skank vai lucrar com a parada. Quem vai sair ganhando é a banda, mesmo com os integrantes separados.

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