A cada página, lembranças dolorosas e a certeza de que a memória é forma mais efetiva de vida. Quando receberam “Todo dia a mesma noite” (240 páginas, Editora Intrínseca), alguns dos pais das 242 vítimas da Boate Kiss sentiram a presença que a posteridade é capaz de proporcionar. Entre abraços apertados e lágrimas saudosas, homens e mulheres mutilados pela perda de seus familiares no incêndio que devastou a gaúcha Santa Maria em 27 de janeiro de 2013 agradeceram a jornalista e escritora Daniela Arbex por eternizar existências silenciadas numa festa. O retorno emocionado dos personagens de seu terceiro livro, aponta a repórter especial da Tribuna, lhe mostraram que os quase dois anos de trabalho intenso valeram a pena. “Lá no Rio Grande do Sul e aqui, no sudeste do país, tenho ouvido muitos agradecimentos. Mas sou eu quem deve agradecer. Pela chance única de repensar minha própria vida e de fazer da minha escrita um instrumento de transformação humana”, emociona-se a profissional que autografa o livro nesta segunda (5), às 19h, na Livraria Saraiva.
Lançado nacionalmente na cidade da tragédia, o título serviu como oportunidade de encontro, num bate-papo que teve a frase “Pra nunca esquecer” como cenário. “Diante de um teatro lotado e emocionado, pude perceber que o livro cumpre um importante papel social. Ver os socorristas do Samu se confraternizando com os trabalhadores de saúde mental, com os médicos do Exército e os enfermeiros da Brigada Militar me reconfortou. Me deu a certeza de que a história não contada da boate Kiss precisava ser narrada. O Brasil está carente de bons exemplos, de gente que precisa se tornar referência pelos valores corretos. O que essas pessoas fizeram no coração do Rio Grande merece ser conhecido. Os 242 filhos do Brasil precisam ser lembrados”, defende a jornalista.
Obra já é best-seller
Em menos de 15 dias após ter chegado às livrarias, “Todo dia a mesma noite” já consta no 19º lugar na lista estendida dos livros mais vendidos de não-ficção da Revista Veja desta semana. Seguindo os passos dos títulos anteriores – “Holocausto brasileiro” e “Cova 312” – que, juntos, tiveram mais de 300 mil exemplares comercializados no país, a nova obra arrebata leitores de diferentes regiões do Brasil. “Confesso que depois de escrever, senti medo de como o livro seria recebido pelas pessoas. Sim, tive receio dos julgamentos, mas, certa da qualidade e da importância do trabalho que tinha feito, não esmoreci. Agora, vendo o livro ganhar o país e o coração dos leitores, me sinto imensamente feliz ao perceber que a leitura está provocando uma profunda reflexão sobre a forma de nos relacionarmos com o outro”, orgulha-se Daniela Arbex, uma das mais premiadas jornalistas do país. “É do valor da presença, da convivência, do amor pelos nossos filhos ou por nossos pais que lembramos quando nos vem à cabeça a tragédia da Kiss. O livro de Daniela Arbex trata justamente desse tipo de saudade. É um grande inventário de afetos”, assinala o também jornalista Marcelo Canellas no prefácio do livro.
O que já disseram sobre o livro
“Sobre um tema já muito explorado ao longo de cinco anos, o trabalho de Arbex tem dois méritos principais.Um é mostrar o lado humano de personagens que até agora apareciam principalmente como vozes institucionais. Outro é retomar histórias doloridas como as dos sobreviventes e as dos pais que perderam filhos de forma bastante emocionante, mas nunca sensacionalista.”
Ana Estela de Sousa Pinto
Folha de S. Paulo
“A autora construiu um memorial contra o esquecimento daquela noite (27 de janeiro de 2013), além de buscar pelos que continuam vivos, bem como as consequências de descuidos banalizados por empresários, políticos e cidadãos.”
Pâmela Rubin Matge
Diário de Santa Maria
“Uma história forte e comovente. Mas que precisa ser contada – e jamais esquecida.”
Marcelo Balbio
O Globo
“Daniela fala de gente que chora ao ver fotos de quem jamais conheceu. De médicos que desistiram de atuar na emergência. De psiquiatras que procuraram auxílio psíquico. De enfermeiros que passaram dias se escovando, freneticamente, para tirar do corpo – e da alma – um odor de fuligem e morte que insiste em não sair. ‘Todo dia a mesma noite’ é uma obra para ler chorando.”
Humberto Trezzi
Zero Hora
“A estrutura de ‘Todo dia a mesma noite’ é quase a de um thriller. Com escrita precisa, sem apelar para clichês ou pieguice, Daniela reconstitui a noite de 27 de janeiro por meio das lembranças de quem participou direta (os profissionais da saúde e sobreviventes) ou indiretamente (os parentes dos mortos) do episódio.”
Mariana Peixoto
Estado de Minas