
Personagens de Suzana Pires, Ingrid Guimarães e Tatá Werneck acham que Márcio Garcia é o último biscoito do pacote
E o cinema brasileiro inicia 2015 insistindo nas comédias escancaradamente comerciais, superficiais, produzidas como sabonete para consumo rápido da população, copiando o que há de pior nos filmes para rir de Hollywood. Uma semana depois de “Os caras de pau em o misterioso roubo do anel”, com o onipresente Leandro Hassum, é a vez de Ingrid Guimarães juntar forças a Tatá Werneck e Suzana Pires em “Loucas pra casar”, de Roberto Santucci.
O frequentador de cinema mais precavido já deve desconfiar do que é oferecido ao saber que Santucci está envolvido na direção do longa: afinal, ele é o responsável por algumas das comédias pré-fabricadas lançadas no Brasil nos últimos tempos, entre elas “De pernas pro ar 1 e 2”, “Até que a sorte nos separe 1 e 2”, “Odeio o dia dos namorados” e “O candidato honesto”. Ou seja: produzir aquele cinema fast-food nosso de cada dia é com ele mesmo. Junte à equação o inevitável elenco Global, com Ingrid, Tatá, Sandra e Márcio Garcia.
Se as credenciais não ajudam, a história é pautada pelo lugar-comum machista de que toda mulher, mesmo as bem-sucedidas, só podem alcançar a felicidade suprema se arrumarem um bom partido para casar. Este é o caso de Malu (Ingrid Guimarães): ela se considera um bom partido porque é bem-sucedida, bonita, atraente, independente, mas ao mesmo tempo sonha em se casar na igreja. O altar, porém, ela só conhece cumprindo o papel de madrinha das amigas que já conseguiram o seu par ideal.
Aos 40 anos, ela acredita ter encontrado o seu em Samuel (Márcio Garcia), seu supervisor na construtora imobiliária em que trabalham (mais uma para a conta: mesmo bem-sucedida, ela precisa de alguém numa posição superior que a proteja do mundo cruel). Namorando há três anos, o casal aproveita todos os apartamentos à venda que encontrar para realizar suas fantasias sexuais, mas Samuel não parece nem um pouco interessado em casório. Um dia, ao perceber que faltam camisinhas no estoque pessoal (!) do namorado, ela contrata um detetive particular para descobrir a identidade da amante – afinal toda mulher, “insegura” que é, logo imagina que o amado tem uma amante.
E qual a surpresa dela ao descobrir que Samuel, como bom garanhão brasileiro, não tem apenas uma, mas duas amantes-namoradas, igualmente enroladas por ele durante todo esse tempo? Uma delas é Lúcia (Suzana Pires), que ganha a vida como dançarina, e a outra é a extremamente religiosa Tatá. As “outras”, claro, também acreditam que a realização pessoal vem a reboque do maridão em casa. Como humilhação pouca é bobagem e Samuel é a melhor carne do pedaço, elas ainda se dividem entre unirem-se para a vingança contra o pulador de cerca ou disputar o coração e a (improvável) aliança do rapaz, o que rende a tradicional lavagem de roupa suja no meio da rua, o “ele é meu”, puxões de cabelo, xingamentos etc.
Até quando a fórmula “comédia enlatada+atores globais+piadas velhas+produção a toque de caixa” vai funcionar, não se sabe, mas uma coisa é certa: cinema brasileiro? Continuamos fazendo isso muito errado.
LOUCAS PRA CASAR
UCI 3: 20h30. Alameda 3: 21h10