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Toquinho se apresenta em JF ao lado de Camilla Faustino nesta sexta

TOQUINHO E CAMILLA Marcos Hermes
Na busca incessante pela música, Toquinho encontrou Camilla Faustino, nome em ascensão da “nova MPB”, com quem tem rodado o mundo (Foto: Marcos Hermes/ Divulgação)
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Toquinho ainda é guiado pelos seus “doces fantasmas”. É essa a forma como ele chama aqueles músicos com os quais teve a oportunidade de caminhar nessa sua trajetória musical. Ouviu. Aprendeu. Seguiu. E somou. Bebeu da mesma água e engrossou o caldo de uma forma de ver e viver música que é, ainda hoje, seguida por uma geração que, inegavelmente, tem a Bossa Nova e sua continuidade como referência. São 55 anos de carreira e cerca de 500 músicas com um tanto de gente – esses seus “doces fantasmas”, principalmente. E ele não para: continua buscando novos nomes para parcerias, pensando em novos projetos para dar seguimento ao seu ofício, já que, para ele, sem a música não há vida. 

Na busca incessante pela música e seus guias, encontrou Camilla Faustino, nome em ascensão dessa “nova MPB”, com quem Toquinho tem rodado o mundo. “Camilla é de uma musicalidade impressionante. Eu sempre brinco, e, às vezes, acredito que ela seja um extraterrestre. Rodar com ela é distribuir talento para as pessoas. Onde ela passa ela jorra talento. Eu quero trabalhar com ela até o fim dos meus dias, se a vida deixar”, declara-se Toquinho. Os dois chegam a Juiz de Fora nesta sexta-feira (3), quando se apresentam no Cine-Theatro Central, a partir das 20h. 

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No show, Toquinho promete fazer um apanhado possível desses 55 anos de trajetória, com Camilla ao seu lado. Além de apresentar as canções, fala sobre o processo de composição delas e das inspirações de seus “doces fantasmas”. “Eu tento mostrar o motivo de estar lá, fazendo show. Não simplesmente desfilar canções uma atrás da outra. Não, eu explico as canções para eles (o público) terem noção de como elas foram feitas.” Na entrevista abaixo, Toquinho fala sobre sua musicalidade, sua forma de fazer música para crianças e o que pensa da nova geração da música brasileira. 

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Tribuna de Minas: Toquinho, acredita que começar já no violão foi importante para a sua musicalidade e a forma como você se encontrou na música?

Toquinho: Foi fundamental esse meu início violonístico. Me deu toda a estrutura musical, de harmonia, composição, técnica que me ajudou a fazer canções no instrumento. Essa estrutura violonística e o aprendizado que eu tive com tantos profissionais importantes.  Tudo isso é acúmulo de conhecimento. Acho que quem quer fazer música tem que estudar música. Essa estrutura que eu tive antes de compor, violonisticamente, foi fundamental para continuidade na minha carreira. Para a minha parceria com o Vinícius (de Moraes), foi fundamental ser o violonista que eu já era. Então, quem me abriu portas e janelas foi o violão. Primeiro, o violão. O compositor veio em seguida e o intérprete veio como consequência. 

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Sempre achei interessante que suas músicas infantis são bem construídas e complexas. Nunca teve isso de “simplificar” para fazer música para criança? 

Eu nunca gostei de fazer aquela coisinha com um refrãozinho e tudo. Eu sempre  procurei elaborar canções em um limite da facilidade para as crianças. Mas, ao mesmo tempo, com conteúdo harmônico certo. Como uma canção tratada para o adulto. E eu acho muito mais trabalhoso fazer esse tipo de respeito à criança, ao pai da criança que vai ouvir com ela, e colocar emoção nisso. Não só facilidade, mas simplicidade e emoção. É muito mais trabalhoso. E eu realmente fiz isso. Fiz isso com muito trabalho, com muito humor, com muita atenção, e continuo fazendo isso ainda: essa linha simples e coloquial. E tem que ter um atrativo lúdico nisso, de uma maneira fundamental. Mas sempre de uma forma harmonizada, de um respeito musical muito grande. 

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São 55 anos de carreira, e Toquinho continua buscando novos nomes para parcerias e pensando em novos projetos (Foto: Marcos Hermes/ Divulgação)

São 55 anos de carreira e você segue em atividade. Muitos músicos decidem dar um tempo, né?! O que te move a seguir em atividade?

É minha vida. Eu não me vejo sem fazer alguma coisa musicalmente. Eu tenho uma vontade de tocar o meu instrumento a cada dia como na época em que eu tinha 17 anos. Eu me surpreendo às vezes de ver o quanto eu tenho afinidade em dar continuidade ao meu trabalho com o violão, com a criação. Eu faço canções quase que todo dia. Sempre vem ideias. É uma coisa que eu amo fazer. Eu não me vejo não compondo, não tocando, não imaginando projetos novos. Enquanto eu puder fisicamente tocar o meu instrumento e ter ideias de projetos novos, eu vou fazer. Posso ter 90 anos ou 97 anos que eu vou fazer, porque eu amo e não consigo viver sem isso. É o que me deixa vivo. E eu realmente busco saídas, coisas novas o tempo todo. Sem sair do meu DNA, é claro. 

Inclusive, a gente percebe isso em seus shows, que são sempre dinâmicos e apresentam essa sua história com a música. 

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Eu sempre busco ter uma diversidade nas apresentações. Eu odeio show chato. Eu odeio show de crooner, de cantores que entram, cantam o tempo inteiro e não falam nada. O Tom Jobim falava: “Eu peço 100 mil dólares por um show, mas eu pago 1 milhão de dólares para não ir em um show”. Eu vejo sempre shows chatos de música. Eu tenho uma preocupação grande com isso. E eu vejo que tem frutos, porque eu vejo as pessoas se interessando muito nos meus shows. Porque ele tem diversidade. Ele tem o lado instrumental, canções de sucesso, as infantis, a participação de vários artistas, seja cantores ou instrumentistas. Eu sempre cultivo isso para dar diversidade ao espetáculo e para fazer uma divisão, mudar a cor do show. Acho importantíssimo você ter um manancial que mude a cor do espetáculo, que não chateie as pessoas que estão sentadas. Nos espetáculos que eu faço, eu diversifico, eu conto histórias e tem sempre participação de alguém com muito talento, como é o caso agora da Camilla Faustino. 

Falando nisso, tem muitas pessoas que falam, com saudosismo, que não se faz mais música como na sua época, por exemplo. O que você acha disso?

Eu odeio saudosismo. Eu acho que existe uma transformação. A vida muda e o tempo transforma as coisas. Existe a internet, coisa que não existia anos atrás. Coisas ruins sempre foram feitas, em todos os tempos, e coisas boas também. É claro que a minha geração – e eu não estou sendo saudosista, estou apenas constatando uma coisa – foi muito importante porque ela veio de um Brasil que não tem mais. Nós viemos de JK, do Cinema Novo, de Brasília, de Tom Jobim, de Baden Powell, de João Gilberto, de uma música bonita que se fazia que era a Bossa Nova. A minha geração veio desse Brasil. Nós tínhamos um estadista, que era o JK. Nós tínhamos um Brasil que ele, quando fundou Brasília, chamou Tom e Vinícius para fazerem a sinfonia de Brasília. Quando isso ia acontecer hoje? É claro que nós viemos de um Brasil brasileiro que não tem mais. Essa geração nossa veio disso e, por isso, é muito privilegiada. Eu sinto a geração atual muito dispersa, sem unidade, sem preocupação musical. Não é que não se faz mais música como antigamente, é que essa geração está com outra visão de mundo, com outra informação musical. Com uma coisa muito mais frágil, em que ela se dilui com o tempo. Ninguém tem preocupação de se manter, parece, ou fazer uma coisa que entre na vida das pessoas e se perpetue. Eu acho que a música que minha geração fez ou que as gerações anteriores fizeram realmente tem mais essa força. Mas não tinha internet. Não tinha essa comunicação voraz que tem agora. É tudo questão de tempo. Eu procuro me adequar, realmente, no meu tempo, e procuro fazer um trabalho em que seja eu, que repique meu DNA e, ao mesmo tempo, me coloque no mundo atual. 

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E, então, o que você acha que faz com que sua música não se dilua com o tempo?

Eu tento fazer músicas redondas, que não firam o lado natural do ouvinte, do ouvido. Tem uma palavra em italiano que, traduzida, seria “orilhável”, que venha natural para o ouvido humano. Eu busco essa deformação que o povo faz. O Tom Jobim falava que a gente faz uma música e o povo deforma, acomoda a melodia de uma forma natural. Eu busco sempre essa coisa natural que o Caymmi tem, que o Ary Barroso tem, que o Tom tem e o Baden também. Eu busco essa coisa redonda, que não fira o ouvido de quem ouça. Isso e com muita emoção. Eu até sacrifico a técnica em função da emoção. Para mim, tem que ter o bom acabamento musical harmônico, uma melodia que seja “orilhável” e que tenha um conteúdo de emoção: essas três coisas são fundamentais. E bem harmonizada, que fica agradável de se ouvir. E isso dá muito trabalho. Tudo isso que eu busco. 

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