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Marcio Guelber lança seu primeiro álbum ‘Futuras paisagens’

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(Foto: Divulgação)

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“Neste disco, a escolha desse repertório, dessa maneira de apresentar as músicas, também foi um reencontro com a minha musicalidade”, considera Marcio (Foto: Divulgação)
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A tampa do teclado sempre esteve aberta. Ali, sentado naquela cadeira, ainda menino, Marcio Guelber já via o instrumento como seu tradutor. Tateava as teclas tentando encontrar o sentido dos sentimentos. Dava margem para que tudo desaguasse em som. Uma experimentação que, com seis anos, talvez não fizesse tanto sentido. Era pura intuição. Mas já era um caminho aberto – hoje ele entende – ao músico que viria a ser. E é. Esse olhar de menino que descobre tecla por tecla, mas já com visão apurada de quem caminhou, e muito, no ofício, ele traduz nas oito músicas instrumentais presentes no seu primeiro álbum, “Futuras paisagens”, lançado nesta sexta-feira (3), nas plataformas digitais.

Marcio começou a estudar o piano por influência do pai, que chegou em casa com o instrumento que era de seu avô. Pai e filho passaram a fazer aula em uma escola de música em Juiz de Fora, sua cidade natal e onde ainda residem. Marcio foi aprendendo os caminhos até perceber que queria mais que isso: mais que aquelas músicas basicamente impostas que deveriam ser seguidas linhas por linhas. Ele queria, por ele mesmo, desbravar novas possibilidades no instrumento e até em outros, de forma que foi surgindo, depois, o violão e, anos mais tarde, o acordeon – esse quando a música já era, a essa altura, seu ofício.

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Apesar dos novos caminhos e das descobertas de outros sons, a tampa do piano se manteve aberta. O instrumentos seguiu ali traduzindo seus sentimentos, sempre de forma intuitiva. “O piano sempre foi esse lugar de sentar e ficar viajando. Ele se tornou um lugar de me organizar nesse campo das emoções. Ele é uma ferramenta que realmente possibilita essa expansão e essa canalização do que a gente está sentindo”. E foi nesse lugar que Marcio foi descobrindo também a composição, a partir dessas experimentações que a tradução permite: cada som que sai do piano é o que Marcio tem vontade de dizer e só consegue dessa forma. “Cada vez que eu sento para tocar o piano eu estou tocando alguma coisa nova. Sempre buscando sons novos, alguma sonoridade que eu ainda não tenha tocado. O processo de compor está sempre intenso para mim por isso.”

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Quando foi pensar que era hora de lançar um trabalho que fosse todo seu, depois de anos circulando na cena instrumental da cidade e participando de outros trabalhos, Marcio ainda ficou com essa dúvida, se queria apresentar o violonista, o pianista ou o acordeonista. “Resolvi me colocar como compositor e usar esse multi-instrumentismo a serviço de cada música”. E, em cada uma dessas oito canções selecionadas, os instrumentos vão desenhando essas paisagens que ele busca traduzir com os instrumentos. Isso foi possível também porque Antônio Loureiro, que produziu o álbum junto com Marcio, entendeu esse caminho e também ajudou na tradução dos arranjos, na concretização do que Marcio apresentou ainda primeiro como ideia.

Mesmo que tenha encontrado outros instrumentos, o piano segue presente – e isso fica nítido em “Futuras paisagens”. A maioria das músicas foi composta por meio do piano, inclusive: o lugar que ele sempre quer passar, de certa forma. E explica a escolha: “Eu gosto de passar pelo piano para poder deixar mais clara a questão melódica e harmônica, porque o piano é muito didático para isso”. Mas, se for escolher qual é a voz do disco, ele nem pensa duas vezes: “É a sanfona”. Isso porque ela se apresenta rica em timbres e possibilidades que dão forma às composições, nesse álbum, apesar de não estar presente em todas as músicas. “A sanfona é ali a minha voz como solista. Ela tem um lugar de destaque, como o canto principal do disco, a melodia principal”. E muito porque, quando Marcio se deparou com a sanfona, encontrou um novo caminho na música: um caminho que dava nas profundezas do Brasil. Coisa que em “Futuras paisagens” fazia muito sentido.

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Neste trabalho, o músico trouxe arranjos novos para composições que ele já tinha. Ele traz, por exemplo, uma versão instrumental da música ” mago”, que a flautista, cantora e compositora Nara Pinheiro lançou em seu disco “Tempo de vendaval”, e que também está presente na suíte em quatro movimentos que Marcio desenvolveu para violão de sete cortas, a “Paisagens possíveis”. “Eu sentia que o disco precisava de uma música com essa atmosfera mais tranquila, porque as outras têm uma densidade”. Ele lança ela com acordeon e um arranjo para quarteto de cordas, gravado por Luka Milanovic (violino), Jovana Trifunovic (violino), Mikhail Bugaev (viola) e Eduardo Swerts (violoncelo). Marcio fez questão de, em todas as músicas, gravar o acordeon, o piano e o violão de 7 cordas. “Queria colocar esse meu universo musical dentro do disco. Achei que seria uma forma mais sincera com o meu processo criativo, que de fato passa por esses instrumentos.”

As inspirações

Todas as oito músicas trazem uma delicadeza que Marcio sempre buscou e transmite. Isso porque ele quer que sua música instrumental chegue ao máximo de pessoas possíveis. “Eu tentei contar uma história com essas melodias. Tentei trazer de uma forma mais poética possível essas melodias. Mostrar que a composição em si é o grande elemento”. A grande inspiração para tudo, também é delicada: é o que ele vê da janela e também o que ele quer ver a partir do que planta. “Eu pensei, nesse disco, trazer essa paisagem imaginária que eu tenho. Não só as paisagens reais e físicas daqui. Eu tentei retratar essas paisagens de uma forma sonora. Eu trago como título das músicas também muito isso de buscar uma interseção sobre essa presença humana, tentar ressignificar esse antropoceno que a gente está vivendo, que está sendo tão destrutivo, agressivo. Eu tento ressignificar esse lugar do humano na terra. Não como uma figura central, e que tudo gira em torno, mas como se a gente fizesse parte desse processo. E eu tento, de uma certa maneira, me inserir, me renascer ali dentro, me reconstruir”. Além do imaginário, Marcio traz seus afetos: duas músicas recebem o nome de seus filhos, Cainã e Rudá, colocadas em ordem cronológica para fazer sentido com a sonoridade. “Eu quis colocar tudo o que está em torno disso que eu vivo. Eu tentei trazer de uma forma que me retratasse e que fizesse sentido para as outras pessoas também o que eu sinto com cada música.”

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O caminho

Da ideia inicial do disco até seu lançamento, “Futuras paisagens” foi ganhando novas caras, inclusive. Ia chamar “Claro domingo”, música que fecha o álbum. “Mas eu achei que ele não tinha porque chamar ‘Claro domingo’. As coisas não estavam tão claras, os domingos não estavam tão ensolarados assim”. “Futuras paisagens” imprimia mais essa vontade que ao mesmo tempo que fala do futuro está conectada em suas memórias ancestrais. “Eu acho que neste disco, a escolha desse repertório, dessa maneira de apresentar as músicas, também foi um reencontro com a minha musicalidade, a minha forma de expressão na música que começa com o piano. E começa com o piano de uma forma bem livre, tocando as músicas que vibram, que vem da alma mesmo. O disco tem umas músicas profundas, e seguem ideias emocionantes, que eu acho que vai muito dessa minha relação na infância”. Ele volta naquele menino que tocava por intuição, que hoje faz cada vez mais sentido. “Eu vejo que de fato me coloquei ao lado desse eu menino, desse lugar de sonhar, de ser mais livre e dar espaço para essas emoções: menos racional e mais emoção.”
Além de Marcio e do quarteto de cordas, Antônio Loureiro também gravou bateria, percussão e vibrafone; Guto Wirtt, baixo acústico; Nara, flauta e Joana Queiroz, clarinete. “O resultado é um som orgânico, texturizado, que dá margem para pensar exatamente nas paisagens que a gente quer, futuramente”. E tudo muito pensado para ser dessa forma: a seleção das músicas que, sozinhas, apresentam um universo e, juntas, contam a história que é do Marcio e dessa sua trajetória intuitiva, que só poderia ser na música. Apresenta o Marcio violonista, pianista, acordeonista e compositor – como ele queria.

 

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