Seu Jeffrey já tem a cena montada na cabeça: no palco, ele canta a música que compôs especialmente para a sua mãe, na última semana. Em um momento da apresentação, o DJ que o acompanha abaixa o som, e ele, então, se declara à mulher que é o motivo pelo qual ele decidiu largar tudo e se lançar, verdadeiramente, à música. É essa cena que o guia. É com isso na cabeça que ele decide que a música é o seu caminho, mais uma vez, e de maneira determinante.
Lonjaney Faria Silva, conhecida como Janey, a mãe de Seu Jeffrey, foi diagnosticada com demência por corpos de Lewy: uma doença que se caracteriza pela perda gradual da função mental. O cérebro dela já está 90% tomado e, raramente, ela se mostra ciente da realidade. Sem memória, não lembra, por exemplo, nem do nome do filho que, junto com outros irmãos, se dedica a dar uma vida confortável à mãe. Seu Jeffrey é ainda filho do Zezinho da Guitarra, um dos mais importantes nomes da música de Juiz de Fora. Por causa de um AVC, o pai não consegue mais tocar sua guitarra.
Janey e Zezinho sempre foram a maior referência de Seu Jeffrey. Em casa, ele encontrou o apoio necessário para se dedicar à música, primeiro seguindo os passos do pai e se dedicando à bossa nova e ao jazz. “Mas eu passei por coisas ruins na música e decidi nunca mais tocar”, afirma o músico, que passou a estudar para concurso público. Janey, raramente, lembrava desse cenário musical de casa. “Tinha uns quatro anos que ela não falava comigo sobre música. Até que ela me chamou e eu achei que fosse para arrumar seu cabelo. Mas não era. Ela me chamou para falar para eu não desistir da música, que ela me via no palco, famoso, como o Filipe Ret, que eu sempre ouvi, e ela lembrou disso.” Essa fala foi o suficiente para que Seu Jeffrey decidisse voltar para a música e em uma velocidade acelerada, para que sua mãe consiga ver esse momento, assim como seu pai, que ainda confidenciou a ele que vê-lo na música é o que o faz despertar para ela. “Faço isso para que, em vida, eles consigam desfrutar do que eu quero colher.”
Nova aposta, Seu Jeffrey por inteiro
Seu Jeffrey, então, agora, concilia os cuidados com os pais, composição e gravação. Tudo em um ritmo frenético, porque ele quer lançar mensalmente uma música com um clipe. Ele já lançou a “Olhos de Xenon” e, nesta sexta-feira (5), lança o clipe de “Lobo mau”, no YouTube. A previsão é a de que a música esteja disponível no mesmo dia nas plataformas digitais.
Antigamente, Seu Jeffrey, realmente, acompanhava o pai no estilo musical, mas o gosto por rap sempre esteve ali. Agora, com esse novo olhar pela música, decidiu se dedicar realmente ao estilo que gosta. “Eu tinha até medo de tocar perto do meu pai porque ele é muito bom. E meus amigos sempre foram os deles e tinha essa predominância da bossa nova e do jazz. Eu ficava na minha. No rap, me sinto eu de verdade, completo. E meu pai gosta, isso me deixou muito feliz”, confessa.
Apesar de optar por outro estilo, Zezinho continua sendo a inspiração de Seu Jeffrey. “A forma como eu canto e toco ainda é muito ligada à bossa nova. Preciso ir até mudando, mas é difícil.” Acaba que ele está descobrindo uma nova forma de fazer música, de viver dela, de uma forma diferente do que viveu em casa. É, através do que aprendeu, contar sua própria história. Nas letras, o amor ganha destaque. As histórias recentes guiam os beats que ganham a cara de Seu Jeffrey.
Filipe Ret sempre foi mesmo uma referência para Seu Jeffrey. No último fim de semana, o rapper fez um show em Juiz de Fora, e Seu Jeffrey lançou um mini documentário contando sua história e da sua mãe com o intuito de chegar até seu ídolo, para que conseguisse encontrá-lo no show. O vídeo, disponível no Instagram, foi crescendo, ganhando compartilhamentos, e Seu Jeffrey conheceu Filipe Ret e outros músicos que tocaram no dia. “A gente conversou muito. Ele me deu algumas dicas e falou que aposta em mim se minha música chegar nele pela minha base de ouvinte. E é isso que eu quero fazer agora”, garante.
Seu Jeffrey sempre soube que o caminho em busca do reconhecimento seria difícil. Mas aceitou pela sua família. “A música sempre me salvou e salvou toda a minha família”, afirma. Agora, ele parte para São Paulo para fazer com que isso fique mais fácil. Mas garante que volta sempre para ver seus pais e quer passear muito com eles ainda, levá-los ao palco, mostrar uma realidade nova a quem sempre fez de tudo por ele. “Eu quero o bem-estar da minha família. Mas quero também que um dia você esteja na balada, toque minha música e você fale: ‘Caramba! Ele conseguiu’. Eu sinto que estou perto. E sempre foi por eles.”