O restaurante Lourdes Square, localizado no Spazio Design, inaugura, nesta semana, o Empório Arte e Vinho, que, de acordo com um dos proprietários, Bruno Pismel Lemos Campos, tem o intuito de integrar arte, decoração e gastronomia como pilares. Além de itens à venda, o lugar vai ainda receber trabalhos de artistas visuais, principalmente da cidade. Para começar, o artista convidado é o fotógrafo Fernando Priamo, que tem sua mostra aberta ao público a partir desta sexta-feira (5) até o Dia das Mães, em 12 de maio.
Ex-profissional da Tribuna, Fernando Priamo escolheu se dedicar completamente à sua arte. “De forma prazerosa. Uma transformação completa”, afirma. Mas esse processo foi lento e no tempo certo. Em 2010, percebeu que sua câmera poderia servir de fagulha para a construção artística. Foi quando viu, pela primeira vez, pessoalmente, a obra “Medusa”, de Caravaggio, em Florença, na Itália.
“Antes de ver esse quadro eu era um fotógrafo. Depois desse encontro, com que sempre sonhei, foi como se eu estivesse frente a frente com Caravaggio e ele me falasse que eu ia me tornar um artista com um trabalho diferente. E é isso que eu busco desde então.” Com sua própria câmera, Fernando Priamo realiza sobreposições que conectam passado e presente, modernidade com o renascentismo.
Aproximar momentos diferentes e registrar a temporalidade é exercício quase intuitivo para Fernando Priamo, que assume que não se faz trabalho sozinho. “É como se eu fizesse uma obra com muitos outros artistas, mantendo a originalidade. O que eu faço é o que eu sinto no momento que vejo essas obras. Sempre que vou fotografar, volto o meu olhar lá para trás, para tentar captar alguma coisa do presente, mas que remeta ao passado. E é isso que essa fotografia traz. Essa força que te leva a fotografar, que te faz olhar para isso.” É como se toda captura ainda fosse um eco daquele encontro com Caravaggio e o que aquilo representou.
Tanto que, ainda hoje, as obras de Priamo trazem referências do pintor. Isso pode ser representado através, inclusive, do jogo de sombras proposto por Caravaggio e ainda por sua paleta de cor, que segue sendo um diálogo para Fernando Priamo: uma porta aberta para sua lente. “Eu tento trazer uma obra hoje com um pouco dele, mas nos pequenos detalhes.” E tudo isso é um processo demorado, que envolve sentir e perceber os detalhes.
Olhar demorado de Fernando Priamo
Apesar de agora distante do jornalismo diário, Fernando Priamo confessa ainda que seu trabalho tem resquícios do fotojornalismo, “como, por exemplo, a velocidade do olhar. Isso é uma coisa muto transformadora.” Ao mesmo tempo, tem suas distâncias. “Porque, ao mesmo tempo que meu olhar é veloz, eu consigo, com mais tempo, me demorar na observação. Eu consigo observar além. Essa é uma forma de captar imagens que me dá uma nova perspectiva de visão”, explica.
Durante um tempo, esse trabalho propriamente da imagem como obra foi sendo deixado de lado. E foi mais especificamente em 2018 que a mudança aconteceu. “Eu, do fotógrafo comum, me tornei um artista da imagem”, acredita. E, desde então, isso se tornou sua sina: ser inspirado e inspirar.
Na sua cidade natal
Seu trabalho já foi exposto em diversos lugares. Ele, recentemente, participou de uma exposição coletiva em Miami. Fernando Priamo sentia falta, então, de se voltar para Juiz de Fora: sua cidade enraizada em suas veias. “Porque o jornalista estava enraizado na cidade. E o artista estava navegando fora, buscando novos limites de arte, viajando. E a cidade nunca conheceu de fato essa veia artística.”
Expor, então, no Lourdes Square, com essa mostra que contém 12 de suas obras, é uma forma de um reencontro. “Essa exposição é uma ruptura desse tempo e espaço. Eu consigo trazer esse tempo. Essa exposição é do reencontro, da transformação. Um reencontro de almas. Porque é quando o artista volta para a cidade, à sua essência, e ele resgata a cidade e oferece aquilo que oferecia para outros lugares. Esse reencontro é importante. É a alma de um artista que não é daqui. Ele ultrapassa esse limite. Ao mesmo tempo, tem a pessoa que vive aqui. Esse reencontro é fundamental para que existisse essa exposição”, diz.
É a primeira vez que essas obras serão expostas em Juiz de Fora. “Elas foram feitas com tecnologia alemã. É diferente de outras que eu fiz aqui na cidade, que tinham uma pegada mais interiorana. Essa, não. Eu venho com outro peso. Posso dizer que as obras têm alma, não são apenas fotografias”, afirma Fernando Priamo. A curadoria foi de Eduardo Brigolini, que também assina outra exposição que o fotógrafo afirma que vai acontecer em junho deste ano.
Um trabalho atual e imortal
Os quadros expostos, Fernando Priamo adianta, são de vários tamanhos e apresentam diferentes técnicas. “Cada qual se adequando ao seu perfil”, explica. Ainda assim, elas conversam diretamente, seja pelas referências, os processos ou mesmo por um sentido que ele persegue: “Eu quero que minha arte leve alguma coisa às pessoas. A minha obra precisa conversar com as pessoas e precisa ser um diálogo muito aberto. Assim como as obras de Caravaggio continuam modernas, eu espero que a minha continue sendo atual daqui 100 anos. Ela não é momentânea”, finaliza.