Dias aparentemente comuns. No diário de bordo de uma banda em processo de gravação, nada parece surpreender, a não ser que apareça um riff inesperado ou um solo capaz de ensurdecer a mesmice do estúdio. Para o Martiataka, o final de semana passado não passará em branco, o que não é mérito só da banda que já mandou dois EPs e dois CDs para a prateleira. O pontapé inicial do terceiro álbum, ainda sem nome, foi dado no estúdio Versão Acústica, espécie de resort da música criado pelo cantor Emmerson Nogueira nos arredores de São João Nepomuceno. O ambiente e o equipamento são de primeira linha, dispara o frontman da trupe, W. Del Guiducci. Lá é possível ficar só por conta de fazer música, arremata o músico, com a satisfação de quem cumpriu bem o dever de casa, fora de casa.
Sábado e domingo, Del (vocais), Fabricio Barreto (guitarra), Thiago Jim Salomão (baixo), Victor Frango Fonseca (bateria) e Fausto Coimbra (guitarra) gravaram as bases das 12 faixas inéditas do próximo trabalho, que também não tem data de lançamento prevista. De hoje a domingo, entra no roteiro de trabalho o registro de vozes, violões, mais guitarras e percussões. A partir daí, é mixagem e masterização, a cargo do produtor Nando Costa, que vai levar o material para os Estados Unidos, este mês, onde pretende finalizar sua participação no projeto. Queríamos muito fazer com o Nando no estúdio do Emmerson, por isso aproveitamos o tempo dele (Nando) por aqui, ressalta Del, referindo-se à passagem do produtor – que atuou na produção do EP Karma, baby!, último do Martiataka – pela cidade.
Segundo o vocalista, o processo de composição continua coletivo, mas se diferenciou dos outros quanto a sua forma. As músicas ficaram prontas, os arranjos foram sendo definidos nos ensaios com o Nando e registrados no computador dele, mas não tivemos muito tempo para ‘decorar’ tudo. Então, lembramos muita coisa lá no Versão Acústica mesmo. É nosso disco mais espontâneo, sem dúvida, ele diz, enquanto mostra, no computador, as fotos clicadas no estúdio que oferece diferentes ambientes, como o corredor utilizado por Thiago Salomão para gravar seu baixo. Nossa intenção foi gravar tudo junto, ao mesmo tempo, nessa ‘vibe’ de ao vivo mesmo, usando todas as salas, escadas e corredores disponíveis no estúdio. Tinha cabo esticado para todo lado, explica Del.
Por lá, os músicos não só puderam colocar em prática o que ainda era um projeto, como também desfrutaram do serviço de hospedagem do local, que, de acordo com Del, disponibiliza refeições e um visual de causar inveja até em quem se acostumou com o tradicional ritual de gravação entre quatro paredes. Afinal, se música é inspiração, por que não assimilar trabalho e diversão quando o resultado esperado é o bom e velho rock and roll?