Ícone do site Tribuna de Minas

Museu do Forum da Cultura recebe exposição ‘Caminho’

destacadaExposicao Forum da Cultura Felipe Couri 3
Exposicao Forum da Cultura Felipe Couri 2
Além da exposição, dupla vai oferecer oficina gratuita de acabamento em madeira (Fotos: Felipe Couri)
PUBLICIDADE

A própria madeira já dá o caminho. Às vezes um tronco mesmo: base para a escultura. Às vezes é seu crescimento inscrito como uma digital que demonstra o caminhar da vida, da cidade. Ou sua junção de cores e texturas que formam mais mata, no outono. Os olhos dos passarinhos atentos. “Caminho”, que está exposto no museu do Forum da Cultura da Universidade Federal de Juiz de Fora(UFJF) até o dia 18, é um convite às descobertas dela que é matéria prima e primeira de todo o resto.

O trabalho é todo coletivo. Por mais que, por vezes, é só o nome de Caio Paro ou de Rafael Monteiro que assina as peças em marcenaria, marchetaria e escultura, o conjunto é do coletivo Malungo, formado, em essência, pelos dois arquitetos. O trabalho deles juntos começou como se fosse uma sina. Amigos desde os 15 anos, eles fazem as contas, viram os caminhos novamente se entrelaçarem quando escolheram fazer arquitetura. E depois, mais uma vez, quando tiveram um fascínio pelo trabalho com a madeira e suas possibilidades, desde as obras mais utilitárias às mais artísticas. Um, por consequência, ia chamando o outro nos trabalhos que pintavam e o surgimento de uma oficina foi natural. “De tanto mexer com a obra, a gente quis fazer móvel também”, afirma Rafael.

PUBLICIDADE

No começo, era simplesmente dois amigos que trabalhavam juntos. Mas eles viram a necessidade de dar um nome àquilo. As referências em comum são várias, e vai desde as inspirações no trabalho à música que se escuta. Xangai, cantor e violeiro do extremo sul da Bahia, é um desses pontos de encontro. Ele escreveu a canção “História de vaqueiros”, que, entre tantas, menciona a palavra “malungo”. Os dois ouviram a explicação dessa palavra dada por Xangai ao jornalista Chico Pinheiro. Rafael sabe quase de cor a explicação, e fala: “Ele faz uma analogia aos carros de boi. Fala: ‘Imagina dois bois que trabalham juntos o dia inteiro, que às vezes estão carregando um negócio e tem umas rusga no meio. Fazem tudo junto, trabalham juntos e comem juntos e, no final do dia quando o carreiro vai tirar a canga deles, soltar para o pasto, os dois continuam pastando juntos sem precisar’.” Caio completa, também usando as palavras do músico: “Isso é malungagem.” E, na entrevista, Xangai resume: “São parceiros, amigos inseparáveis”. O nome, então, não poderia ser outro.

PUBLICIDADE

Na oficina, juntos o tempo todo, o trabalho era mesmo sempre em conjunto. “Na oficina, a gente trabalhou muito juntos. Tudo tem um dedo do outro. De ir perguntando e quando vai desenvolvendo acaba tendo essa troca”, diz Caio. Rafael afirma que é exatamente por causa dessa troca que a oficina fazia sentido. E foi assim que as obras mais artísticas foram surgindo. “Já era o desejo de ter uma pegada mais artística no próprio mobiliário. E tem toda essa questão do reaproveitamento de madeira, sempre ter muita sobra, e madeira boa, que a gente fica com dó de jogar fora. E pensando no que dá para fazer com essas coisas que a gente vê que são mais peças artísticas”, revela Caio. E Rafael completa: “A gente guarda as madeiras como se fossem pedras preciosas. De uma certa forma são madeiras cada vez mais raras. E parte do nosso trabalho é isso: brincar com essa variedade de madeira, tons, texturas”. É por esse motivo que o caminho é dado pela própria madeira.

<
>

Arte é – também – um trabalho braçal

Mas levar essa arte para dentro de um museu é um outro caminho. Por mais artístico que seja o trabalho com a madeira, é como se ainda houvesse uma barreira entre a arte e o ofício. “Mas eu vejo a marcenaria como um tipo de arte. Não só um ofício, mas um tipo de arte. O que separa o oficio da arte é essa linha que a gente transita. A gente trabalha também como marceneiro, fazendo móveis planejados, moveis sob encomenda, projetos de casas e móveis. Mas às vezes em uma obra artística a gente tem mais técnica de marcenaria do que um móvel planejado mais simples. Eu vejo isso como uma forma de arte que devia estar mais no museu. Às vezes um serviço braçal, claro que não é puramente braçal, mas é braçal – muito braçal -, a gente tem uma coisa de menosprezar enquanto arte. Qualquer trabalho que envolve mais o corpo ele vai ter um apelo artístico menor para as pessoas. Isso que a gente tentou desfazer aqui, em um quadro, um objeto ou escultura. Acho que é muito sutil essa diferença para se tornar um arte”, admite Rafael.

PUBLICIDADE

Ele fala isso e aponta para um quadro: é uma moldura com algumas facas dentro, de diferentes cores – todas elas as originais da madeira. “Se essas facas estivessem separadas, não iam chamar tanta atenção não só para as facas, como para a madeira, as texturas.” Um outro quadro ao lado é um apanhado de anéis de leitura postos em composição. “Uma marca do começo do nosso trabalho”, relembra Rafael. Enquanto uma tábua, também exposta, é fruto das madeiras da casa de sua avó. “Todas tem alguma história.” Caio concorda: “É legal que vendo assim pronta (a exposição) mostra um pouco por onde a gente passou. É o caminho”, justificando, ainda, o nome da exposição. Todas as obras sugerem uma nova forma de olhar.

Oficina de acabamento

No dia 11, Caio e Rafael vão oferecer uma oficina gratuita de acabamento em madeira, das 14h às 17h, no Forum da Cultura. A ideia é mostrar os tipo de acabamento, utilizando óleos, ceras, vernizes e tingidores, em diferentes espécies de madeira, apontando os processos de preparação e aplicação de cada um dos produtos. Eles oferecem todos os materiais que serão usados. O curso é voltado a maiores de 16 anos. Não é necessário ter experiência prévia. Basta realizar o cadastro no link.

PUBLICIDADE
Sair da versão mobile