O traço dela é simples. Seus desenhos são, muitas das vezes, monocromáticos e sintéticos. Seu texto (escrito ou imagético) é absolutamente poético. As criações de Manzanna (codinome de Anna Mancini) em nada refletem o colorido esquizofrênico e as desgovernadas informações da internet. Mas dela se aproveitam para voar alto. A artista de 25 anos é uma das convidadas para integrar a plataforma Cosmic. O convite foi feito por intermédio de outra quadrinista, de Pernambuco, com a qual Manzanna tem muito contato. Para esse universo, a rede realmente é rede.
“A cultura dos quadrinhos, nos primórdios, se baseava nas trocas postadas por Correios, ou em eventos que favoreciam a integração. O físico ainda existe e é forte. A internet não compete com esse jeito de fazer, mas facilita o contato, o intercâmbio, o enriquecimento”, pontua a artista, que integra diferentes zines e, em maio, desenvolveu dois grandes desenhos para o Sesc Bom Retiro, em São Paulo. Para a nova plataforma, Manzanna espera lançar um trabalho inédito, que também deve ganhar a forma física. “Está em processo”, diz, com a voz calma, como se espera por seus desenhos.
Segundo a quadrinista juiz-forana, a iniciativa cearense demonstra a boa fase pela qual passa a expressão. “Para o público dos quadrinhos, que tem muita facilidade de descobrir novos aristas, é muito conveniente que exista essa via. E para quem já consome outros tipos de entretenimento com esse padrão de assinatura, pode ser uma possibilidade de inserção”, comenta. “Tem uma cena forte e crescente no Brasil. Existem zines de autores independentes, coletivos e revistas de muita qualidade. É importante que tenham projetos querendo investir na produção nacional”, completa.
Nesse panorama, encontram-se também discursos que buscam visibilidade para o que ainda é espinho na sociedade. Manzanna flerta, por exemplo, com as questões ligadas ao feminismo. “A cena atual tem um grupo forte de mulheres, que produzem com a intenção de dar visibilidade à produção feminina”, diz. E o seu discurso, qual é? “Não faço nada com uma ideologia muito específica. Porém, o fato de ser feminista reflete, de alguma forma, em meu trabalho. Participar dessas iniciativas de quadrinistas feministas acaba fazendo parte de meu trabalho, mesmo que não escancare minha orientação ideológica. Quero abordar isso e mais outros assuntos. O quadrinho não exige ser uma coisa só.”