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Quintou!: noites de quinta movimentam a cidade há décadas

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Muito se fala sobre a chegada da tão esperada sexta-feira. Para grande parcela das pessoas, a semana já começa de olho no final dela, afinal, é quando a maioria vai ter mais tempo para o lazer. Os bares, casas de show e outros espaços culturais costumam preparar a programação voltada para o final de semana, período em que atrai mais público. Porém, uma das características marcantes de Juiz de Fora, que pode causar surpresa para quem vem de fora, é o sextou adiantado. Por ser uma cidade universitária, as noites de quinta-feira costumam ser bem movimentadas por aqui. Mas não é de hoje que isso acontece. Uma volta às décadas de 70, 80 e 90 mostram que a cena cultural da cidade já tinha uma preferência pelas quintas.

Quem viveu a Juiz de Fora das décadas de 70 e 80 deve se lembrar das calouradas que aconteciam no antigo prédio do Diretório Central dos Estudantes (DCE), que ficava no encontro da Avenida Getúlio Vargas com a Rua Floriano Peixoto. Mais do que um ponto de encontro entre os jovens, o espaço incentivou a cena alternativa da cidade. “A quinta-feira unia a possibilidade de ser uma noite intermediária entre a rotina do meio de semana e a balada do fim de semana. Principalmente para o público universitário (mas não só), se tornando uma opção para eventos alternativos e até experimentais”, explica o cantor e jornalista Edson Leão, que frequentava o lugar.

Edson é vocalista do Eminência Parda e um dos primeiros shows da banda aconteceu em um evento chamado Quinta Maldita em 1986, no antigo prédio do DCE. “Era um momento em que o Rock Brasil estava em alta, e com ele a demanda por trabalhos autorais.” Organizada pela irmã do artista, Valéria Leão, a Quinta Maldita tinha a proposta de ser uma mostra de bandas do circuito underground de Juiz de Fora e Região, misturando do pós-punk ao heavy metal e passando pelo pop rock 80 e hard rock. Durou só uma noite, mas foi o suficiente para ficar na memória de quem ali estava e dar força para as bandas que estavam começando. Três delas estão ativas até hoje: Eminência e Ossiação, de Juiz de Fora, e Corrente Sanguínea, de Leopoldina.

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“A ideia era levar isso para um bar, onde o espírito do rock’n’roll estaria mais presente do que em teatros e anfiteatros, onde era mais comum na época ter eventos autorais. Você tinha o lado cultural fluindo ao lado do espírito boêmio estudantil, num dia da semana em que a vida noturna já engrenava, mas sem competir com as baladas mais comerciais”, comenta Edson.

Uma cidade universitária

Depois desse show, o Eminência Parda passou a tocar em outros espaços de Juiz de Fora e um deles foi uma casa de shows no Bairro São Pedro, conhecida como Prova Oral. O lugar foi fundado há 35 anos pelo casal Juçara e Baretta e depois passou a ter Marcelo Panisset, o baterista do Eminência Parda, como proprietário. Ele trocou o nome da casa para Prova Oral Cultural Clube, que, mais tarde, daria origem ao Cultural Bar.

Era uma casa de músicos que tinha como um dos diferenciais ter uma programação especial para a quinta-feira. “As quintas-feiras sempre foram muito especiais justamente porque quem é alternativo gosta de sair da mesmice, então era um público diferente.” Na época do Cultural Bar, Marcelo lembra que as quintas ficavam tão lotadas que as portas precisavam ser fechadas porque não cabia mais ninguém, já que esse era o dia destinado ao show da cantora Myllena.

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Marcelo acredita que a efervescência da quinta tem relação com o grande público universitário que a cidade abriga. Por ficar localizado ao lado da universidade, o Prova Oral tinha essa vantagem e aproveitou disso para adiantar os eventos da semana, já que muitos estudantes acabavam voltando para as suas cidades na sexta. No final, o público era muito grande, o espaço suportava cerca de 1.500 pessoas, e aí veio uma crise que já dificultava encher sexta e sábado, a quinta passou a ser inviável e eu acabei desistindo”, diz.

A banda Eminência Parda fez um dos primeiros shows na Quinta Maldita, em 1986, no antigo prédio do DCE (Foto: Divulgação)

Quinta do Bloco

Com a dificuldade de trazer artistas mais conhecidos nas quintas, outros eventos começaram a surgir, como foi o caso da Quinta do Bloco. Criado em 2004, com o objetivo de dar visibilidade para artistas locais, principalmente os que estavam começando, o evento acontecia duas vezes por mês no Cultural Bar. O idealizador do projeto João Paulo Mauler, que na época cursava jornalismo, explica que o nome fazia referência ao álbum Bloco do Eu Sozinho, dos Los Hermanos, e a ideia era proporcionar uma troca de experiências entre bandas mais conhecidas junto com outras locais.

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“Quando começamos a fazer a Quinta do Bloco era justamente por uma vontade do Cultural de ocupar a noite de quinta-feira com algo diferente. As principais bandas de pop rock de JF tocaram no Quinta do Bloco, assim como as bandas iniciantes. Nós também conseguimos trazer o Cachorro Grande, uma banda do Rio Grande do Sul que estava estourada e esse foi o maior evento que fizemos”, relembra João Paulo.

Antigo folheto da Quinta Maldita (Arte: Gilson Loureiro Azevedo)

As noites no Rise

Esses eventos marcaram gerações e até hoje a cidade segue com as noites de quinta movimentadas, mas de um jeito diferente. Um desses lugares é o Rise Together. O bar da Avenida Presidente Itamar Franco reúne em média de 250 a 300 pessoas nas quintas. É tanta gente que ultrapassa o espaço do bar, ocupando os passeio e canteiros da via. “Muitas vezes é um dos melhores dias de movimento da semana, já que mobiliza também muito a rua e os arredores como um todo”, comenta o proprietário Douglas Rodrigues. Ele acredita que a promoção de caipirinha pela metade do preço nas quintas pode ajudar a explicar o sucesso.

Para Douglas, essa vida nas noites de quinta-feira na cidade havia se perdido a um tempo atrás e ele, como frequentador, sentia falta disso. “As pessoas tinham essa vontade de começar seu final de semana mais cedo, mas, às vezes, não achavam uma opção mais interessante e principalmente acessível.” Foi pensando em suprir essa demanda que ele decidiu criar a Rise em 2017 e logo nos primeiros meses a resposta do público foi mais positiva do que ele pensava. “A intenção era atrair um público diferente do público de final de semana, como estudantes e pessoas saindo do trabalho em busca de um happy hour.”

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O bar Rise Together, na Avenida Presidente Itamar Franco, é um dos que, até hoje, segue com as noites movimentadas na quinta-feira
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