Como parte das comemorações do aniversário de 173 anos de Juiz de Fora, o Museu Mariano Procópio reabriu as portas da Villa Ferreira Lage, conhecida como Castelinho. Essa é a primeira vez em 16 anos que o museu funciona integralmente, e, assim como já acontecia com as outras atrações do espaço, a visitação a esse local será gratuita e aberta ao público. Todos os juiz-foranos podem conhecer os cômodos da casa de Mariano Procópio, o acervo imperial com mais de 53 mil itens e as novidades da reabertura, a partir deste sábado (1º), das 9h às 16h. As entradas para o local são feitas através da Rua Dom Pedro II 350 e pela Rua Mariano Procópio 1.100.
O Castelinho foi construído no ano de 1861 para receber o Imperador D. Pedro II e sua família, quando eles fizeram a primeira visita à cidade de Juiz de Fora. Entre os cômodos disponíveis para a visitação está a sala de jantar, local em que o Imperador Dom Pedro reunia sua família e passava o tempo quando se hospedava na cidade. Também é esse o ambiente no qual a família Ferreira Lage, que tinha grande prestígio na cidade, se reunia para compartilhar refeições e receber visitas importantes para jantares. Como a prefeita Margarida Salomão afirmou, no evento de reabertura, o museu, que conta com o segundo maior acervo do Brasil Imperial, é muito importante não só para Juiz de Fora, como para todo o Brasil – afinal, ele conserva essa história e traz muitos artefatos importantes. “É nosso dever fazer chegar à sociedade brasileira essa oportunidade de conhecimento e de investigação”, afirma. No total, são 14 cômodos disponíveis para visitação, tendo um ambiente com estilo renascentista italiano, trazendo porcelanas e cristais do século XIX.
Também é possível verificar durante a visita, dentre os atrativos, a sala de leitura, a sala de chá, o escritório de Mariano Procópio e a sala de música com piano do século XIX, da Erard. São três andares disponíveis para visitação e textos que guiam a exposição, em um espaço que está montado com móveis e objetos de quando a Villa foi originalmente construída. Uma das novidades do espaço é o porão, que não era aberto para o público. Como explica Giane Elisa, diretora geral da Funalfa, é um espaço onde ficavam os serviçais, e, com a reinauguração, ela propõe uma reflexão sobre quem construiu o museu e a cidade de Juiz de Fora. “É um local que nunca foi aberto à população, e que é cheio de histórias que precisam ser contadas. Não basta falar que era um local dos serviçais, é preciso que a gente reflita sobre o que aquelas pessoas que ficavam ali no porão, onde ninguém tinha acesso, construíram para cidade, para sermos hoje quem nós somos”, reflete.
Essa última etapa da reforma da Villa Ferreira Lage teve início no dia 20 de março de 2023 e foi concluída em 25 de abril. Entre as obras realizadas, de acordo com a PJF, foram feitas raspagens e pinturas de paredes, correção de fissuras e infiltrações, recuperação das janelas do espaço, pintura das portas e das janelas do porão. As áreas que compunham todo o Museu Mariano Procópio estavam fechadas, até que a Prefeitura investiu mais de R$ 800 mil para reabrir o espaço e, no ano de 2022, o museu começou a funcionar parcialmente, apenas com algumas galerias. A partir da abertura da Villa, o público volta a ter o acesso completo ao complexo, podendo desfrutar de todas as áreas. É possível visitar o espaço de terça-feira a sexta-feira, das 9h às 16h e aos sábados e domingos das 10h30 às 16h. A diretora do Museu, Maria Lúcia Horta Ludolf de Mello, celebrou a reinauguração destacando a importância do envolvimento de todos os setores para tornar possível a conclusão da última fase de reformas para reabertura plena do espaço. “Mesmo em meio a dificuldades, que não foram poucas, conseguimos atingir mais uma etapa gloriosa, a reabertura da Villa”, diz.
Porão traz reflexões
O porão é um dos espaços que está sendo aberto para o público pela primeira vez, e propõe uma reflexão crítica a partir de fotografias, documentos e objetos expostos. Como explica a responsável pela Funalfa, a intenção é que os museus estejam mais atualizados e proponham reflexões atuais. “Cada vez mais, esses espaços e esses lugares de memória devem ser espaços que nos mantenham de pé, afirmem nossas identidades e nos façam seguir adiante”, diz. A exemplo, em um dos espaços está o poema “Perguntas de um trabalhador que lê”, de Bertolt Brecht, e que questiona “Quem construiu a Tebas de sete portas?/ Nos livros estão nomes de reis./ Arrastaram eles os blocos de pedra?”. Conforme Giane, é preciso manter essas perguntas. “É pra gente pensar que o modo que a gente quer o futuro tem a ver com como olhamos para o passado”, diz.
Além disso, ela reafirma o compromisso de “contar a história por quem fez a história de fato”, trazendo para dentro das portas e para as reflexões “pessoas que foram silenciadas e esquecidas”, e que trazem a reflexão sobre a relação do porão com o restante do acervo do museu. Na visão da diretora da Funalfa, tanto o porão quanto o restante do museu devem “criar memórias afetivas” para a população. “É uma possibilidade de abrir para uma geração que nunca viu o acervo completo do museu, e também de abrir as portas para a cidade de JF que nunca visitou esse espaço. Temos a possibilidade de recontar essa história e de aquecer as afetividades com a cidade”, diz.
Olhar para o futuro
Ainda em sua fala, a prefeita anunciou que o plano para o próximo ano é que seja feito um concurso para recompor o quadro dos profissionais do museu, já que agora o espaço funciona integralmente e demanda um maior trabalho dos funcionários. Ela ainda destaca o legado que deixou Alfredo Ferreira Lage, ao doar todo o acervo para a visitação da população de Juiz de Fora, fazendo com que a cidade contasse também com um espaço que traz “grande potencial turístico” por toda a história que abriga.
Para Carlos Eduardo Paletta Guedes, do Conselho de Amigos do Museu, fazer essa reforma é possibilitar que cada vez mais pessoas possam aproveitar o espaço, tendo também novas formas de acessibilidade para o local. “Deixamos para gerações futuras um museu educativo, inclusivo e rico em histórias para contar”, diz. Da mesma forma, Maria Lúcia ressaltou que o trabalho não termina aqui e que conta com a ajuda da classe empresarial da cidade para continuar avançando em direção a um museu que seja prestigiado e atual.