“A rádio era apenas o primeiro passo para o ingresso de Juracy na área de comunicação. Já no final de 1980 começou a fazer articulações para a montagem de um jornal que fizesse frente ao ‘Diário Mercantil’, embora reconhecesse a força do concorrente, há décadas ditando as regras em Juiz de Fora. Tão logo virou o ano, iniciou a fase embrionária do projeto. O primeiro passo foi montar a equipe. Para tanto, convidou José Carlos Lery Guimarães, radialista, jornalista e professor da Facom na matéria Produção e Emissão de Rádio e Televisão, que já dava assessoria na Rádio Sociedade, a B-3.
Para editor-geral foi contratado o jornalista Eloísio Furtado, então editor de ‘Cidade’ do ‘Diário Mercantil’, e Ivanyr Yasbeck, responsável pelo projeto gráfico, com passagens por empresas de comunicação de grande expressão no Rio de Janeiro, especialmente o ‘Jornal do Brasil’, do qual apenas se licenciou para ingressar no novo empreendimento em Juiz de Fora. Em 1982 ele voltaria para o ‘JB’, tendo participado da equipe que ganhou um ‘Prêmio Esso de Reportagem’.
Eloísio viveu todas as etapas do jornal, e foi na redação, já na Rua Espírito Santo, na noite de 11 de março de 1995, um sábado, quando fechava a edição de domingo, que sofreu infarto fulminante. Como de hábito, era o último a sair do jornal. Desta vez, para sempre. A edição, que já tinha sido fechada, ainda registrou sua morte, em nota de primeira página. A redação estava em silêncio, como abordaria o editorial do dia 14.
A implantação da Tribuna de Minas demandou nove meses de trabalho. Do ‘Diário Mercantil’ foram convidados também vários jornalistas, mesclados com jovens egressos da Facom. A meta era lançar o jornal já no início do segundo semestre. Como o prédio na Rua Santo Antônio era ocupado exclusivamente pela emissora, e, na sua extensão, já com saída para a Avenida Rio Branco, pelo ‘Diário Mercantil’, era preciso definir uma sede para o novo jornal.
Com auxílio do advogado Joaquim Castelões, Juracy abriu negociações com os padres da Congregação do Verbo Divino, pois tinha interesse em adquirir a gráfica, que rodava basicamente o ‘Lar Católico’. A conversa avançou, mas não havia dinheiro em espécie suficiente para fechar a transação. Foi quando surgiu a possibilidade de ingresso de outros ativos no negócio. Juracy cedeu vários imóveis e adquiriu a gráfica. Mais ainda, fechou contrato para instalação do jornal na própria Academia de Comércio, no prédio anexo à gráfica, onde se encontra hoje a Biblioteca Esdeva – acrônimo de Verbo Divino.
Com gráfica e redação já formadas, os trabalhos se intensificaram. Foi fixado o dia 1º de setembro para o lançamento da edição número 1. Antes, era preciso fazer um teste. A equipe, com cerca de 60 pessoas só na redação, montou o número ‘zero’, que seria a prova final do novo projeto, 15 dias antes da primeira edição, na qual Juracy, num texto elaborado por José Carlos Lery, traçou suas razões e seus objetivos. Nele estava definida a linha editorial do grupo Solar de Comunicação.
Com o título ‘Razões e objetivos’, o editorial já começava pregando as metas iniciais do novo jornal, calcadas no ‘testemunho de coragem, confiança e entusiasmo’ do ‘povo da Zona da Mata de Minas’, e traçando seus caminhos, a partir da ‘decisão de ocupar os grandes espaços vazios da Comunicação Social em Minas Gerais’. O texto anunciava também, logo no seu começo, que a Tribuna de Minas ‘surge com a idoneidade e o vigor de uma estrutura empresarial consolidada na experiência bem-sucedida em outros e diferentes setores de investimento’.
E mais: ‘É necessário dizer que neste novo jornal um complexo industrial constituído de instalações e equipamentos próprios e atualizados se anima de vida e sentido em função dos recursos humanos que são essência e alma da empresa – e que somam a vivência de profissionais tarimbados à força jovem de novos talentos, identificados todos pelos compromissos éticos que os reuniram sob a inspiração dos mesmos ideais e objetivos’.”
Trecho do capítulo “Um homem de comunicação”
“Shakespeare, se o poeta nos lança sua insidiosa pergunta frente ao dilema humano, Juracy a tem, sim, todas as respostas: do ser, do homem que se rege por princípios e ideias inquebrantáveis, ora revelados sob a refinada lavra de Paulo Cesar Magella. Sideradamente, olhos nos olhos quando diante de uma tela o pintei, tentei expressar sua alma inquieta e agônica, de alguém que não se transige. E vi o homem, o menino e seus ancestrais ali presentes, intangíveis, em pinceladas de fúria, o plano, os planos, os altiplanos e as vastas planícies, donde jamais se verá dois Juracys iguais. Diante de céus e nuvens da modernidade, seus filhos Márcia, Suzana, Marcos e André iluminam-se na constelação desse verbo solar cintilante, sendo ele o timoneiro-mor da grande nave triunfante. Como diziam os romanos, sobre experiência e sabedoria de viver: ‘Ex-Stelle Fiat’, a luz vem das estrelas.”
Trecho da apresentação de Carlos Bracher