
Senta que (antes da exposição) lá vem a história. O Teste de Rorschach foi criado há quase cem anos pelo psiquiatra e psicanalista suíço Hermann Rorschach com o objetivo de realizar uma avaliação psicológica pictórica, para assim obter uma dinâmica psicológica do indivíduo submetido ao teste. Também conhecida como “teste do borrão de tinta”, a avaliação inicialmente continha 40 pranchas com manchas simétricas de tinta, a partir das quais o paciente indicava suas percepções a respeito da imagem.
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“Crazy”, e Alan Moore e Dave Gibbons se inspiraram no teste para criar o vigilante psicótico Rorschach na minissérie “Watchmen”, em que o personagem utilizava uma máscara que mudava a disposição dos borrões de acordo com o estado de espírito de seu alter ego, Joseph Kovacs. E foi o teste do borrão de tinta o ponto de partida para a nova série de ilustrações do artista Raphael Nascimento Leite, que estará no Forum da Cultura até 8 de maio com a exposição “Explorando o inconsciente”, que reúne 16 trabalhos levemente inspirados na pesquisa do psiquiatra suíço.
Esta é a primeira exposição individual do artista capixaba, nascido em Itaúnas, distrito de Conceição da Barra, e que mora em Juiz de Fora há três anos. Ele veio para a cidade a fim de estudar química na UFJF, mas logo trocou o curso pela psicologia. “Passei alguns dramas por conta disso. Vim estudar química por influência de minha mãe, mas logo percebi que minha ligação era com humanas. Fui fazer psicologia, que ainda espero concluir, mas atualmente passei para o curso de artes e design”, conta Raphael, que desde a infância tem a compulsão de desenhar e fazer ilustrações. Por conta disso, lembra que foi repreendido diversas vezes na escola por ocupar os cadernos com desenho ao invés de copiar as matérias.
Ele se inspirou então no Teste de Rorschach, mas que serve apenas de base; como ele mesmo diz, não é uma tentativa de fazer uma nova versão do teste de borrão de tinta, e sim brincar com o conceito do teste que se tornou parte de cultura pop. “Até porque gosto de desenhar figuras humanoides, então era mais olhar o cartão e deixar me levar pelas minhas impressões. Elas não têm nome justamente para não influenciar o público”, acrescenta Raphael, que já esqueceu, inclusive, quais foram as placas que serviram de base para determinadas ilustrações, que precisavam de cerca de seis horas para ficarem prontas.
Para a série, as inspirações artísticas vieram de artistas como Keith Haring, Basquiat, Miró e Saul Steinberg. “Foi o professor Afonso Rodrigues, do IAD, quem me apresentou as obras desses artistas. Sem o feedback dele, eu provavelmente teria desistido”, agradece.
Traços abstratos
“Mas, apesar do nome da exposição, meu objetivo não é explorar apenas o inconsciente”, acrescenta. “Elas (as obras) também exploram o pré-consciente do indivíduo. As ilustrações têm a ver com o meu inconsciente, mas para o público o pré-consciente também é importante na hora de analisar. A resposta pode vir dos dois pontos.”
No total, a série terá 40 ilustrações, representando o total de pranchar imaginadas inicialmente por Hermann Rorschach. Ele espera terminar as ilustrações para o segundo semestre, a fim de exibir o trabalho em Belo Horizonte, cidade para a qual já foi convidado a levar a exposição. Antes disso, em julho, “Explorando o inconsciente” – já ampliada – fará uma temporada na cidade capixaba de São Mateus. Ao mesmo tempo, Raphael já tem outros planos em mente: além de trabalhar com pintura, ilustrações, cartuns e rabisco (como prefere definir as obras da série atual), ele quer fazer com grafitti a partir da ideia do rabisco e também com modelagem em 3D, que aprendeu no IAD.
“Gosto sempre de estar mudando, em busca de novas ideias”, afirma. “Passei a criar por meio da modelagem em 3D graças às aulas de design, em que vi o quanto o clean pode ser maravilhoso. Ao mesmo tempo, o rabisco é o que mais gosto de fazer, então vou levá-lo o mais breve possível para o grafitti.
Explorando o inconsciente
Ilustrações de Raphael Nascimento Leite. De segunda a sexta-feira, das 14h às 18h, no Forum da Cultura (Rua Santo Antônio 1.112 – Centro). 3215-3850. Até 5 de maio