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O Oscar 2025 pode ser definido por duas palavras: diverso e imprevisível. Isso porque, como explica a professora de Cinema e Audiovisual na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (Facom-UFJF) e organizadora do Cineclube Lumière e Cia, Érika Savernini, a premiação incluiu na principal categoria, a de Melhor Filme, dois filmes internacionais, dois musicais e um filme de terror concorrendo, além dos demais. A premiação deste ano ainda contou com vários fatores inesperados durante a votação e não aparenta ter um grande favorito para receber a estatueta, a partir dos termômetros dos outros grandes prêmios de cinema. Com o Brasil inteiro torcendo por “Ainda estou aqui”, de Walter Salles, vale conhecer também mais sobre os outros nove concorrentes e entender as reais chances que o filme nacional tem de levar para casa o prêmio.
Como a especialista explica, a premiação deste ano promete surpreender: não é nada como a do ano anterior, em que “Oppenheimer” levou o prêmio, como já era esperado com base nas outras indicações e na trajetória do filme. “Não vemos um único tema e nem um único gênero esse ano”, explica Érika. Para ela, isso é positivo, já que faz inclusive com que filmes de terror, que costumam ser preteridos, por exemplo, tenham destaque. “A substância”, de Coralie Fargeat, é o sétimo filme de terror a ser indicado na categoria principal na história. Apesar disso, no entanto, ela entende que há aqueles mais prováveis de ganhar a principal estatueta: “Tem uma tendência para ser ‘Anora‘, mas de acordo com as últimas premiações, também pode ser ‘Conclave’. (…) É muito difícil que ‘Ainda estou aqui’ ganhe nessa categoria, praticamente impossível, mas a gente torce até o último momento”, diz.
Para ela, isso está acontecendo justamente por uma mudança nos votantes, que passaram a incluir mais pessoas da América Latina, Ásia e África. “O perfil dos votantes mudou, e isso traz mais diversidade e pessoas com outros repertórios culturais. Com isso, essas pessoas vão trazendo suas referências para as premiações”, diz. Ela destaca, como exemplo, a inclusão de filmes de outras línguas, já que os norte-americanos apresentam uma resistência ainda grande em relação à leitura de legendas em filmes. As mudanças, nesse cenário, são gradativas. E nada garante que a premiação do ano que vem continue seguindo esse padrão mais diverso e volte a incluir obras de terror ou musicais.
Vale lembrar, como destaca Érika, que qualquer premiação é questionável. “Sempre tem questões estéticas e de valor artístico, mas também está em questão o momento, a temática, a composição dos votantes e o período em que a votação aconteceu”, conta. Em 2025, isso foi especialmente atípico, já que polêmicas como as que atingiram “Emilia Perez”, por exemplo, são difíceis de prever e podem impactar bastante a opinião dos votantes. Ela também lembra que o Oscar deste ano teve as datas adiadas por conta dos incêndios nos Estados Unidos, e isso fez inclusive que outras premiações fossem entregues enquanto a votação ainda estava ocorrendo. Sobre “Ainda estou aqui”, ela considera todos esses fatores: “Pode acontecer de tudo. Pode não levar nada. Mas acredito que, na ordem das indicações, o que tem mais chance acho que é de Melhor Filme Internacional, Melhor Atriz e Melhor Filme”.
Horror e musical
A presença de um filme de terror (“A substância”) e dois musicais (“Emilia Perez” e “Wicked”) chamou mesmo a atenção dos especialistas. Já há anos a Academia parece beneficiar dramas, e tem apreço por histórias baseadas em pessoas reais e situações históricas reais – inclusive premiando várias dessas atuações. Apesar dos musicais já terem aparecido mais vezes na premiação, nas últimas duas décadas deixaram de ser frequentes, e é a primeira vez em mais de 20 anos que duas obras desse gênero competem.
Entre os filmes de terror, os que foram indicados à principal categoria durante todos os anos de Oscar foram “O exorcista”, “Tubarão”, “O silêncio dos inocentes”, “O sexto sentido”, “Cisne negro” e “Corra!”. Dentre eles, o único a ganhar foi “O silêncio dos inocentes”, há 33 anos.
Inteligência artificial
Uma das polêmicas que mais chamou a atenção durante a premiação foi o uso de inteligência artificial, que ocorreu nos filmes “Emilia Pérez” e “O brutalista”. Os dois, indicados a respectivamente 13 e 10 indicações, usaram o recurso para aprimorar aspectos técnicos. No caso do filme francês, isso foi feito para mudar a voz de Karla Sofia Gascón, indicada a Melhor Atriz, já no caso do filme norte-americano, para aprimorar o sotaque húngaro de Adrien Brody, indicado a Melhor Ator, e Felicity Jones. A questão, para a especialista entrevistada, impacta na percepção dos filmes, e deve ser pensada também a partir do aspecto ético e estético. “Acho complexo. Como que um ator vai ser avaliado, se a voz dele foi alterada?”, questiona.
Érika entende, no entanto, que esse é um assunto ainda mais difícil do que o gerado pela polêmica. “O uso da inteligência artificial nas artes como um todo, e voltado para o cinema, tem sido muito problemático. (…) Nós vemos muitas denúncias de como as artes têm servido para alimentar a IA e suprimir os artistas dos processos criativos”, conta. É algo ainda mais complexo do que nos exemplos citados e nas situações específicas das indicações. “O uso tem que ser discutido. Isso não pode ser feito apenas para economizar e aumentar o lucro, passando por cima dos trabalhadores.”
Apostas e ‘Ainda estou aqui’ no Oscar
As apostas dadas como mais certas para a premiação, de acordo com os sites especializados, são Kieran Culkin em Melhor Ator Coadjuvante e Zoe Saldaña como Melhor Atriz Coadjuvante. Mas, além disso, há outras disputas importantes: Adrien Brody e Timothee Chalamet dividem as chances em Melhor Ator, enquanto Fernanda Torres é a principal concorrente de Demi Moore para atriz, que até então segue como favorita.
A equipe de “Ainda estou aqui” vai levar um time de peso para representar o filme na cerimônia do Oscar 2025. São 22 pessoas envolvidas com o filme que vão assistir à premiação. Na lista, estão Fernanda Torres, Selton Mello, Walter Salles e produtores, roteiristas, produtores executivos e diversos outros profissionais que fizeram parte do filme.
Onde assistir ao Oscar 2025
O Oscar 2025 será transmitido ao vivo em todo o Brasil a partir das 21h (horário de Brasília), e pode ser assistido na Globo, que fará transmissão ao vivo na TV aberta, na TNT e na Max, que fazem a exibição no canal pago e no streaming.