Há 14 anos, a Tribuna fez um convite inusitado: convocou o maestro Ciro Tabet para fazer uma visita a um ensaio de bateria da Real Grandeza, comandada, na época, por Rony Kisser, mestre de bateria. Atento, o maestro acompanhou o ensaio, observou o mestre levantar as mãos, dar ordens, gesticular. E, de pronto, anunciou: “Tanto para um mestre quanto para um maestro, os gestos são universais”. Ele seguiu no ensaio e foi percebendo as similaridades daquele que comanda uma orquestra com aquele que comanda uma bateria inteira. Disse ainda que tudo aquilo que viu o mestre Rony fazer o reportava para o tempo em que estudou regência na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Anos depois, Rony, que é diretor da bateria do bloco Só Love, lembra dessa matéria e comenta sobre ela com Rodrigo Giotti, que integra a bateria do mesmo grupo. Ele tem, então, a ideia de fazer esse encontro de fato acontecer: uma bateria tocando com uma orquestra. Ver como fica e, claro, entender se dá samba. E deu. Nesta sexta-feira (2), o já tradicional Concerto de Carnaval da Orquestra Sinfônica Pró-Música da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) acontece, a partir das 20h, no Cine-Theatro Central. Dessa vez, eles recebem convidados que dão ainda mais cara de carnaval: o Só Love e a passista Regina Ferreira.
Apesar dos convidados, a proposta não muda: a ideia, de acordo com o regente Victor Cassemiro, é realmente executar um repertório de concerto, com músicas eruditas, mas com uma roupagem tipicamente brasileira, puxando para o samba e o axé. Os arranjos, além disso, para esta apresentação, foram inspirados em composições tradicionais do carnaval nacional. É um concerto, com uma nova cara, e para dançar, ainda que da cadeira.
Victor lembra que, primeiro, a ideia era que a orquestra acompanhasse o desfile do Só Love, que vai acontecer no sábado (3), a partir das 11h, no Alto dos Passos. Eles toparam, com uma condição: que a bateria participasse do concerto da noite anterior. E eles também toparam, antes mesmo de um ensaio. “E deu muito certo”, adianta o regente. Tão certo que, no Central, os mestre da bateria acompanha todas as músicas do concerto.
Para o regente, essa junção e a forma de apresentar a música de concerto com uma nova roupagem é uma maneira de aproximar ainda mais o público da orquestra. Ainda mais com a possibilidade de desfilar na rua, no sábado. “Nós apostamos em falar o que estamos tocando para que as pessoas consigam entender a música de concerto. Porque as pessoas não gostam daquilo que elas não entendem”. E isso, como conta, tem realmente acontecido e já é possível sentir uma aproximação, inclusive em outros espetáculos da orquestra. “É por isso que o Concerto de Carnaval entrou no nosso calendário oficial e não vai mais sair.”
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