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Espetáculo de dança ‘Contraponto’ é apresentado no Teatro Paschoal

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Há 20 anos, o Remiwl coloca os corpos no mundo e coleciona premiações, cenas e espetáculos, acreditando que a dança urbana tem papel transformador (Foto: Divulgação)
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Que o corpo também fala não resta dúvidas. Em cima de um palco, então, o impacto se torna ainda maior. Porque ali a narrativa é dada pela dança, pelo encontro também de outros corpos e a sinergia que se instaura. Há quase 20 anos, o grupo juiz-forano Remiwl de dança urbana usa do corpo como tema para abordar os mais diversos temas. Junta a arte com a militância com o objetivo de ocupar os espaços com todos os corpos e mostrar a potencialidade desse tipo de dança. Como uma continuidade, o Remiwl Street Crew apresenta o espetáculo “Contraponto”, neste fim de semana, no Teatro Paschoal Carlos Magno. As apresentações vão acontecer sábado (2) e domingo (3), a partir das 19h30. Os ingressos podem ser adquiridos através do link, ou com os integrantes do grupo, ou ainda no Instagram.

Este é o terceiro grande espetáculo do Remiwl. O primeiro deles foi “3650 – As dores e delícias da convivência”, apresentado em 2015. Em seguida, veio “Entre corpos”, que, inclusive, ganhou as redes, durante a pandemia, se transformando em uma web série que conta os processos por trás dele. Foram três anos sem apresentar um grande espetáculo, ainda na onda da pandemia. “O nosso processo foi de reestruturação. Só no ano passado que a gente conseguiu pensar nesse retorno do nosso calendário geral: algumas atividades do primeiro semestre e preparação para o espetáculo no segundo”, explica Sol Mourão, diretora do Remiwl e também de “Contraponto”.

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Nesse hiato, alguns novos integrantes foram entrando, e foi preciso também, de acordo com Sol, entrar em sintonia. “Mas é engraçado que a energia do Remiwl nunca muda. Pode entrar ou sair gente, que não muda”. O Remiwl, inclusive, tem duas formas de atuação: a Base e a Street Crew. A primeira é focada em oferecer aulas para interessados nas danças urbanas. Já o Street Crew é composto pelos próprios professores da Base e que, no caso, são os dançarinos do espetáculo. “Esse contato que os alunos têm com os professores é o que mantém essa energia também. Por mais que o grupo esteja agora com uma cara mais jovem, é a mesma energia do Remiwl de 20 anos atrás.”

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Energias estruturadas, Sol afirma que o processo foi, então, pensar no que eles queriam apresentar nos palcos, depois desse tempo. “A ideia foi, então, dar continuidade mesmo, nesse nosso terceiro grande espetáculo. A gente ficou pensando bastante em como e em que poderia falar. E eu tive essa ideia de fazer ‘Contraponto’ dessa maneira: questionar a perspectiva de céu que a gente tem. Do que a gente é ensinado mesmo. A ideia é desconstruir isso e colocar os nossos corpos dentro desse lugar. Porque, quando a gente fala sobre céu, os nossos corpos não são inclusos, os corpos de LGBTQIA+, de pessoas pretas, de praticantes de religiões de matrizes africanas. A gente não está incluído nesse céu. A ideia, então, foi construir esse céu, mostrando as individualidades das pessoas”, conta a diretora.

(Foto: Divulgação)

Em três atos

Para o texto de apresentação, o grupo traz o poema de Conceição Evaristo, “Certidão de óbito”, que, dessa maneira, sintetiza toda o mote do espetáculo: “Os ossos de nossos antepassados/ colhem as nossas perenes lágrimas/ pelos mortos de hoje./ Os olhos de nossos antepassados,/ negras estrelas tingidas de sangue,/ elevam-se das profundezas do tempo/ cuidando de nossa dolorida memória./ A terra está coberta de valas/ e a qualquer descuido da vida/ a morte é certa./ A bala não erra o alvo, no escuro/ um corpo negro bambeia e dança./ A certidão de óbito, os antigos sabem,/ veio lavrada desde os negreiros.” E, então, questionam: “Nossos corpos que não seguem um mesmo fluxo de padrão social irão para onde após esse ciclo na terra?”

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“Contraponto” é composto por três atos. O primeiro ato, como conta Sol, apresenta uma introdução, que apresenta a trajetória da personagem principal. “A gente fala um pouco sobre os sentimentos que a personagem tem por estar chegando nesse céu”. Depois, a proposta foi mostrar como é, de fato, esse lugar para onde seu corpo seguiu, após a morta. “No terceiro, ela já entendeu onde está, o que tem ali, e já se sentiu pertencente a esse espaço.” Porque, em “Contraponto”, nesse céu, cabem todas as pessoas. E tudo isso contado através dos corpos, da dança urbana, com influências que englobam hip hop, dancehall, vogue e house.

Além desse enredo construído, as próprias vivências dos dançarinos se apresentam no palco. “Os coreógrafos vão construindo as cenas. A gente vai fazendo ensaios, repassando o espetáculo todo, vendo o que pode acrescentar, o que pode mudar. Porque é um trabalho de construção e inspiração para criar coletivamente. E é importante ressaltar que ele é todo de danças urbanas. A gente coloca isso a partir do nosso corpo e das nossas vivências. A gente traz junto o que a gente viveu. Porque, além de tudo, o Remiwl é, também, um grupo militante.”

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20 anos da melhor forma

São 20 anos colocando os corpos no mundo e colecionando premiações, cenas e espetáculos. Apesar das dificuldades, eles seguem fortes e fortes porque acreditam que a dança urbana tem papel transformador. Para garantir o “corre”, como fala Sol, fazendo de tudo: correm atrás de cada pedaço do espetáculo para que tudo aconteça da melhor forma, da dança propriamente dita às cenas. “Mas isso tudo porque tem uma coisa: o Remiwl só faz as coisas se for para ser da melhor forma”, finaliza.

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