Filipe é um artista de Juiz de Fora que a trancos e barrancos grava seus discos, produz clipes e tem uma agenda de shows em estúdios, botequins e festas alternativas. Recentemente passou um período vivendo em São Paulo e começa essa semana a gravação de seu segundo full álbum, no Rio de Janeiro, que está sendo produzido por Gabriel Guerra, ou “Guerrinha” (integrante das bandas Séculos Apaixonados, Crusader de Deus e ex-Dorgas).
Para viabilizar o projeto, ele está com um financiamento coletivo no site vakinha.com – “Ajude o Alvim a terminar o disco novo”. Seu último trabalho “Beijos”, lançado em novembro de 2016 pela Pug Records, foi antecedido de um single em LP sete polegadas de “Vida sem sentido”. Filipe, de batom vermelho, beijou e assinou cada um dos encartes – essa mistura caseira cheia de afetividade é a cara de Filipe Alvim, conhecido por seus hits de um estilo particular entre o pop e vertentes contemporâneas do rock. E para quem está com saudade, tem show marcado para esta sexta-feira, 3, no Maquinaria, já com nova formação: Ruan Lustosa e Pedro Tavares em sobreposição de guitarras, Guilherme Lignani é o mais recente baixista, Everton Surerus continua com syntetizador/teclado, Fred Mendes, na bateria, e Filipe – vocal e performer.
Encontro com ele um dia, e está de mudança para São Paulo; faz um show de despedida lotado no quintal de uma casa-estúdio (Canil Recs). Em outro, está sonhando com a realização de um festival independente por aqui, e até sentamos para um café e começamos a sonhar e planejar, por mais que ele não aguente essa cidade desde o início dos anos 2010. Enquanto troca de integrantes, grava um clipe. Depois de “A divisão”, “Domingo” e “Meu sofá”, do EP “Zero” (2013), Filipe lança vídeos para “Vida sem sentido” e “Super suco”, com uma estética ultranonsense, em 3D mal recortado, personagens e takes inesperados. E agora a faixa “Miragem” aparece com novíssimo vídeo codirigido por Luan de Azevedo.
O novo vídeo se assemelha mais à ideia de “Vida sem sentido”, dá para ver, por exemplo, que ele ama ficar sentado em arquibancadas. Se no começo de tudo, registros em VHS contavam sua história, Filipe, agora, tem paletas de cores bem definidas e trabalha ao lado de produtoras de vídeo locais.
Está cercado de profissionais que fazem acontecer toda a estética que Filipe pesquisa e tem em sua cabeça, tanto musicalmente quanto visualmente. Não à toa seu trabalho audiovisual está sendo bem reconhecido pelo Brasil. Dirigido por Francisco Franco, realizado pelo estúdio Inhamis e pela Old Man Filmes, “Vida sem sentido” ganhou a categoria “Clipe de revelação nacional” no Music Video Festival 2017, que aconteceu no MIS, em São Paulo.
Imagens inesperadas
Filipe gosta dos clipes para contar histórias para além das músicas, não que as imagens sejam leituras, pelo contrário, os takes são aleatórios, ele se preocupa com o valor estético daqueles planos e, claro, em propagar o som. Em cenas quentinhas de verão, com seu característico sorriso de diastema e muito humor, cria uma atmosfera de fantasia para o que canta e escreve: “o que eu tenho é uma casa fria/ onde o vento bate e faz estrago/ tanto faz se eu não deixar”.
Em “Miragem”, com pouco recurso e apenas uma câmera, ele buscou referências em vídeos de rap alternativo, como os do norte-americano Aminé. Cercado de amigos e companheiros de banda, muita coisa fluiu instintivamente. Espere imagens tão inesperadas quanto um cigarro sendo apagado em uma banana descascada, um vinho despejado da boca para o copo, Fred cantando enquanto morde um uma coxa de frango e Everton assoprando seu cigarro – certamente um Marlboro vermelho – travestido com bobes, batom vermelho e roupão de seda. Talvez ridicularize a ‘família tradicional e católica’ em uma cena de mesa de jantar que é preciso dar pause para rir. “Assisti a muitos vídeos e busquei uma história mais comédia, uma ideia mais leve que contrasta com a de ‘Vida sem sentido'”.
Filipe não para (ainda bem!)
Nos próximos meses, Filipe já lança single de verão, provável que seja um disco tropical, com mais cara do Rio que de Juiz de Fora e São Paulo. Natureza e calor, em arranjos que dão um climinha veranil e jovial. “São arranjos mais simples, músicas com menos artifícios”, conta Filipe, que com nova banda busca trabalhar bastante as apresentações ao vivo.
Além de Gabriel, é provável a colaboração de outros nomes da música nesse disco, como a Samira Winter, brasileira de Curitiba, que vive em Los Angeles com sua banda Winter, e já dividiu palco com Filipe Alvim em Juiz de Fora em abril deste ano. “Eu tive a ideia de uma letra para uma música e mandei para o Filipe. Uma ideia inicial, basicamente enquanto estava brincando na guitarra. E a ideia foi: ‘esse teu chiclete/ não tem mais gosto/ não tem mais rosa/ não tem estouro'”, cantou Samira, que vai gravar a voz nessa faixa do disco. Além disso, Samira retorna a Juiz de Fora no próximo mês com a banda Winter, que vem fazer uma turnê no Brasil.
Filipe Alvim
Com a banda Uivos. Nesta sexta-feira (3), às 23h, no Maquinaria (Rua São Mateus 552)