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Teatro Paschoal Carlos Magno recebe o espetáculo ‘Hair: A nova era de aquário’

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Musical aborda o movimento hippie e a luta da tribo contra o alistamento militar (Foto: Felipe Couri)
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Uma sirene. “É esse o sinal de que vocês precisam entrar.” Apesar de ser uma frase dita em um ensaio final para a apresentação de um musical, momento em que tudo se coloca em ordem para a grande noite, ela, por si só, já sintetiza o tom de “Hair: A nova era de aquário”, o musical apresentado, neste sábado (2) e domingo (3), às 20h, no Teatro Paschaol Carlos Magno. Em cena, os jovens juiz-foranos incorporam os hippies dos anos 1960: isso desde as roupas até a própria forma de se portar no palco. Nos olhos, a garra e a certeza de que é preciso estar em estado de alerta. Não há mais, é verdade, a Guerra do Vietnã, o motivo-primeiro para o surgimento dos hippies lá nos Estados Unidos. Mas há, ainda hoje, uma série de outras questões que apontam para um mesmo pedido, estampado já no palco: “Paz, amor e liberdade”.

“Hair: A nova era de aquário” é um musical produzido pelo Contempoul. Foram seis meses de uma imersão que envolve preparo físico e vocal, além de mais um tanto de coisas para fazer com que tudo, na hora, fique afinado. “Afinal de contas, o teatro musical precisa disso, desse preparo da dança, do canto e da interpretação”, enfatiza Andressa Zecchini, que adaptou o texto e é responsável pela concepção do espetáculo, ao lado de Ana Paula Neves, que assina, ainda, a coordenação e a direção-geral. Já com os figurinos e os adereços necessários para voltar alguns anos, é como se aqueles atores tivessem mesmo vivido os anos 1960. É, pois, um reconhecimento de uma luta parecida. “Não há mais a Guerra do Vietnã, mas um tipo de guerra ainda existe, e ela é de um outro tipo”, acredita Ana Paula.

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Escrito por James Rado e Gerome Ragni, “Hair” estreou em 1967. Com o assunto tão insurgente, a história mostrava, principalmente, a luta dos hippies contra o alistamento militar para o Vietnã. Ana Paula e Andressa dizem, então, que, na hora de trazer esse enredo para o Brasil, pensaram em deslocar a situação e pontuar as questões de uma maneira atual. “A gente trouxe alguns assuntos que estão em voga. E, por isso, não foi tão difícil realizar essa adaptação. A gente manteve as questões da liberdade e do amor. A gente coloca uma luz nesses assuntos que ainda rondam a realidade brasileira e afeta tanta gente”, diz Andressa. E Ana Paula completa: “Na verdade, é um pouco triste ver que, de lá para cá, pouca coisa mudou. Mas, ainda assim, a gente quis deixar o musical ainda mais politizado”.

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“Hair – a nova era de aquário” é a segunda montagem do Contempoul, e traz elenco todo juiz-forano (Foto: Felipe Couri)

O próprio cenário vai mostrando isso aos poucos. No canto, quatro bancos dispostos juntos formam o rosto de Marielle Franco, vereadora morta em 2018. Bem ao lado, esse mesmo conjunto forma o rosto do líder indígena Raoni Metuktire. Atrás, do outro lado, várias bandeiras sobre andaimes. São as bandeiras que representam as principais guerras contemporâneas. “Claro que fala de Nova Iorque, onde começou tudo. Mas a gente não quis deixar a marca da localidade e do tempo. É o antes, mas é o hoje também”, explica Andressa. “Esses detalhes são apresentados ao longo do espetáculo mesmo. Quem acompanha entende nossa mensagem”, afirma Ana Paula. Com cenas que abordam sexo e droga, o espetáculo torna qualquer assunto que possa parecer mais pesado uma viagem a muitos lugares que podem ser ali fora no teatro, em Juiz de Fora inteira, ou em qualquer outro país. São jovens que armam a revolução de si mesmos, que querem se livrar das amarras que os impedem de ser quem eles querem ser. E, por isso, entoam “Paz já, livre já”.

As músicas são as originais do musical americano e foram traduzidas para o português, a fim de cantar no mesmo tom das lutas do Brasil. Os treze personagens em cena cantam em uníssono, já no começo, e entoam que estão com “os olhos cheios de esperança”. Aos poucos, cada um vai se apresentando. O Berger (interpretado por Vinicius Peres) que já traz para o palco as questões de gênero e de identidade, além de, aos poucos, mostrar o desejo de boa parte dos personagens; o Claude (Pedro Araujo), que é quem guia o enredo, já que é ele quem foi convocado para a guerra, vive uma série de questões com os pais, que são conservadores, e é por ele que eles, nominalmente, lutam contra a convocação; a Sheila (Taís Alvim), a militante feminista que, em sua jaqueta jeans deixa claro pelo que deve lutar, ao mesmo tempo que vive uma decepção com Berger; Jeannie (Marina Gasparetto), gravidíssima, apaixonada por Claude, típica hippie; Dionne (Aline Crispin), a mulher-sol; Hud (César), o militante negro; Woof (Christopher), apaixonado em Mick Jagger; Margareth Mead (Vinícius Cristóvão) que sobe ao palco admirada com os hippies, e, ao final, declama frases pela liberdade de ser quem é; entre outros que fazem parte dessa tribo tão diversa.

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Teatro musical em Juiz de Fora

“Hair – A nova era de aquário” é o segundo musical apresentado pelo Contempoul, que foca na formação de atores para o teatro musical. De acordo com Ana Paula, desde o início, a ideia foi trazer a Juiz de Fora uma escola que tornasse esse tipo de espetáculo acessível na cidade, com o intuito de democratizar o acesso, tanto para quem quer estudar o gênero, quanto para quem quer assistir. São quase seis anos de atividade no município. No começo, eles apresentavam esquetes (peças de curta duração) como resultado dos meses de trabalho. Desde o ano passado, com “Godspell”, a proposta é, em cada ano, apresentar uma montagem com os alunos do curso.

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