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A história do samba em JF vai parar na web

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Paulinho-sempre-sereno-da-Viola rebate as intrigas em seus célebres versos de 1989: “Há muito tempo eu escuto esse papo furado dizendo que o samba acabou/ Só se foi quando o dia clareou”. Anos depois, Caetano Veloso, embora não seja sambista, respalda o amigo, cantando em 1993 que “O samba não vai morrer/ Veja, o dia ainda não raiou”. E no que depender da classe sambista local, a profetizada alvorada que sepultaria o gênero musical tão tradicionalmente brasileiro não chegará. Sintonizados com a evolução das tecnologias digitais e o consumo de conteúdo musical (não só propriamente as músicas) por plataformas de streaming, um “grande poder transformador”, como continuariam os versos de Caetano, sambistas de Juiz de Fora têm espraiado a arte para além das rodas (que seguem sendo realizadas e vão bem, obrigada!) e para a superfície das telas e o suporte dos fones. Dois exemplos – inclusive de parceiros musicais – estão em iniciativas de Carlos Fernando Cunha, que disponibilizou uma playlist no Spotify com sambas juiz-foranos de vários períodos – além de ter um canal no Youtube; e Roger Resende, que idealizou uma websérie com biografias de grandes sambistas de Juiz de Fora, mantendo viva e em circulação a história do gênero musical.

(Foto: Divulgação)

Para Roger, que mantém seus perfis em redes sociais como Instagram e Facebook movimentados com informações e com desdobramentos de seus trabalhos (além de ter a maior parte de seu trabalho disponível em plataformas de streaming), estar nos ambientes digitais permite que o samba dialogue de forma mais significativa com o público que os “habita”. “Além de criar conteúdos interessantes como forma de divulgar nosso trabalho de uma maneira geral, acho que formatos como a websérie são uma oportunidade importante de informar numa linguagem que dialoga com o usuário de tecnologia. É a galera que vai aos sambas, conhece as letras, mas não conhece o compositor, não conhece as origens… conhecer esse legado é muito importante e amplia a riqueza do samba, a experiência com a música”, opina Roger. “Trabalhamos com vídeos de cinco minutos, que é um tempo adequado para YouTube, Facebook, e Instagram, um tempo em que conseguimos informar e que o público está habituado”, completa.

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Já Carlos Fernando destaca que a migração para o meio digital é uma alternativa não apenas para o samba, mas para todos os gêneros musicais, em um contexto contemporâneo em que poucas pessoas adquirem mídia física para o consumo de música. “A realidade das plataformas digitais é muito concreta, poucos artistas hoje produzem mídia física ou, ao menos, sem pensar em uma presença digital. No caso específico do samba, essa revolução digital me remete a uma discussão que data de quando o samba começa a ser gravado, nas primeiras décadas do século XX. Até então, o samba acontecia nas rodas e quando eles começaram a ser gravados, a tocar nas rádios, questionou-se se isso não tiraria a experiência do samba de roda, da rua, da interação com o púbico, da vivência do samba”, destaca o músico. “Hoje percebemos que são duas experiências diferentes, ouvir o samba e estar numa roda, numa quadra, são vivências estéticas e musicais diferentes e que podem conviver harmonicamente”, destaca.

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A cidade e o samba através dos tempos

Na websérie “Samba na intimidade”, cujo primeiro episódio é divulgado exclusivamente pela Tribuna, Roger Resende passeia por diversos pontos da cidade e fala, em ordem cronológica, sobre grandes sambistas que ajudaram a fundar a tradição do samba na cidade. O roteiro, uma parceria de Roger com a GRRR Produções (de Celine Billard e Fred Fonseca), foi baseado no livro “O Samba de Juiz de Fora – Vinte Biografias” (Márcio Gomes, Daniel Defilippo e Luiz Felipe Gonçalves), financiado pela Lei Murilo Mendes. “Juiz de Fora teve a primeira e a segunda escola de samba de Minas Gerais, e antes disso já havia uma cena musical. Acho importante que as pessoas saibam disso. O nome da série é neste sentido, de criar uma intimidade com o samba e com a história da própria série”, explica Roger.

Entre os pontos escolhidos para a gravação, estão o Parque Halfeld, o Largo do Riachuelo, a Passarela da Praça da Estação, a Praça Ministrinho, entre outros. “Foi tudo feito nas ruas da cidade, algumas com ligação mais direta entre o sambista de que estávamos falando e outras com referências mais sutis. Mas a ideia também é dar a dimensão do patrimônio que existe em Juiz de Fora, como estes locais estão carregados de história”, explica Roger. A primeira temporada da série tratará de seis dos 20 sambistas biografados no livro em que se baseia. “Como tivemos que selecionar, optei, nesta primeira temporada, a falar dos que já não estão aqui, e os lugares dialogam com suas histórias de vida. O do Ministrinho foi, obviamente gravado na Praça Ministrinho; o do Alfredo Toschi, no Largo do Riachuelo, onde se instalou quando chegou a Juiz de Fora, fundando mais tarde a primeira escola de samba de Minas, a Turunas do Riachuelo”, detalha o sambista. Ainda nesta temporada, Roger fala sobre as trajetórias de Djalma de Carvalho, João Cardoso, Ernani Ciuffo, Biné e Ministrinho, nessa ordem. “Fazia sentido que os vídeos fossem lançados em ordem cronológica. E com isso a gente olha para o passado e compreende o presente, entende por que Juiz de Fora tem essa veia pulsante de samba. E também é um olhar para lugares tão importantes da cidade que andam abandonados, como o Largo do Riachuelo. Outro detalhe interessante é que a trilha sonora, além da música de cada um que canto no episódio, são apenas os sons da própria cidade”, destaca Roger.

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A estreia da série retraça a história de Alfredo Toschi, e a intenção é a de que, após exibidos os seis primeiros, outros seis sejam lançados entre novembro e dezembro, sempre neste sentido de explorar a cidade e desvendar suas histórias e os personagens do samba. “Até porque o samba é isso, é o que acontece no dia a dia, versa muito sobre o cotidiano”, pontua Roger. A série será lançada nas redes sociais de Roger Resende na segunda, dia 2, mas você confere aqui na Tribuna com exclusividade o primeiro episódio.

(Foto: Leonardo Costa)

Sambas na playlist

Quando pensou em montar no Spotify uma playlist somente com sambas de Juiz de Fora, Carlos Fernando Cunha sabia que não estava, como o próprio diz, “inventando a roda”. “Começou pelo fato de eu gostar de ouvir e procurar ainda mais. E vi que havia pouca coisa organizada, principalmente no que diz respeito aos sambas antigos da cidade. Então pensei em criar este espaço em que se pudesse experimentar o samba de Juiz de Fora, em diversas fases e sob diversos ângulos, em um lugar só. Assim surgiu a playlist, que hoje tem 63 músicas, são mais de quatro horas de samba juiz-forano com essa perspectiva de divulgá-lo não só na cidade, mas para o mundo, sem fronteiras”, diz o artistas.

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Segundo Carlos, as músicas selecionadas têm basicamente três “categorias”: sambas de compositores antigos regravados por músicos da atualidade; sambas contemporâneos e locais gravados nos últimos dez anos e sambas de artistas que não necessariamente são sambistas. “Assim temos gravações que fizemos por meio de um trabalho de pesquisa do Ponto do Samba, de artistas de hoje gravando Zezé do Pandeiro, Flavinho da Juventude, Cocada, artistas de outros tempos regravados por músicos de hoje. Mas também temos Sandra Portella, Alessandra Chrispin, Grupo Alquimia, músicas minhas, do Roger. E além disso sambas de artistas como Thiago Miranda, que não trabalha exclusivamente com este gênero, mas tem representatividade na cena local. Nessa também entra a Trupicada fazendo samba infantil, a Lúdica Música cantando samba…”, cita Carlos, dando apenas alguns exemplos. “Também procuramos contemplar artistas que se dedicam ao instrumental, como Caetano Brasil, Toninho Gomes, é uma lista bem diversificada e que é modificada de tempos em tempos, tiro uma música, acrescento outra, para manter esse frescor e essa diversidade”.

Na avaliação de Carlos Fernando, é fundamental que os artistas se familiarizem e tornem seu acervo disponível em plataformas de streaming, algo que ele julga necessário para divulgação dos trabalhos e para sobrevivência da arte. ” Além disso, é importante pensar no YouTube como ferramenta, acho essenciais hoje canais dos artistas e a elaboração de vídeos para unir a experiência visual à sonora.”

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