Um dos mais duradouros ícones da cultura pop e do orgulho nerd, “Star trek” estreou na televisão norte-americana no dia 8 de setembro de 1966. Desde então, foram mais de 700 episódios em cinco programas diferentes (a Série Original, “A Nova Geração”, “Deep Space Nine”, “Voyager” e “Enterprise”), 12 filmes e uma quantidade quase infinita de livros, entre outros produtos. Prestes a comemorar seus 50 anos de existência, a franquia espacial chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, quando estreia o 13º filme da série, “Star trek: Sem fronteiras”, o terceiro desde o reboot iniciado sob a tutela de J. J. Abrams em 2009.
Abrams, envolvido em vários outros projetos – entre eles a volta do concorrente “Star wars” – passou a direção para o taiwanês Justin Lin, da série “Velozes e furiosos” e fã declarado de “Star trek”. Contando com o reforço de Simon Pegg nos roteiros, ao lado de Doug Jung, “Sem fronteiras” é o longa que mais se aproxima do espírito da Série Clássica e também da Nova Geração, tanto em seus temas quanto na estrutura da história, sem deixar de caprichar nos efeitos especiais e entregar um filme leve, com muita ação e algum humor – bem ao feitio das plateias atuais, que estranhariam o ritmo mais cadenciado das produções anteriores para as telas grande e pequena, mas capaz de fazer surgir aquele sorriso nos rostos dos trekkers fiéis e nerds em geral.
Seguindo em frente
Ao contrário dos longas dirigidos por J. J. Abrams (“Star trek”, de 2009, e “Star trek: Além da escuridão”, de 2013), o filme de Justin Lin não precisa apresentar a “nova” tripulação da Enterprise ou apostar em um vilão clássico para contar sua história. “Sem fronteiras” vai além e move a franquia adiante, apostando no esquema que renderia um bom episódio duplo, por exemplo, de “A Nova Geração”, ao mesmo tempo em que se vale de questões que costumavam passar batidas. A tripulação da Enterprise está há quase três anos em sua missão no espaço – mais especificamente 966 dias -, e tanto tempo longe da Terra mostra seus efeitos: enquanto alguns casais se formam, outros são desfeitos, discussões acontecem, e há quem questione o que está fazendo da vida.
O capitão Kirk (Chris Pine), por exemplo, pensa se não é hora de largar o comando de uma nave espacial da Federação e optar por uma carreira mais tranquila de almirante; Spock (Zachary Quinto) está dividido entre seu amor por Uhura (Zoë Saldaña) e a necessidade de aumentar a população vulcana no universo, após o planeta ter sido destruído em “Star trek”.
É neste momento de cansaço e questionamento que a Enterprise, ao chegar a uma estação espacial gigantesca, precisa atender a um pedido de socorro e resgatar uma nave que estaria perdida em um planeta desconhecido. Não demora muito para descobrirem que o pedido de socorro é uma emboscada em que a espaçonave é atacada por um “enxame” de naves menores, o que força o capitão Kirk a determinar que todos os tripulantes abandonem a Enterprise, que é destruída de forma rápida e impiedosa, como nunca antes na história da franquia, capaz de apertar os corações dos fãs.
Os tripulantes que sobreviveram foram capturados, e os poucos que conseguiram escapar procuram encontrar uma forma de libertar seus companheiros, fugir do planeta e impedir os planos do vilão Krall (Idris Elba), que planeja destruir a estação espacial e, em seguida, toda a Federação de Planetas.
Elenco afiado, narrativa fluída
Ao final das duas horas de exibição, podemos afirmar que “Star trek: Sem fronteiras” é um triunfo nerd/trekker, em que os acertos sobrepujam com sobras os poucos deslizes. Da mesma forma que Justin Lin é um fã da franquia, Simon Pegg é o típico nerd enciclopédico, então não faltam referências e reverências a tudo que já foi feito com a franquia e diversos fan services, além das homenagens a Leonard Nimoy, o Sr. Spock da Série Clássica que morreu em 2015, e a Anton Yelchin, o alferes Chekov do reboot que morreu em um trágico acidente este ano.
Outro acerto do filme é buscar dar mais tempo em cena para os principais membros da tripulação, sem concentrar-se apenas na dobradinha Kik/Spock. A solução foi colocar os personagens em duplas ou pequenos grupos, o que permite uma maior participação, principalmente, de Karl Urban, que interpreta o Doutor “Bones” McCoy. E um dos temas mais caros à franquia desde o início – o respeito à diversidade – é representado pela revelação de que o Sr. Sulu (John Cho) é gay, com direito a marido e filha – o que não deixa de ser uma homenagem a George Takei, intérprete do personagem na Série Clássica e que assumiu sua homossexualidade na década passada.
Ainda que mereça todos os elogios, o longa tem ressalvas que não são difíceis de perceber. Assim como tantas produções dos últimos anos, não faltam momentos “Scooby Doo” no roteiro de “Sem fronteiras”, com os personagens praticamente tropeçando em coisas, elementos e pessoas vitais para a trama deslanchar. Algumas cenas de ação são confusas, e a motivação do vilão da história é mal explicada – na verdade, é essencialmente a mesma dos filmes anteriores: destruir a Federação Unida de Planetas. Um pouco de novidade faria bem.
Descontando-se os percalços, “Star trek: Sem fronteiras” vale o ingresso pelo clima de celebração aos 50 anos da série, o respeito à essência da franquia criada por Gene Rodenberry, o elenco entrosado, as homenagens a Spock e à tripulação original e, claro, a presença da Enterprise, a mais bela nave espacial já construída. Elementos essenciais, enfim, para um bom filme, e para que Jornada nas Estrelas mantenha sua vida longa e próspera.
STAR TREK: SEM FRONTEIRAS
UCI 4 (3D/dub): 13h50 e 19h. UCI 4 (3D): 16h25, 21h35 (todos os dias) e meia-noite (sexta-feira e sábado). Cinemais Alameda 4 (3D/dub): 14h20 e 19h20. Cinemais Alameda 4 (3D): 16h50 e 21h50. Cinemais Jardim Norte 3 (3D/dub): 14h20 e 19h20. Cinemais Jardim Norte 3 (3D): 16h50 e 21h50. Palace 1 (dub): 14h10, 16h40 e 19h10 (exceto segunda-feira). Palace 1: 21h40 (exceto segunda-feira). Santa Cruz 2 (dub): 18h30 e 21h
Classificação: 12 anos