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Versátil, inquieto e sempre surpreendente

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Ney Matogrosso ATENTO AOS SINAIS ®Marcos Hermes AGENCIA Lens 9
Com visual andrógino e sensual, Ney Matogrosso interpreta canções de novos e veteranos nomes da música brasileira (Foto: Marcos Hermes/Divulgação
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Vamos fazer assim, começando pelo básico. Ney Matogrosso se apresenta neste sábado, 1º, às 22h30, no Capitólio, com o show da turnê “Atento aos sinais”, que ele estreou no Cine-Theatro Central em fevereiro de 2013. Desde então, ele rodou o país e além das nossas fronteiras (Portugal, Uruguai e Argentina), totalizando mais de 200 apresentações antes de retornar à cidade em apresentação única.

O repertório, bem alterado desde o show de estreia, inclui músicas de integrantes veteranos e da nova geração da música brasileira, incluindo Paulinho da Viola (“Roendo as unhas”), Lenine e Arnaldo Antunes (“Rua da Passagem (Trânsito)”), Itamar Assumpção (“Noite torta”, “Fico louco”), Pedro Luís (“Incêndio”, da época em que fazia parte da extinta banda Urge), Vítor Pirralho (“Tupi Fusão”) e as bandas Zabomba (“Pronomes”) e Tono (“Samba do Blackberry”) entre outros. No palco, o cantor é acompanhado por Sacha Amback (teclados e responsável pela direção musical), Marcos Suzano e Felipe Roseno (percussão), Dunga (baixo), André Valle (guitarra), Aquiles Moraes (trompete) e Everson Moraes (trombone).

Agora vamos rasgar seda à vontade. A entrevista com Ney Matogrosso na última quinta-feira foi breve, mas daquelas que o repórter gostaria que se transformasse em um bate-papo que durasse horas. Afinal, raras são as ocasiões em que podemos conversar com um dos grandes nomes da MPB, do pop, até mesmo do rock, que ajudou a revolucionar nossa música nos anos 70 e que seguiu desde então entregando álbuns memoráveis, mostrando um artista versátil e inquieto em suas motivações artísticas. E que, ao mesmo tempo em que esbanja educação, simplicidade e simpatia, tem noção da sua importância enquanto artista mas sem jamais resvalar para a soberba, e que continua a não ter meias palavras para expressar suas convicções após mais de quatro décadas de carreira e próximo de chegar aos 75 anos de vida.

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Quanto à apresentação em Juiz de Fora, Ney acredita que o show que volta à cidade neste sábado está maduro, com um repertório bastante diferente e estabilizado. “É bom poder voltar agora, uma vez que tenho começado todas as minhas turnês mais recentes por Juiz de Fora, no Cine-Theatro Central. É sempre um teste muito interessante, pois me oferecem uma semana para ensaiar, fazer a luz, poder acertar todos os detalhes, sendo que os outros teatros das grandes cidades me dão apenas uma noite”, elogia. Além de um show “igual”, mas ao mesmo tempo diferente, o que alimenta a vontade do cantor de permanecer na estrada com um mesmo espetáculo por tanto tempo é saber que cada parada sempre terá algo de novo. “Cada dia é um público diferente, e isso muda tudo. O show é feito em função dele (o público), então os estímulos sempre são renovados.”

Mas os rostos diferentes em cidades diferentes são uma parte do que faz Ney Matogrosso continuar gravando e subindo aos palcos. O desejo de interpretar artistas tão diferentes em seus estilos de composição, letras, temas e gêneros diversos é fruto da inquietude artística que o acompanha desde o início da carreira. “Tenho sorte de não ser compositor, e sim intérprete. Isso me dá uma liberdade maior, porque posso procurar num raio muito amplo de compositores, de afinidades de pensamento. Posso intercalar coisas mais pop com a MPB. Gosto de brincar com essas coisas, ainda mais que temos uma música muito rica; então busco me apropriar de tudo, e gosto de ser assim”, afirma. “Quando gravo uma música eu canto por causa da letra, não por ser de alguém. Se acho que a composição de uma pessoa nova é compatível com a de uma pessoa mais antiga, não vejo porque não misturar, mas dentro de um projeto em que elas caibam”, acrescenta Ney ao explicar a diversidade do repertório da turnê atual. “Nós temos muitos trabalhos interessantes por aí, mas que as pessoas não procuram mesmo quando reclamam da falta de diversidade.”

Um artista consciente da sua importância

Os shows da atual turnê mostram um Ney Matogrosso que exibe o mesmo visual sensual e algo andrógino (que alguns definiriam como “exótico” ou “escandaloso”) dos anos 70 e 80, quando antecipou temas tão discutidos atualmente, como a questão de gênero e liberdade sexual. Quando questionado sobre sua contribuição para isso, a sinceridade dá o tom das palavras. “Acho que fui a primeira pessoa que abordou esse assunto em termos artísticos, mas não fiz isso pensando em nada. Era apenas a minha verdade, e subitamente me tornei uma pessoa pública que precisava se posicionar e que acreditava que tinha que falar a verdade. Não havia motivo para me esconder, inventar histórias ou lorotas. No início, acredito que tenha incomodado, mas hoje é diferente. As pessoas me elogiam, me tratam bem.”

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Ainda que os tempos sejam outros, o ranço conservador em termos de cultura, comportamento, escolha sexual e de gênero ainda permanece. Todo esse contexto, diz, deve ser encarado como algo que está em movimento constante. “Não podemos encarar como algo estático. Estamos chegando à etapa de entender os direitos individuais das pessoas, de não ter que ficar escondidas. Ao mesmo tempo, temos essas reações conservadoras, mas é bom saber de onde elas vêm. Ficando às claras, é ainda melhor”, acredita o cantor, que evita entrar na internet para não se aborrecer com posturas conservadoras e, principalmente, agressivas. “Todo mundo tem o direito de pensar o que pensa, mas são muito agressivos, radicais, prefiro não me envolver com isso. Uso a internet apenas como ferramenta prática para algumas coisas. Nem tenho Facebook, apenas o Instagram, porque gosto de fotos.”

Com visual andrógino e sensual, Ney Matogrosso interpreta canções de novos e veteranos nomes da música brasileira

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