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Bracher integra mostra internacional em homenagem a Brasília

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Congresso Nacional e Catedral de Brasília estão retratados nas duas obras de Carlos Bracher que passaram a integrar a exposição a partir da Inglaterra, e agora estão em Roma antes de chegar à capital federal em abril (Fotos: Reprodução)

O artista plástico Carlos Bracher tem uma ligação com Brasília que chega a ser afetiva, em especial por conta de sua arquitetura. Essa admiração chegou a render uma série, que leva o nome da capital federal, que rendeu 66 quadros entre 2006 e 2007, mais um livro que ultrapassava as 200 páginas e um vídeo, “Âncoras aos céus”. Mais de uma década depois, parte desse trabalho é revisitado com o convite ao pintor juiz-forano para participar da exposição “Brasília – Da utopia à capital”, que tem curadoria de Danielle Athayde, à frente da empresa Artetude Cultural. A mostra celebra os 60 anos de fundação da cidade, ocorrida em 21 de abril de 1960, e já passou por dez países. Atualmente, encontra-se em Roma, na Itália, onde permanece até a próxima sexta-feira (6).
Bracher foi convidado para integrar a exposição, que conta com centenas de itens entre fotografias, documentos, esculturas, maquetes e projetos originais da construção da cidade, entre outros, a partir da Inglaterra, no segundo semestre do ano passado. Antes, a mostra já havia passado pela Espanha, Portugal, Argentina, Chile, Índia, França, Alemanha e Rússia, com um público estimado pela organização de mais de 300 mil pessoas. A próxima parada será justamente a capital federal, entre 7 e 30 de abril.
Para “Brasília – Da utopia à capital”, Carlos Bracher escolheu os quadros que retratam o Congresso Nacional e a Catedral de Brasília, dois dos projetos criados por Oscar Niemeyer. “São dois quadros de 2m por 1,20m, de quando fiquei mais de seis meses pintando em Brasília”, explica. “Escolhi essas duas porque são muito representativas da arquitetura da cidade. O Congresso Nacional é lindo plasticamente, com aquelas duas cúpulas, uma para baixo e a outra para cima, representando o Senado e a Câmara, é uma solução maravilhosa. E Brasília tem céus maravilhosos, muito amplos, coloridos, de cores intensas, que eu representei nesse quadro.”
“O outro quadro retrata o interior da catedral, uma das obras-primas do Niemeyer. É um templo para você ver o céu, as nuvens, as variações nebulosas. Se você estiver rezando ali, você estará diante do céu, ele deixou aberto para a pessoa ter esse contato. É uma obra que propõe abrir o olhar para o infinito”, filosofa o artista. “São a cultura e a arte que nos fazem alumbrar aos aspectos divinos. É o patrimônio que vamos erguer para sempre, seja literatura, música, poesia. Nós só chegaremos às estrelas pelas sensações sensíveis.”
Ainda de acordo com Carlos Bracher, os responsáveis pela curadoria já conheciam a série “Brasília” e fizeram o convite, solicitando dois dos quadros à escolha do pintor. “Fiquei muito feliz por poder participar, pois adoro Brasília. É uma cidade feita de sonhos e utopias, em especial do Juscelino Kubitschek, que era um sonhador, queria levar a capital para o interior e assim ser a capital de todo o país, não só do litoral. Ele queria interiorizar o país, e hoje você vê a riqueza que tem vindo do Centro-Oeste, a proximidade com a Amazônia, do solo brasileiro, das interfaces do país. Foi justamente em homenagem a esse sonho que fiz a série. E é uma alegria e uma honra muito grandes participar de uma exposição internacional que relembra JK, Niemeyer, Lúcio Costa. Isso vale uma vida, enche a alma íntima, interior, de alegria.”

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Obras de Bracher e outras peças da mostra “Brasília – Da utopia à capital”, expostas na Galleria Candido Portinari, no Palazzo Pamphilj, em Roma (Foto: Divulgação)

Pintando personalidades

A participação do juiz-forano, porém, não deve se limitar aos dois quadros. Ele deve viajar para a Itália ainda esta semana, para mostrar uma de suas características mais marcantes: a criação, ao vivo e com plateia, de uma pintura que retrate uma personalidade de destaque, geralmente do meio artístico. A organização negocia com a atriz Sophia Loren e o compositor e maestro Ennio Morricone para que um deles seja a personalidade retratada por Carlos na Itália. “Ainda não sei o dia certo em que irei, mas estou com um pé nos céus, por enquanto”, diz o artista, apesar do temor pelo surto de coronavírus, o Covid-19, que tem se espalhado pelo país europeu. “O coronavírus é um problema complicado, mas por enquanto está tudo de pé para irmos. Acho que ele não vai nos derrubar. Fica sempre um temorzinho, você fica com o pé atrás, mas não estou intimidado.”

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A série ao vivo deveria ter começado na Inglaterra com o Paul McCartney, porém não foi possível porque o ex-Beatle teve outros compromissos no exterior. “Mas já está confirmado que realizaremos em outra data a combinar, na casa dele”, adianta Bracher, que acrescenta que essa ação foi sugerida pelos organizadores, mas não é novidade para ele. “Eu fiz uma grande exposição entre 2004 e 2005 nos CCBBs (Centro Cultural Banco do Brasil) do Rio de Janeiro, São Paulo, Brasília e Belo Horizonte, que foi vista por 455 mil pessoas, e um destaque dessa exposição foram as pinturas ao vivo, com plateia, sempre com uma figura importante. Foi o Lô Borges em Belo Horizonte, João Cândido Portinari no Rio, Júlio Medaglia em São Paulo e Vladimir Carvalho em Brasília. Além do convite para participar com os quadros, eles propuseram que eu repetisse a experiência. É o que fiz com nomes como Chico Buarque, Maria Bethânia, Jorge Amado, Oscar Niemeyer, Milton Nascimento, Bibi Ferreira, Henry Kissinger e Tony Bennett, entre tantos outros. É algo que faço ao vivo, com a emoção do momento, sem pensar. É num tiro só. Mas com o artista é assim: ele vive de uma vibração poética, de onde vai colher sua grandes odes.”

Carlos Bracher tem relação especial com a capital Brasília, que foi tema de uma série com mais de 60 quadros na década passada (Foto: Reprodução)

Um sonho transformado em concreto, ferro e pessoas

“Brasília – Da utopia à capital” aproveita os 60 anos da inauguração da cidade, que substituiu o Rio de Janeiro como capital do país, para recontar a trajetória da concentração urbana construída em tempo recorde, três anos e dez meses (ou exatos 1.256 dias, se preferir), durante o governo do então presidente Juscelino Kubitschek. Era uma ideia que surgiu quando o Brasil ainda era colônia de Portugal, em 1751, quando o Marquês de Pombal sugeriu transferir a capital – na época em Salvador – para algum ponto do interior das terras então controladas pela potência colonial, mas que se tornou realidade há quase seis décadas.

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A exposição relembra cronologicamente os passos para a criação de Brasília, além de sua importância política, cultural, social, geopolítica, histórica e arquitetônica – a capital federal recebeu o título de Patrimônio Cultural Mundial da Unesco em 1987, 27 anos depois de sua fundação. Nomes como o do próprio JK, do urbanista Lúcio Costa, do arquiteto Oscar Niemeyer, o artista plástico Roberto Burle Marx e artistas como Athos Bulcão, Mariane Peretti, Bruno Giorgi e Alfredo Cesquiatti também ganham destaque.

No total, a exposição conta com pouco mais de 300 itens, incluindo o projeto de planejamento urbano de Lúcio Costa, as obras de Niemeyer, fotografias de Peter Scheier, Jesco Puttkamer, Marcel Gautherot, Jean Manzon, Mário Fontenelle e Fabio Colombini. Também podem ser conferidos desenhos, gravuras, esculturas, pinturas e artefatos criados nas últimas décadas com inspiração em Brasília. Além de Carlos Bracher, outros artistas que também participam da exposição em Roma São Alex Flemming e Naura Timm.

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